As grandes empresas, que antes tinham em seu pacote de benefícios o principal chamariz para atrair novos talentos, começaram a rever os investimentos gastos com a saúde corporativa.
Para isso, convidaram o funcionário a repartir com elas os custos dos planos de saúde: no último ano, caiu de 48% para 43% o número de corporações que bancam integralmente a fatura do plano de assistência médica.
A constatação é da pesquisa Mercer Saúde 2004, obtida com exclusividade pela Folha e realizada com 324 empresas brasileiras e multinacionais sediadas no Brasil, abrangendo mais de 700 mil empregados.
O levantamento da consultoria especializada em recursos humanos aponta ainda que o número de planos que estabelecem uma contribuição fixa do empregado aumentou quatro pontos percentuais em 2004, comparado a 2003.
`Antigamente, as empresas pagavam tudo para o funcionário. Com o aumento dos custos, tiveram de repensar as estratégias`, explica Cesar Lopes, consultor de saúde da Mercer e um dos coordenadores da pesquisa.
E essa tendência deve aumentar ano a ano, de acordo com os consultores em recursos humanos ouvidos pela Folha.
`Acabou a visão paternalista da empresa. A participação dos funcionários no custo do benefício é cada vez mais propensa. Mas o objetivo é não só repassar despesa para o colaborador como também repartir com ele a responsabilidade pelo plano`, afirma Laís Perazo, gerente da área de saúde da consultoria em recursos humanos Towers Perrin.
Essa não é, necessariamente, uma má notícia para quem tem a saúde bancada pelo patrão. A intenção de poupar com assistência médica coletiva pode significar investimentos em prevenção e maior cuidado com a saúde individual dos colaboradores.
Com uma visão mais crítica sobre investimentos em benefícios, a Philips conseguiu economizar, de 2001 a 2003, R$ 4 milhões com a chamada medicina curativa. Hoje quem quer utilizar o plano tem descontado em folha 30% do valor do procedimento. A empresa entra com o restante.
Com isso, os colaboradores já não usam mais o plano como antes porque não precisam mais dele. O raciocínio é simples: a empresa, ao investir anualmente cerca de R$ 300 mil em prevenção e promoção da saúde, conseguiu antecipar-se à doença e evitar assim gastos desnecessários.
`Um dos objetivos é reduzir a sinistralidade e diminuir os custos, mas queremos também oferecer qualidade de vida. Um diagnóstico que antecipe um risco crônico já paga vários anos de investimento`, justifica Renato Barreiros, gerente de saúde e qualidade de vida da Philips do Brasil.
Na avaliação de Cesar Lopes, da Mercer, a empresa quer com essa medida racionalizar o uso da carteirinha do plano de saúde. `É o famoso fator moderador: se o funcionário co-participa e só paga quando usa, aprende a ser mais responsável`, finaliza.
Plano dentário atinge 71% das firmas
DA REPORTAGEM LOCAL
Como um acréscimo no pacote de saúde empresarial, a oferta de planos odontológicos para os funcionários tem se revelado estratégica. O resultado disso é o salto de 52% para 71% nos últimos dois anos no número de empresas de grande porte que passaram a adotar o benefício, segundo a Mercer.
Uma pesquisa semelhante, feita pela Towers Perrin em 2003, aponta que 75% das grandes empresas consultadas oferecem planos odontológicos aos colaboradores. Para 2005, esse número deve ser ainda maior: `O aumento do percentual é claro`, afirma Laís Perazo, gerente de saúde da Towers Perrin, antecipando levantamento em fase de finalização.
A razão é que o plano odontológico ainda é um benefício diferenciado no mercado, segundo Renato Velloso Dias Cardoso, diretor da Odontoprev, uma das líderes em planos dentários coletivos.
A empresa de Cardoso, criada há seis anos, cresce num ritmo de 25% ao ano e tem hoje cerca de 3.500 clientes corporativos, englobando 1 milhão de pessoas.
Para as companhias, o investimento equivale à redução de custos. A Eurofarma Laboratórios, por exemplo, oferece tratamento dentário com cobertura total. `Tínhamos muito afastamento e várias pessoas pediam recursos para custear a ida ao dentista`, explica a gerente Maria Regina Cintra.
Remédios
O custeio de algumas empresas vai além do cuidado com os dentes. A analista da Roche Thaís Colpaert, 21, conta com a companhia na hora de passar na farmácia. Para remédios fabricados pela própria firma, o abono é de 100%; para os da concorrência, 80%.
`Consigo economizar, e isso alivia meus gastos mensais`, conta. A empresa tem uma rede de farmácias conveniadas e uma lista dos medicamentos que podem ter descontos. `É um diferencial para atrair e reter funcionários`, complementa Octávio Scheibe, diretor de RH do laboratório. (AR)