Segundo informações divulgadas pelo portal Terra nesta segunda-feira, 23, um torcedor do River Plate confessou publicamente que fraudou seu seguro ao incendiar o próprio carro para conseguir o dinheiro da indenização e ir com seu filho acompanhar o time argentino no Mundial de Clubes. Durante entrevista ao programa de futebol “El Chiringuito”, ele afirmou ter recebido uma indenização de 10 mil dólares, cerca de R$ 55 mil na cotação atual, após acionar o seguro do veículo.
“Ser do River significa dar a vida. Deixamos tudo pelas cores do clube. Eu venho de Mendoza (cidade da Argentina). Tive que vender meu carro para poder pagar os ingressos, para ter condições de pagar as passagens de avião. Me deram 10 mil dólares pelo meu carro”, admitiu o torcedor do River Plate.
Na entrevista ele revelou o método que utilizou para garantir os recursos. “Sim, eu queimei o carro para cobrar o seguro e foi assim que vim para cá. Com esse dinheiro pagamos tudo, eu vim com o meu filho.”, contou.
A atitude, embora expressada como uma demonstração de paixão pelo clube, levanta sérias questões legais e éticas no mercado de seguros. Para o presidente do Sincor-PE, Carlos Valle, esse tipo de comportamento, caso ocorresse no Brasil, seria enquadrado como crime, além de configurar falsa comunicação de crime.
“De acordo com as leis brasileiras ele teria cometido alguns crimes, o estelionato e fraude contra o seguro, nesse caso ele inventou um sinistro, que é provocar intencionalmente um dano que seria coberto pela apólice.”, disse Valle.
O especialista lembra que o funcionamento do seguro depende da existência de risco real e não de danos premeditados. “Para existir o seguro tem que existir a possibilidade mas que seja possível, não certa. Não sei se ele fez o seguro já com essa intenção ou se já tinha o seguro e aproveitou esse momento essa triste ideia de fazer esse ato doloso.”
Prejuízo coletivo
Além dos impactos legais, Carlos Valle destaca que fraudes como essa geram reflexos para todo o mercado e penalizam inclusive quem age corretamente. “Quem paga a conta somos nós porque a sinistralidade aumenta e não tem outro jeito, as seguradoras reformulam seus preços de acordo com a sinistralidade e esse custo da fraude vai ser diluído nas apólices penalizando todo mundo. Também cria um prejuízo nessa questão técnica das seguradoras que precisam ter que proporcionar valores maiores para fraudes potenciais, isso tem que ser considerado.”, explicou.
Para Valle, atitudes como a do torcedor argentino contribuem diretamente para alimentar a desconfiança sobre o setor de seguros. “Reforça situações negativas como a ideia de que o mercado é difícil de confiar, que ‘todo sinistro é suspeito’. Isso termina levando a uma mudança de hábito e de atenção para verificar se houve realmente, se aquilo é verdadeiro.”.
O presidente do Sincor-PE também ressaltou o papel indispensável dos corretores de seguros nesse contexto, destacando a importância de uma comunicação clara e honesta com os clientes, para evitar que comportamentos ilícitos sejam vistos como alternativas viáveis. “Nós temos que agir honestamente, mostrando ao segurado os riscos que correm caso seja prestada uma falsa informação, seja feito qualquer coisa que modifique a questão de previsibilidade.”, reforçou.
Segundo Valle, um ambiente mais ético, com menos fraudes e sinistros forjados, gera benefícios para todos os envolvidos, inclusive em relação ao preço das apólices. “E quando a gente sabe que isso não existe, aí o preço baixa, porque a gente já sabe. Sabe que o risco vai ser menor, porque para existir um seguro, se o risco fosse certo, a seguradora não ia fazer.”.
