Notícias | 17 de fevereiro de 2004 | Fonte: Jornal do Commercio

Idade encarece a Previdência

A decisão de investir em um plano de previdência exige disciplina, porque os depósitos mensais podem ser representativos, dependendo da idade em que ocorra a adesão dos investidores. Para quem está na faixa dos 40 anos e quer ter uma renda aos 65 anos, pode significar um desembolso médio ede R$ 600? o equivalente a US$ 206,54 – para dispor de uma renda vitálicia na casa de R$ 2 mil (US$ 688,46 pelo câmbio da última sexta-feira. Mas ano a ano, um número crescente de pessoas engrossa as fileiras de futuros segurados da previdência privada. No ano passado, o mercado computou a existência de 6,2 milhões de planos ativos e uma bolada de R$ 48,5 bilhões aplicados em ativos financeiros para arcar com os benefícios nas próximas décadas.

A marcha de expansão deste mercado prossegue e, à primeira vista, parece sem fim. Apenas este ano, a captação líquida de novos planos de previdência alcançou R$ 1,250 bilhão, de acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Apesar do ofício, o de consultora de previdência privada, Silvania Pereira da Silva só há um ano e meio fez sua adesão a um plano de benefício, depois de convencer-se de que o investimento é de fato o melhor de longo prazo. Para corrigir-se do cochilo, adquiriu também um plano previdenciário para o filho, hoje com três anos. Paga R$ 200 em contribuição mensal e outros R$ 50 para o filho, cujo plano foi contratado à época em que o piso das mensalidades ainda não era de R$ 100.

Se suas projeções estiverem corretas, vai passar a embolsar algo entre R$ 3 mil a R$ 4 mil quando tiver 65 anos, e o filho, sem contar o repasse dos excedentes financeiros da carteira de investimento, terá uma renda vitalícia de pelo menos R$ 5 mil, quando estiver aposentado.

Moral da história: as pessoas interessadas em adquirir planos de previdência privada aberta devem correr contra o tempo, porque a demora na decisão de investir custa cada vez mais caro e pode, a certa altura, tornar inviável a adesão, dado o valor expressivo das contribuições mensais.

De quebra, mães zelosas como Silvania precisam ser informadas de que o gradual crescimento da expectativa de vida no País deve resultar em modificações das tábuas atuariais usadas no cálculo do benefício nas próximas décadas. Hoje, o mercado ainda utiliza a tábua AT 2000, que prevê uma sobrevida de 63 anos para os homens e de 71 anos para as mulheres.

Mas as gerações nascidas entre os anos 80 e 96 já têm uma expectativa acima disso. E quem nasce neste século poderá viver 100 anos. Na prática, isso significa que a renda vitalícia terá de ser ajustada no futuro, para baixo, adequando-se à longevidade prevista para os brasileiros.

A designer Maria de Lourdes Oliveira Nahnias tem um plano de previdência há seis anos, desembolsa atualmente R$ 600 a título de contribuição e mira uma renda vitalícia próxima de R$ 2 mil daqui a 13 anos. Com contribuições iniciadas aos 41 anos? hoje ela tem 47?, Maria de Lourdes reconhece que um plano de previdência privada é a única salvaguarda para manter o padrão de renda quando sair do mercado de trabalho. ?Minha expectativa é de que passe a receber o triplo do valor das contribuições mensais e não há outro caminho para quem pretende ter um padrão de renda razoável para prover as necessidades da terceira idade?, comenta ela, que contribui para um PGBL administrado pela SulAmérica.

Cuidados na hora de escolher o plano de previdência Se é preciso ter pressa na adesão, é também necessário ter cuidados na escolha do plano de previdência, assinala Silvania. Isso porque as taxas de administração cobradas? em média de 2,5% a 3%?, mais a política de distribuição dos excedentes financeiros, podem fazer diferença na renda a ser auferida, explica ela. Hoje, ainda são poucas as empresas de previdência que repassam 100% do excedente financeiro gerado pela carteira de investimento aos titulares de planos de benefício, avisa.

