Notícias | 10 de julho de 2003 | Fonte: Gazeta Mercantil

Setor de seguros quer voltar a crescer em 2004

As seguradoras reforçaram sua estratégia para o segundo semestre deste ano e, por extensão, para 2004. Nos últimos anos, por conta das altas taxas de juros, buscaram sua rentabilidade basicamente nas aplicações financeiras. De agora em diante, apostam numa retomada gradual de suas operações, vale dizer, da venda de seus produtos. Isto porque os juros entraram numa trajetória de queda. Os principais executivos do setor trabalham com a previsão de que a Selic, taxa básica de juros, fechará o ano um pouco abaixo de 20%.
No curto prazo, quem puxa a expansão são os planos de previdência, principalmente o VGBL. Considerado, porém, o conjunto do setor – vendas de seguro, previdência e capitalização – o crescimento projetado para 2003 deverá situar-se em torno de 19%, o mesmo patamar de 2002, quando o volume de vendas chegou a R$ 42,5 bilhões. Não é o resultado dos sonhos das empresas.
“Em 2002, houve o pior desempenho desde 1994, em termos de vendas. Já em rentabilidade, o pior ano foi 1999”, lembrou José Rudge, presidente da Unibanco AIG Seguros. “Um crescimento econômico de 1,5% seria um bom índice para a Europa. Mas no Brasil é um crescimento pífio, que não consegue fazer a reposição das pessoas que entram no mercado de trabalho”, afirmou Luiz Trabuco Cappi, presidente da Bradesco Seguros.
Os dados de 2003, no entanto, preparam o caminho para os anos seguintes. Este ano, no caso dos ramos que envolvem a formação de poupança, já é nítida a expansão. Na área de seguros, também se espera uma pequena retomada, a ser puxada pelo seguro automóvel. “Com o viés nítido de baixa dos juros, as pessoas se animam e voltam a financiar o carro zero”, acredita Júlio Bierrenbach, presidente da Real Seguros, do grupo holandês ABN Amro.
Além disso, acrescentou Casimiro Blanco, diretor de controladoria da Porto Seguro Seguros, se realmente sair do papel o pacote de ajuda que o governo pretende dar para esvaziar os pátios das montadoras, os seguradores ficarão rindo à toa. Os principais compradores de seguro são os que adquirem veículo zero quilômetro.
“Já 2004 promete muito. Todos os indicadores apontam que o Brasil crescerá em uma base bem mais sólida”, disse Bierrenbach. “A taxa de juros em 2004 vai cair a níveis inferiores a 20%. Usando as palavras do ministro Palocci, o Brasil saiu da UTI. As emissões estão caminhando bem, há recomposição de todos os investimentos financeiros, a credibilidade do País está em alta, como demostra a queda do Risco Brasil. E o mercado segurador, em particular, é beneficiado por tudo isso”, acrescentou Cappi.
Manoel Carvalhal Gomes, diretor de investimentos do grupo espanhol Mapfre Vera Cruz, concorda com Cappi. “A atividade econômica está muito fraca. Por isso, a inflação vai cair mais rápido do que o mercado espera. Estimamos que o IPCA feche o ano em 10,5%, dando espaço para a redução da taxa Selic para 19,5% para dezembro deste ano”, disse.
Há um leque bem amplo de produtos para agradar aos mais variados perfis de consumidor, bem como ao bolso de cada um. “O desafio está em ter rentabilidade num cenário com queda da taxa de juros, retomada da economia e fraude em alta”, disse Wilson Andrade, diretor comercial da HSBC Brasil Seguros.
“A recessão eleva de maneira significativa o índice de sinistralidade em razão do aumento da violência e também da fraude. Em saúde, a recessão maximiza o estresse e as pessoas freqüentam mais os consultórios, laboratórios e hospitais”, analisou Blanco. Neste ano, a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg) está investindo R$ 6 milhões na prevenção e redução das fraudes.
Algumas companhias já se destacam com resultado operacional, proveniente da constante redução de custos dos últimos anos. Mas a média do mercado está concentrada no ganho financeiro. O resultado líquido das companhias ficou em R$ 2,27 bilhões em 2002, 24,8% acima do obtido em 2001. A rentabilidade média sobre o patrimônio ficou em 15,2%.
Para Cláudio Afif Domingos, vice-presidente da Indiana Seguros, a taxa de juro beneficia as seguradoras, principalmente as que têm um caixa grande. “Mas no longo prazo, todos saem prejudicados em função da atividade de seguros estar intrinsecamente ligada ao crescimento da economia”, disse Afif.
Para Hélio Novaes, vice-presidente Executivo da Sul América Seguros, associada ao grupo holandês ING, o maior destaque ficará a cargo do mercado de previdência complementar. “Esse segmento deverá se manter favorável, como vem ocorrendo nos últimos meses”, disse Novaes.
Mas o setor precisa de mais novidades para manter o ritmo de crescimento dos últimos anos. Na opinião do presidente da Fenaseg, João Elisio Ferraz de Campos, para o setor mudar de patamar de crescimento as reformas institucionais são tão necessárias quanto a economia voltar a crescer. “Se as reformas caminharem, inclusive a tributária, que em alguns seguros chega a ser excessiva, principalmente no segmento de seguros pessoais, o setor crescerá num patamar muito superior ao que tem apresentado até agora”, disse.
Francisco Galiza, consultor da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor), concorda com Ferraz de Campos. Segundo ele, a transferência para a esfera privada de um seguro tipo acidentes de trabalho daria outro estímulo ao crescimento.

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