As seguradoras recorrem às resseguradoras para garantir que conseguirão prover os ressarcimentos em casos de sinistros por danos causados por catástrofes climáticas. Resumidamente, esse é o ciclo que faz crescer as cifras no mercado de resseguros, foco de empresas como o IRB(Re), que, com 85 anos de atuação, lidera o setor de resseguros no Brasil, tendo 17% do mercado e contabilizando R$ 6,5 bilhões em prêmios vendidos às seguradoras em 2023. As informações são do site Valor Econômico.
Embora ainda não seja possível contratar um seguro específico na categoria “mudanças climáticas”, a companhia, cujo patrimônio líquido declarado é de R$ 4,2 bilhões (em dezembro de 2023), tem registrado crescimento tanto na demanda quanto nas indenizações pagas, atribuindo a alta à maior ocorrência de fenômenos da natureza. O impacto é notado sobre as linhas vida, patrimonial, habitacional, automóvel e rural. A modalidade com maior crescimento foi a do seguro compreensivo residencial, que cobre prejuízos causados por vendavais, temporais, enchentes, desmoronamentos, incêndios e apagões.
“Somente em janeiro deste ano, esse produto gerou pagamento de R$ 515,2 milhões às seguradoras, alta de 32% em relação ao mesmo período do ano passado. É o maior número já registrado pela série histórica, iniciada em 2014”, diz Daniel Castillo, vice-presidente da área de resseguros do IRB(Re). Ele atribui a alta aos “retornos dados à sociedade para recuperação dos prejuízos decorrentes das chuvas intensas ocorridas no Rio Grande do Sul, com danos humanos, materiais e ambientais.”
Segundo estimativa da Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), considerando indenizações de grandes riscos, as perdas seguradas no Rio Grande do Sul podem chegar a R$ 8 bilhões, superando os R$ 7 bilhões pagos no período crítico da pandemia de covid-19.
Com objetivo de aprofundar os processos de avaliação dos riscos climáticos e suas implicações financeiras, a CNseg lançou o projeto Construindo Seguros para a Transição Climática, em parceria com a Iniciativa Financeira das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep Fi) e apoio técnico da consultoria ERM NINT. “A participação do setor de seguros na agenda climática é vital. Temos que propor soluções para mitigar riscos”, diz Ana Cristina Barros, diretora de sustentabilidade da entidade.
Ao citar o relatório do Boston Consulting Group (BCG) que aponta serem necessários US$ 150 bilhões para começar a financiar a adaptação climática no Brasil, a diretora afirma que o dinheiro deve vir da “cooperação entre governos e setor privado, fundos internacionais e organizações globais”. Ainda de acordo com ela, a CNseg apoia a criação do Seguro Social Catástrofe, modalidade de seguro para atender à população de baixa renda, tradicionalmente a mais prejudicada nas catástrofes causadas pelas mudanças climáticas.
Em formatação, essa modalidade de seguro prevê indenização emergencial de R$ 15 mil por moradia, paga no dia seguinte ao desastre ou logo após a decretação do estado de emergência ou de calamidade. “Trata-se de um amparo financeiro imediato, com cobertura de danos materiais, num arranjo institucional que não dependeria de apólices. Seriam elegíveis as populações carentes indicadas pela Defesa Civil”, diz Barros.