De qualquer forma, a compra de coberturas é uma demonstração de que boa parte das pessoas, em vez de tentar a sorte de administrar o próprio portfolio de aplicações para a velhice, prefere entregar a tarefa a gestores especializados, seguindo um modelo bem-sucedido no planeta. Até porque os planos de previdência existentes no mercado hoje podem reproduzir à risca a carteira de investimento dos demais fundos, com a vantagem adicional de não sofrer tributação sobre o ganho de capital e poder deduzir as contribuições pagas no ano do Imposto de Renda? o teto é de 12% sobre a renda bruta anual declarada, no caso do PBGLs, cuja taxação de IR é feita na saída, ou seja, quando começam os saques, se ultrapassarem as faixas de isenção.

A rigor, o valor da renda vitalícia a ser auferida pelo contribuinte de planos de previdência, como o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), só será conhecido na data de recebimento dos benefícios. Mas é possível fazer uma estimativa da renda futura, com base na idade atual, tempo e valor da contribuição.

Uma boa idéia decomo a perspectiva do tempo é uma variável importante é mostrada pelo superintendente de Produtos de Previdência da SulAmérica, Nélson Adriano Brazys. No caso de trabalhadores que estarão passando para a inatividade aos 65 anos e planejam ter um benefício de R$ 2 mil de renda, tomando como parâmetro a atual tábua de mortalidade, a AT 2000, os desembolsos vão diferir conforme a idade do contribuinte e podem ter uma variação de mais de 1.500%. Todos terão de acumular cerca de quase meio milhão para auferir a renda vitalícia mensal na casa de R$ 2 mil.

Projetando uma rentabilidade anual conservadora, de 8% da carteira de investimento, um contribuinte que fizer sua adesão ao plano de previdência aos 25 anos pagará R$ 155 por mês, ao passo que outro de 55 anos terá desembolsar R$ 2,720 mil para ter a cobertura, ?porque, nesse caso, seu prazo para fazer as contribuições é muito menor?, considerando-se ainda os 65 anos como idade limite para a aposentadoria, explica Brazys.

Um trabalhador de 35 anos terá de repassar R$ 347 por mês para fazer jus a uma renda vitalícia de R$ 2 mil, e outro de 45 anos pagará mais que o dobro, R$ 861, pelo mesmo benefício.

Investimento pode incluir benefícios adicionais Um dos clientes de Silvania, na faixa de 49 anos, destina R$ 377 por mês do seu orçamento para poder receber R$ 596,95 de aposentadoria complementar dentro de 15 anos e dois meses. Seu plano inclui coberturas de riscos, como invalidez e benefício à esposa, pelas quais ele paga um adicional de R$ 77. Sem as coberturas de risco, o valor da contribuição seria de R$ 300. Um outro cliente da consultora, de 27 anos, fez a adesão há pouco e acena com um valor de benefício de R$ 8 mil mensais, apesar de desembolsar os mesmos R$ 300. Seu propósito é se aposentar aos 65 anos.

Especialistas advertem, contudo, que as simulações disponíveis nos sites não podem ser tomadas ao pé da letra como rentabilidade futura certa. Um graduado executivo do setor reconhece que as aplicações a longo prazo podem apresentar distorções, dadas as muitas variáveis macroeconômicas, e frustrar ou não os investidores.

Uma boa idéia disso pode ser constatada nas dez categorias de fundos previdenciários da Associação Nacional dos Bancos de Investimento. Até o último dia 2, a rentabilidade acumulada nos últimos 360 dias variava de -15,11%, no caso dos fundos referenciados ao câmbio, ao teto de 30,15%, para os fundos de previdência que tem presença de renda variável.

O mau andamento do fundo de previdência atrelado ao câmbio tem a ver com a queda do dólar no ano passado, ao passo que o sentido inverso do outro aproveitou-se, parcialmente, da firme valorização apresentada pela Bolsa de Valores em 2003.

