SÃO PAULO – O lucro líquido da Casas Pernambucanas – Arthur Lundgren Tecidos S.A – caiu 96% em 2006, atingindo R$ 2,1 milhões, conforme balanço da empresa publicado na sexta-feira. Em 2005, a varejista havia lucrado R$ 51,2 milhões, resultado semelhante ao de 2004. No balanço, a Pernambucanas atribui a queda a sua adesão ao programa de anistia fiscal para os débitos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Sem isso, afirma a empresa, o lucro teria sido de R$ 72,95 milhões.
A Pernambucanas esteve entre as companhias autuadas pelo fisco paulista em um processo batizado de ” soja papel ” . A investigação revelou que a empresa mantinha operações fictícias de compra, industrialização e exportação de soja, em que se beneficiava de créditos de ICMS (um total de R$ 59,2 milhões).
As vendas da companhia cresceram 14,5% no ano passado, somando R$ 3,3 bilhões. ” Foi uma evolução razoável para quem não aumentou o número de lojas ” , diz o consultor em varejo Eugênio Foganholo. No entanto, segundo ele, a estimativa do faturamento por metro quadrado (cerca de R$ 450 ao mês) é baixa perante outros competidores, especialmente no varejo de confecções. ” É um patamar muito frágil ” , afirma Foganholo, que também considera o mix de produtos da Pernambucanas – que vai de informática a cortinas, passando por eletrodomésticos – amplo demais, o que torna a rede pouco competitiva frente aos varejistas especializados.
Controlada pelos descendentes de Theodor Lundgren, sueco que fundou a primeira Casas Pernambucanas em 1908, a companhia foi procurada pelo Valor, mas se recusou a dar entrevista. É a segunda maior varejista de vestuário do País, perdendo apenas para a C & A. O segmento mostra-se bem pulverizado e, juntas, as cinco maiores redes – C & A, Riachuelo, Renner, Pernambucanas e Marisa – têm 9% do mercado formal, segundo estimativa do Banco Espírito Santo.
Nos últimos anos, a Pernambucanas vem tentando rejuvenescer a sua marca, especialmente com patrocínio a eventos de moda (investiu R$ 8 milhões em propaganda no ano passado). Também como seus concorrentes, aposta em produtos financeiros como o cartão Pernambucanas e a oferta de seguros.
A empresa, no entanto, não integra um grande grupo mundial, como a anglo-holandesa C & A, ou levanta recursos no mercado de capitais, como as brasileiras Renner e Riachuelo, que têm ações em bolsa. ” Isso pode se mostrar uma desvantagem no médio prazo, uma vez que as empresas precisam se capitalizar para financiar a sua expansão, única maneira de conquistar mercado neste segmento ” , diz um analista.
Em 2006, a Pernambucanas praticamente patinou: manteve as 238 lojas do ano anterior, embora tenha lançado seu site de comércio eletrônico. No balanço, a empresa informou o início de um processo de expansão, com abertura de 10 lojas. A Renner abriu 15 pontos-de-venda no ano passado, atingindo 81 lojas e lucrou R$ 98,8 milhões (alta de 23% sobre 2005). Já a Guararapes, controladora da Riachuelo, mais do que dobrou o lucro líquido em 2006 – chegou a R$ 221,5 milhões – e encerrou o ano com 86 lojas, sendo nove inauguradas e 15 expandidas.