Entusiasta da inovação tecnológica voltada para a transformação digital e o desenvolvimento de negócios, e uma referência nessa atividade, Marcelo Picolo, diretor executivo da Solera, compartilhou com o CQCS detalhes sobre sua trajetória de carreira e os propósitos que o motivam na vida profissional. Também abordou o que vê de perspectivas para o futuro dos mercados de seguros e de reparação de veículos, além dos planos da empresa para os próximos seis meses.
O que o inspirou a vir para a Solera Brasil?
Algo que tem muito a ver com uma das minhas paixões e interesses. Já muito jovem, na época em que lançaram o primeiro PC IBM, no início dos anos 80, comprei meu primeiro computador: um TI-99/4A. Para se ter uma ideia da minha paixão precoce por tecnologia, na época programei sozinho um game Pac-Man em Basic, sem que ninguém me orientasse. Essa paixão só aumentou com o advento da internet e o universo de possibilidades que a rede promove, e agora com a inteligência artificial. Então, desde 1995, comecei uma trajetória de carreira sempre ligada à tecnologia – primeiro associada a telecomunicações e depois a enterprise software. Sempre busquei também posições em que tivesse a chance de inovar.
Mas foi na Solera, onde estou há sete anos, que pude reunir essa paixão pela tecnologia com meu interesse pelo desenvolvimento de negócios corporativos. O desafio de acelerar inovação tecnológica para o setor de seguros e o ecossistema de reparação é uma inspiração diária para mim.
De toda essa vasta experiência que você teve antes da Solera, o que trouxe de especial para promover seu desenvolvimento no Brasil?
O mais importante foi um aprendizado: o de que a tecnologia só tem poder, no mercado, quando está aplicada ao desenvolvimento de um negócio, seja a nível local, regional ou global. Para se ter uma ideia, participei do lançamento dos serviços de Internet entre 2000 e 2003, quando trabalhei na AT&T na Argentina. Naquela época, integramos serviços de voz, dados e internet por meio de uma rede de fibra óptica. Só que, naquele início, não havia muita clareza sobre como a Internet iria impactar os negócios. O desafio foi encontrar a proposta de valor e como os canais digitais influenciariam o business tradicional. Descobrir isso foi uma experiência que me ajudou muito a entender, hoje, que a inteligência artificial e o software as a service oferecem às empresas essa capacidade de disrupção nos negócios. Para a Solera Brasil a inovação tecnológica precisa oferecer valor ao ecossistema das seguradoras, às concessionárias de veículos e às oficinas de reparação. Aplicar esse conhecimento na prática faz parte do que mais me motiva no meu trabalho aqui.
Além disso, ao longo da minha carreira, tive a sorte de trabalhar em diversos países antes de chegar à Solera no Brasil. E essa experiência está na minha bagagem para contribuir com uma companhia que hoje é global. Sei, por exemplo, que não faz sentido ter uma engenharia em cada país, quando estamos tratando de um universo de software as a service. Ao mesmo tempo em que trabalho perto dos clientes a nível local, também contamos com os melhores recursos em nível internacional, seja uma infraestrutura de dados que pode estar nos Estados Unidos ou a expertise da equipe de engenheiros de um centro de excelência na Espanha. Essa possibilidade de atuar em escala global me entusiasma muito, e é o que chamamos de “One Solera”.
Esta pergunta me leva à próxima: quais são os planos da Solera no Brasil para os próximos seis meses?
Estou há quase dois anos no Brasil, minha missão vem sendo acelerar a inovação tecnológica no país. E, no que diz respeito a esse objetivo, o passo mais importante será, nesse curto prazo, o lançamento do Qapter Claims. Trata-se de uma plataforma state of the art para a otimização da gestão de sinistros, a mais avançada que a Solera tem operado em mais de 50 países. Só que no Brasil ela traz uma inovação a mais, que é a tecnologia de inteligência artificial.
Com essa capacidade da plataforma, vamos promover uma produtividade inédita nos orçamentos de sinistros, automatizando as análises de danos de baixo e médio impacto. Então, dentro desses seis meses da pergunta, o maior destaque será essa oferta da IA + ciência do reparo às seguradoras e oficinas, por meio de uma ferramenta ultrassofisticada que é o Qapter Claims.
Falando de maneira geral sobre o mercado de seguros automotivos, onde estão aquelas oportunidades de ouro que a indústria em geral ainda não aproveitou?
Uma dessas grandes oportunidades está justamente na automação touchless, sem intervenção humana, para danos superficiais ou menos complexos. Ao permitir que os experts foquem nos casos de maior complexidade, estamos agregando maior valor à seguradora, aumentando sua produtividade. Com a ajuda da inteligência artificial, o especialista em análise de sinistro se tornará um superperito, já que a IA vai apoiá-lo e complementar o seu trabalho. Isso é prova de que a tecnologia e o humano não são excludentes.
Quais são os principais valores que o guiam no dia a dia como líder?
Há um paradoxo nessa resposta, pois, apesar de muito apaixonado por tecnologia e inovação, estou convencido de que uma organização não é um conjunto de servidores, mas, sim, um grupo de pessoas alinhadas em uma visão comum. Meus valores, como líder, passam necessariamente pela crença de que trabalhar com as pessoas certas e sob uma estratégia definida alcança os melhores resultados. E talvez isso tenha a ver com o fato de eu gostar de futebol, como a maioria dos argentinos e brasileiros. Ao me tornar responsável pela atuação da Solera na América do Sul, preciso dos melhores jogadores para vencer a partida nessa região. O conceito de One Solera felizmente permite manter-me alinhado a esses valores do trabalho em equipe e posicionar cada colaborador como gerador de valor.
Quem foi aquele líder ou empresário que mais o inspirou em sua carreira e por quê?
A primeira mente brilhante que me vem à cabeça é Steve Jobs, o fundador da Apple. Desde muito cedo na vida, acompanhei sua consolidação como um líder que soube unir inovação tecnológica com visão de negócio. Ele mostrou ao mundo que a tecnologia é que deve acompanhar essa visão, e não o contrário. Steve Jobs conseguiu cristalizar sua perspectiva da importância do design para atrair o cliente, por exemplo. Como um apaixonado por inovação, é minha missão desenvolver no Brasil uma visão que seja sustentável ao longo do tempo.