A incerteza também pode dar boas surpresas. Os oito mil portadores de fundos PGBL compostos da Icatu Hartford obtiveram uma rentabilidade de 254,8% nos últimos cinco anos. No período, a variação do IGP-M foi de 98,37% e o da caderneta de poupança, 60%. O diretor-financeiro da Icatu, Luciano Snel, explica que o resultado deve-se a uma estratégia de investimento que busca uma performance constante, o que produz uma rentabilidade acumulada expressiva a longo prazo. No caso, parte do sucesso da Icatu deve-se ao fato de uma parcela dos recursos ser aplicada em ações

Setor mostrou crescimento de 53,56% em 2003 No ano passado, foram contabilizados 6,2 milhões de planos, dos quais 1 milhão subscritos apenas em 2003. Em conseqüência disso, as receitas administradas pelas empresas de previdência privada aberta saltaram para R$ 14,86 bilhões, expansão de 53,56%, e a carteira de investimento do setor atingiu R$ 48,5 bilhões, avanço de 52,75% sobre 2002, segundo dados da Associação Nacional de Previdência Privada (Anapp). Só as captações de previdência privada realizadas este ano, de acordo com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento, somam R$ 1,045 bilhão. ?Em geral, as adesões são mais firmes entre dezembro e janeiro?, confirma Brazys.

Muitos fatores têm contribuído para o crescimento significativo dos planos de previdência. Especialistas enumeram a crise cíclica da Previdência pública, cujos tetos, historicamente, são insuficientes para atender a faixas de renda de um certo número de trabalhadores, quando de sua migração para a inatividade; a flexibilidade das cláusulas dos produtos; leis mais abrangentes em termos de proteção dos futuros segurados; a facilidade de contratação (há algum tempo possível até pela internet); e um número crescente de operadores de planos.

Outro fator que vem aumentando o intersse é a reforma da previdência feita pelo Governo. O abatimento do Imposto de Renda é outro fator.

Hoje,um grupo de dez empresas responde por quase a totalidade do market share de previdência privada. Segundo dados da Anapp, a liderança está a cargo da Bradesco Vida e Previdência, com 38% do mercado; seguida pela Itaú, com 16%; BrasilPrev, com 10%; Unibanco AIG, 8%; Santander, 5%; Caixa Vida e Previdência, 5%; Real Previdência,4%. E ainda: HSBC Seguros, 3%; Icatu Hartford, 2%; e Capemi,2%.

Os demais players respondem, em conjunto, por 7% do mercado. A grande maioria dos usuários de planos de previdência é adulta. Hoje, 77% dos planos individuais são adquiridos por adultos, 20% são da categoria empresariais, e apenas 3% são constituídos em nome de menores de idade.

Cuidado com a taxa de administração O investidor de planos de aposentadoria precisa solicitar ao seu corretor informações sobre todos os carregamentos cobrados pelas empresas de previdência privada aberta, porque estes custos podem fazer diferença, para mais ou para menos, na acumulação das reservas financeiras.

A taxa de administração, que varia de 2% a 4% no mercado, e a definição da política de distribuição do excedente financeiro são dois dos mais importantes custos. A taxa, descontada da contribuição mensal, faz que sejam menores os recursos líquidos a serem aplicados no mercado financeiro. A incorporação do excedente financeiro, parcial ou plena, pode reduzir ou elevar, nessa ordem, o benefício a ser pago quando da aposentadoria. A maioria das empresas de previdência não repassa o excedente financeiro integralmente.

Não confie cegamente nas projeções feitas a partir de sites das empresas de previdência, porque não há certeza de que estas estimativas de rendimento vão se confirmar. Especialistas admitem que podem ocorrer distorções entre as estimativas e a renda efetiva auferida ao término das contribuições, dadas as variáveis macroeconômicas. A única certeza é de que quanto maior a acumulação feita no decorrer dos anos maior será o rendimento.

Além da previdência privada, o aplicador deve, segundo os analistas de mercado, fazer outros investimentos. O ideal, conforme opinião quase generalizada dos profissionais, é dar preferência aos ativos que podem ser sacados imediatamente, com liquidez garantida.

Tal fato evita com que o dono de uma previdência privada seja obrigado a sacar o dinheiro e jogue por terra todo o investimento planejado durante anos.

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