Contratar um seguro “com cobertura para Covid-19” não garante que você terá todas as despesas reembolsadas caso teste positivo para a doença durante a viagem. Esse fato chamou atenção dos viajantes durante a virada do ano, quando foi amplamente noticiada a história de um casal que teve uma despesa de mais de R$ 20 mil ao ter que cumprir quarentena nas Maldivas. Nos últimos dias de viagem, os dois fizeram o teste obrigatório para retornar ao Brasil e receberam resultado positivo, mesmo estando assintomáticos. Impedidos de voltar para casa, eles acionaram a seguradora que haviam contratado antes de embarcar, mas foram informados pela empresa que o serviço não cobria gastos relacionados à possibilidade de isolamento e remarcação da passagem. O casal prometeu levar a discussão à justiça.
Casos como esse têm se tornado cada vez mais comum à medida que a reabertura dos países para o turismo se soma à alta taxa de contaminação pela variante Ômicron. Desenvolvidos especialmente para o contexto da pandemia, os seguros de viagem com cobertura para Covid-19 geralmente reembolsam apenas as eventuais despesas médicas e hospitalares. Nas últimas semanas, porém, a Affinity ,a Assist Card, a GTA e a SulAmérica lançaram novos produtos com uma cobertura mais robusta para casos de infecção pelo coronavírus. Eles funcionam como uma espécie de “upgrade” e incluem não só as eventuais despesas médicas e hospitalares como também a prorrogação da estadia e a remarcação do bilhete aéreo de retorno se o viajante tiver que cumprir quarentena obrigatória no destino.
A diferença de preço é pequena. Na Assist Card, o “60 Mundo” cobre somente as despesas médicas ligadas à Covid-19 e custa R$ 962 para uma viagem de 16 dias aos Estados Unidos. Caso o cliente queira adicionar o “Covid-19 Quarentena”, que cobre também a hospedagem e a remarcação da passagem em caso de quarentena, o preço final sobe para R$ 1.237 – apenas R$ 275 a mais.
Porém, é importante ter em mente que há sempre um valor limite de reembolso, que nem sempre é capaz de cobrir todas as despesas de um eventual isolamento. “O que passar do valor do seguro passa a ser de responsabilidade do viajante”, alerta Alexandre Camargo, gerente nacional da Assist Card. Ou seja: a recomendação número um continua sendo não viajar em hipótese alguma sem um seguro de viagem, mas também é fundamental ler cuidadosamente as cláusulas do serviço que está sendo contratado, prestando atenção nos valores máximos.
Veja, a seguir, alguns exemplos disponíveis no mercado:
Empresa: Affinity
Tipo de seguro: 60 Covid
O que inclui: Cobertura de US$ 60.000 para despesas médicas e hospitalares; US$ 20.000 para despesas médicas ligadas à Covid-19; US$ 1.500 para despesas com hospedagem em caso de quarentena obrigatória; e US$ 1.000 para despesas com remarcação da passagem.
Preço: R$ 1.027 para uma viagem de 16 dias.
Empresa: Assist Card
Tipo de seguro: 60 Mundo Covid-19 Quarentena
O que inclui: Cobertura de US$ 60.000 para despesas médicas e hospitalares; US$ 30.000 para despesas médicas ligadas à Covid-19; US$ 3.000 para despesas com hospedagem em caso de quarentena obrigatória; e US$ 1.000 para despesas com remarcação de passagem.
Preço: R$ 1.237 para uma viagem de 16 dias.
Empresa: GTA
Tipo de seguro: Covid Mais
O que inclui: Cobertura de US$ 10.000 para despesas médicas ligadas à Covid-19; US$ 1.500 para despesas com hospedagem em caso de quarentena obrigatória; e US$ 1.000 para despesas com remarcação de passagem.
Preço: R$ 1.090 para uma viagem de 16 dias.
Empresa: SulAmérica
Tipo de seguro: Mundo Compacto
O que inclui: Cobertura de US$ 15.000 para despesas médicas ligadas à Covid-19; US$ 500 para despesas com hospedagem em caso de quarentena obrigatória; e US$ 500 para despesas com remarcação de passagem.
Preço: R$ 946,80 para uma viagem de 16 dias os Estados Unidos ou o Canadá.
*Preços apurados em janeiro de 2022. O seguro-viagem é sempre emitido individualmente e seus valores dependem do destino, do total de dias da viagem e da cobertura escolhida.
O que não está incluído no seguro com cobertura para Covid-19?
A gerente de produtos da Affinity, Valéria Pereira, esclarece que os testes de Covid-19 só são reembolsados pelas seguradoras se houver um pedido médico. Isso significa, por exemplo, que os testes de antígeno e RT-PCR feitos somente com o intuito de voltar ao Brasil não estão incluídos nos seguros de viagem, mesmo nos que possuem cobertura completa para a Covid-19.
Outro ponto de atenção é que, apesar de supostamente cobrirem “despesas médicas e hospitalares” por Covid-19, a maioria dos seguros considera a hospitalização pela doença como algo à parte. Isso significa que o viajante teria que arcar com todas as despesas relacionadas a uma possível internação, que pode sair uma verdadeira fortuna dependendo do país de destino.
No exemplo abaixo, o seguro da Affinity inclui cobertura de US$ 5.000 para despesas médicas e hospitalares por Covid-19, mas deixa claro que não há indenização em caso de hospitalização:
Valéria Pereira explica que o avanço da vacinação fez diminuir o número de pessoas que precisam ser internadas durante a viagem e, consequentemente, a procura por apólices com esse tipo de cobertura. Porém, elas continuam existindo. Nesse outro exemplo, da Affinity, há uma cobertura para o caso de hospitalização por Covid-19, mas o valor é mínimo: apenas US$ 150. Além disso, o viajante deve ficar internado pelo período mínimo de 48 horas para poder solicitar o reembolso das despesas.
Em suma: é importante ler e reler o que está sendo contratado. “O produto deve atender especificamente a necessidade do comprador. Por isso, é de extrema importância ler não só as condições gerais como também as condições específicas, onde estão discriminadas as cláusulas de cobertura para Covid-19”, aconselha Alexandre Camargo, da Assist Card.
Por outro lado, a advogada Carolina Vesentini, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), lembra que as empresas também devem fazer a sua parte. “O contrato tem que ser redigido de forma clara, isso é uma obrigação das seguradoras. Tudo deve estar devidamente explicado, sem nenhuma pegadinha que possa induzir o consumidor ao erro. Havendo qualquer divergência, o contratante pode procurar os órgãos de proteção ao consumidor ou abrir um processo na justiça”, orienta.
Peguei Covid-19 no exterior, mas já cumpri a quarentena. O que preciso fazer para voltar para o Brasil?
Não existe uma regra específica para casos como esse. Ou seja, quem pegou Covid-19 lá fora deve fazer o mesmo que os demais viajantes antes de voltar para o Brasil: preencher a Declaração de Saúde do Viajante (DSV) no site da Anvisa a partir das 72 horas que antecedem a decolagem para o Brasil e apresentar resultado negativo para um teste de Covid-19. Pode ser um RT-PCR feito até 72 horas antes do embarque ou um teste de antígeno feito com até 24 horas de antecedência.