Notícias | 17 de setembro de 2009 | Fonte: Valor Econômico | Finanças | SP / Cristiane Perin

Bradesco se une ao BES no private equity

Pela primeira vez em sua história, o Bradesco vai se tornar gestor de fundos de private equity, que compram participações em empresas para depois tentar vendê-las com lucro. A estratégia foi se aliar com um parceiro de longa data e cada vez mais próximo que tem experiência de mais de dez anos no segmento, o Banco Espírito Santo, de capital português.

Ontem as duas instituições financeiras assinaram memorando de entendimento para criar a 2bCapital, uma joint venture controlada 50% pela Bradesco Asset Management (Bram) e 50% pela Espírito Santo Capital. O principal executivo e presidente do conselho de administração já está definido: trata-se do português nascido em Lisboa Manuel de Sousa, que estava no BES de Investimento do Brasil atuando com private equity desde 2007 e tem mulher e filhas brasileiras.

Inicialmente a 2bCapital pretende lançar um fundo de R$ 500 milhões para investidores brasileiros e internacionais. Como pontapé inicial para o projeto, cada um dos dois bancos vai injetar R$ 50 milhões nesse primeiro fundo. A ideia é investir em empresas com faturamento acima de R$ 100 milhões por ano para adquirir o controle ou participações minoritárias. “Já temos capital e estamos abertos para negócios: o trabalho de prospecção já começou”, afirmou Sousa, durante entrevista ao Valor ontem na sede do Bradesco Banco de Investimento (BBI), na avenida Paulista. A sede da 2bCapital, no entanto, será na rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, 758, 2º andar, no Itaim.

A entrevista com o time da 2bCapital foi precedida de almoço que sinalizou a importância da empreitada para as duas instituições financeiras: estavam presentes o presidente do BES Investimento do Brasil e também acionista do grupo, Ricardo Espírito Santo, o diretor vice-presidente do Bradesco José Luiz Acar Pedro e o diretor-gerente José Guilherme Lembi de Faria. Vindos de Portugal estavam presentes Francisco Cary, vice-presidente da comissão executiva do BES Investimento Portugal, e João Arantes e Oliveira, CEO da Espírito Santo Capital Portugal.

“O momento é muito adequado e oportuno para o Bradesco entrar no segmento de private equity de forma mais consistente, pois, dada as suas perspectivas de crescimento, o Brasil está cada vez mais atrativo para investimentos e também com cada vez mais necessidade desses investimentos”, afirmou Robert John Van Dijk, diretor-superintendente da Bram (Bradesco Asset Management), um dos integrantes do conselho da 2bCapital, que vai contar com quatro representantes de cada um dos dois banco. Um time de dez profissionais vai atuar na área de gestão.

“A oportunidade é excelente para o private equity, pois a economia do Brasil está melhorando, mas o acesso ao crédito e aos recursos no mercado de capitais para as empresas não voltou ainda aos níveis anteriores”, disse Sousa. Dijk lembrou que a queda nos juros básicos Selic deve continuar e estimular os investidores brasileiros a buscar alternativas de investimento. Segundo ele, o foco dos fundos da 2bCapital serão os investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, mas também os clientes pessoas físicas da área de gestão de fortunas.

“No Brasil, vamos usar a estrutura da Bram para a distribuição dos fundos e no exterior, a estrutura do BES”, disse Dijk. Sousa afirmou que também na área de prospecção de negócios os dois bancos se complementam. “A presença nacional do Bradesco lhe dá acesso a um número grande de empresas clientes e a experiência do BES com private equity ajuda na escolha dos investimentos corretos”, afirmou ele. O BES, que está no Brasil desde 1976, fez diversos investimentos e desinvestimentos de capital próprio em diversas empresas no país, assim como o Bradesco.

Os retornos pretendidos para o primeiro fundo são maiores do que 20% a 25% ao ano, que correspondem ao histórico de rentabilidade dos investimentos do BES no Brasil, segundo Sousa. O prazo de duração máxima prevista para o fundo é de 8 a 10 anos.

“A 2bCapital será bem focada em alguns principais temas de investimento”, afirmou Sousa. O primeiro “tema” são os fundamentos macroeconômicos brasileiros: o desenvolvimento da classe média, o desemprego menor e o maior acesso ao crédito. “Por isso, vamos investir em consumo e varejo”, contou. O segundo tema são as empresas que fornecem soluções para o aumento da eficiência da economia, como logística, engenharia e saúde. O terceiro tema são os setores nos quais o Brasil tem vantagens comparativas, aliados a uma marca forte e componentes industriais, como o de construção de equipamentos e implementos agrícolas. “Vamos evitar setores excessivamente ‘commoditizados'”, afirmou Sousa.

Em abril do ano passado, o BES aproveitou a venda da fatia de 5% das ações ordinárias que o espanhol BBVA possuía no Bradesco e cresceu sua participação no brasileiro para 7,97% do capital votante e 4% do capital total. O Bradesco, por sua vez, tem 20% do Banco Espírito Santo de Investimento no Brasil e também tem uma participação de 3,1% no Banco Espírito Santo em Portugal.

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