No último, domingo, dia 28 de janeiro de 2024, ao chegar da casa dos meus pais, um casal de 87 e 85 anos, após mais um daqueles chamados de urgência, para socorrer uma necessidade, resolvi tocar nesse importante assunto novamente, a inversão da dependência financeira e a importância da previdência complementar, e não se trata apenas, necessariamente, dos produtos de previdência privada, mas sim do conceito previdência, “faculdade ou ação de prever, precaução, cautela”.
No caso específico dos meus pais eu tenho a clara convicção de que eles não têm nenhuma culpa em hoje estarem dependendo do auxílio dos filhos, uma vez que ambos são frutos de famílias simples e que durante toda à vida laborativa batalharam para cuidar de seus quatro filhos e viveram em um país de hiperinflação e sem nenhuma cultura de poupança.
Enfrentaram ainda, como todos os brasileiros da mesma geração, a mudança demográfica, a maior expectativa de vida da população.
Como bem diz o Dr. Alexandre Kalache, a maior referência nacional em envelhecimento e qualidade de vida, pioneiro no estudo das questões do envelhecimento, “o aposentado no Brasil se preparava para correr uma corrida de 100 metros, com a mudança demográfica ele passou a correr uma maratona”, e todos sabemos que a preparação para uma corrida de 100 metros é muito diferente da preparação para correr uma maratona, que requer maior preparo físico, no caso reservas financeiras, e maior resiliência (no caso, saúde).
Hoje, porém, nós da sociedade economicamente ativa, que produzimos receitas, riquezas, que, com o fruto do nosso trabalho, alcançamos determinado padrão de vida, que vivemos em uma economia até certo ponto estável, um país no qual, felizmente conseguimos prever e planejar um futuro de curto e até médio prazo, embora vivamos em constante instabilidade política, independente de quem esteja no poder, partido ou político, mas não vou me arriscar a entrar nesse assunto, temos o conhecimento claro de que nosso futuro depende exclusivamente de nossas ações no presente, seja nossa saúde física, mental ou financeira, claro que cientes de que imprevistos podem acontecer, e para tanto devemos nos prevenir, também, contra a possibilidade da ocorrência desses riscos.
Portanto, como disse Peter Drucker, professor, consultor e escritor de origem austríaca, “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, e a decisão de que no futuro iremos ter uma dignidade financeira na aposentadoria é exclusivamente nossa.
Alguns leitores podem contextualizar,em um país de tamanha desigualdade social, no qual a imensa maioria da população vive com uma renda próxima a um salário mínimo, esse “lunático” está falando em poupar, investir, acumular reservas?
Entendo perfeitamente essa situação, e é claro que não estou falando de acúmulo de riquezas visando viver melhor na aposentadoria, mas sim “manter o padrão de vida e a dignidade financeira”, quem vive no padrão de vida de 1 a 3 salários mínimos eu acredito que, mesmo com o passar dos anos, com o aumento do déficit da previdência social, com a acelerada mudança demográfica, terá a sua renda garantida pela previdência social, e que reforça a necessidade de entendermos melhor os objetivos e os benefícios da previdência social, a importância e a obrigatoriedade de que todos que produzam renda no país façam as suas contribuições e sobre os valores corretos.
“Criar o seu próprio futuro” é ser previdente, ter uma previdência complementar, visando formar uma reserva, poupando parte do que se produz hoje, para utilizar no futuro, nada mais do que isso, não importa o mecanismo que você escolha para formar essa reserva, investir esses recursos, o ideal é que seja uma opção adequada ao perfil do seu objetivo, nesse caso é um objetivo de um prazo mais longo, ou deveria ser, já que é importante começar o mais cedo possível, portanto deve estar na “caixinha da dignidade financeira”, como bem diz meu grande amigo, corretor e planejador financeiro, um dos maiores do país, Ricardo Tarantello.
Essa atitude é fundamental para que no futuro você não passe pela tão dolorosa “inversão da dependência financeira”, como gosto de chamar o fato de que os pais, que hoje são os responsáveis financeiros pela família, pelos filhos, passem, no futuro, a ser dependentes financeiros dos mesmos, percam a autoestima e a dignidade financeira, como acontece hoje com mais de 46% dos aposentados no Brasil.
Resolvi escrever, novamente, sobre o tema hoje, um domingo, pela dor e angústia de ver nos olhos dos meus pais essa perda de autoestima e da dignidade financeira, um casal que educou e cuidou de seus quatro filhos e que não tiveram a oportunidade, assim como nós temos, de serem prudentes consigo mesmo.
Forte Abraço!
Rogério Araújo