Notícias | 6 de julho de 2004 | Fonte: Valor Econômico

Perito usa tecnologia para detectar ‘sinistro irregular’

A rotina de trabalho de Leandro Peluchi, perito sênior da área de seguros da Mapfre, começa todos os dias às 8h. Munido de notebook, máquina fotográfica digital e impressora portátil, o engenheiro mecânico de 28 anos, formado pela Universidade Paulista (Unip), começa a percorrer o seu roteiro pelas oficinas mecânicas da cidade, para examinar os carros acidentados, conferir placa e número do chassis e verificar os danos do veículo. Ele precisa averiguar se as informações transmitidas pelo segurado condizem com os estragos do veículo. Conversa com o mecânico, bate fotos e entra com todos os dados no notebook. O software do computador informa o preço das peças a serem trocadas e o tempo de mão-de-obra necessário para a execução do serviço.

Se tudo estiver certo, a aprovação do serviço é feita em minutos. Todos os dados, e também as fotos, são enviados para a seguradora por linha discada. Algumas vezes, são detectadas tentativas de fraudes e o processo de aprovação se torna um pouco mais complicado. “Esses casos ocorrem, mas tenho a impressão de que o mercado está se moralizando ano a ano”, avalia Peluchi.

O otimismo de Peluchi não é apoiado pelas estatísticas do mercado segurador. Para cada quatro sinistros registrados, um apresenta alguma irregularidade. A diferença é que agora é cada vez mais difícil o fraudador se sair bem e o chamado “sinistro irregular” ser aprovado. “Muitos procedimentos técnicos adotados atualmente evitam esse tipo de ocorrência”, explica Rogério Esteves Alves, gerente operacional de sinistros de automóveis da Mapfre Seguros. O principal filtro para a fraude é o trabalho do perito.

Cabe a ele detectar incorreções no orçamento, avaliar a natureza e a força dos impactos, investigar se os danos causados por uma colisão estão coerentes na reconstituição do acidente. O uso do medidor de camada de pintura, por exemplo, pode revelar se a pintura de um veículo envolvido em acidente é original ou não. Irregularidades podem ser descobertas também com uma simples fita métrica, comparando-se o ponto de impacto com uma minuciosa tabela descritiva da altura de pára-choques de veículos existentes no mercado.

O perito também dispõe de recursos mais elaborados, como o programa Reconstituição de Acidentes de Trânsito (RAT). O software permite chegar muito perto do que realmente acontece após uma colisão entre dois carros em velocidade. Esse tipo de programa faz, em minutos, cálculos vetoriais complexos que levariam horas para serem realizados “no braço”. No passado, alguns profissionais do setor ganharam a fama de “sherlocks” ao conseguirem desmascarar uma tentativa de receber o seguro em um acidente fictício. Mas esse lado romântico não faz mais parte do dia-a-dia do perito. “O papel desse profissional mudou muito na última década”, avalia Alcides Ferrari Neto, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações de Perícias (Ibape). “Hoje, ele precisa estar cada vez mais habilitado, agregando conhecimentos de eletromecânica, informática e de legislação.” O trabalho do perito se tornou, dessa forma, imprescindível para o relacionamento rápido e eficaz entre a seguradora e as mecânicas.

O perito passou a ser mais exigido na sua formação. Atuando em empresas seguradoras e reguladoras, ele aglutina, muitas vezes, as funções de vistoriador, inspetor e perito propriamente dito. Sua especialização ficou muito mais cara, assim como o equipamento necessário para realizar o trabalho. “Cinco anos atrás, a empresa gastava cerca de R$ 300,00 para equipar um perito”, conta José Roberto Macea, presidente da reguladora de sinistros Jopema. “Hoje, o investimento fica na casa dos R$ 10 mil.”

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