Valores em áreas nobres da cidade estão até R$ 1.700 acima do cobrado na Zona Sul carioca
NITERÓI – O crescimento dos índices de criminalidade em Niterói tem pesado no bolso dos motoristas. Dados de uma corretora especializada na comparação de preços entre seguradoras mostram que os valores de seguros automotivos praticados em 12 dos principais bairros da cidade cresceram em média 10,83% se compararmos janeiro de 2016 com janeiro deste ano. Os preços em bairros nobres da cidade chegam a ser R$ 1.700 mais altos do que na Zona Sul do Rio. Executivos afirmam que a principal causa para a elevação nos preços foi o aumento dos roubos e furtos de veículos, que cresceram 13,6% na cidade de 2015 para 2016.
A pedido do GLOBO-Niterói, como referência, a Bidu Corretora calculou os valores para um HB20 For You 1.0 Flex 12V 5p, zero quilômetro, o modelo mais vendido em 2015. O motorista tem o seguinte perfil: homem casado de 35 anos, sem filhos, com garagem em casa e no trabalho, que dirige cerca de 25 quilômetros por dia. O cliente hipotético teria carteira desde os 18 anos e estaria contratando um novo seguro. A partir desses dados, o bairro que apresentou a maior alta no preço do seguro foi o Barreto: 22,18% (de R$ 3.998,75 para R$ 4.885,53). Em seguida vem o Centro, com 22,08% (de R$ 3.971,01 para R$ 4.847,93); depois o Largo da Batalha, com 19,80% (de R$ 3.990,15 para R$ 4.780,20).
Mesmo nas áreas nobres, os valores cobrados em Niterói são altos. Em Icaraí e Santa Rosa, os seguros custam R$ 3.853,79; e em São Francisco saem por R$ 4.102,23. Em comparação, a mesma apólice em Ipanema é avaliada em 2.819,42, enquanto no Leblon custa R$ 2.325,47. A diferença chega a mais de R$ 1.700.
De acordo com Marcella Ewerton, coordenadora de marketing da Bidu Corretora, diferentes fatores influenciam a definição dos preços. O principal deles é o número de sinistros (ocorrências como roubos, furtos e acidentes que obrigam a empresa a indenizar o cliente), além dos custos de mão de obra em oficinas mecânicas e de peças de reposição. Segundo ela, a violência faz com que os custos das seguradoras aumentem. Com isso, elas acabam transferindo-os para o consumidor.
— Para definir os preços, as empresas olham apenas para a frota segurada — explica a executiva. — Um aumento de roubos e furtos significa que mais gente está usando os seguros. Isso eleva os preços.
O crescimento da violência no Grande Rio em 2016 afetou o faturamento das empresas do setor. Dados do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro e Espírito Santo mostram que, entre janeiro e outubro do ano passado, o valor arrecadado com seguros automotivos no estado caiu 1,9%, ao mesmo tempo em que as indenizações com sinistros cresceram 5,8%. Para o presidente do sindicato, Roberto Santos, a crise econômica e a situação fiscal do estado atingem as empresas nas duas pontas: reduzindo o número de clientes e colaborando para o aumento dos índices criminais. Segundo ele, Niterói, em especial, sofre com a criminalidade:
— O Rio de Janeiro tem sido muito afetado pela crise econômica. Não só por conta do cenário nacional, mas também pela crise do petróleo. Naturalmente, isso vem acompanhado de elevação dos índices criminais, principalmente de roubos e furtos de automóveis. É natural que isso se reflita no preço do seguro. Especificamente em Niterói, o problema realmente está relacionado aos roubos e furtos.
Nas ruas de Niterói, a população já trata como fato corriqueiro os roubos de veículos. No Barreto, que registrou as maiores altas de preço de seguro, os moradores reclamam da violência. Marcos Vinicius Souza trabalha numa funerária na Rua General Castrioto e diz que os crimes viraram rotina:
— Nas ruas Galvão e Presidente Craveiro Lopes tem roubo de carro quase todo dia. Os bandidos também roubam o comércio com frequência.
O cotidiano de violência é mencionado ainda por moradores de São Domingos. Na Rua Professor Hernani Pires de Mello, que faz esquina com Rua General Andrade Neves, a ação de bandidos é constante — o endereço ganhou o apelido de “esquina do perdeu”.
— Tem assalto a toda hora — diz a dona de casa Valdemira da Silva, de 80 anos, 60 deles morando no bairro. — Só no ano passado, eu me lembro de pelo menos três carros roubados apenas nessa rua. Não tem policiamento. A polícia só chega quando o ladrão já foi embora.
Para tentar amenizar o problema, Roberto Santos afirma que o sindicato tem procurado parcerias na cidade. Ele atribui o índice de roubos à falta de policiamento.
— A situação é bem mais grave em Niterói do que na Zona Sul do Rio. Se compararmos, o contingente de PMs alocados na cidade é muito menor do que o da Zona Sul carioca. O Sindicato das Seguradoras fez uma parceria com a (ONG) Viver Bem, que monitora maior parte dos pontos de Niterói com câmeras. A partir de uma rede social, os órgãos de segurança são alertados sobre a localização de carros roubados — diz Santos.
O coronel Márcio Rocha, comandante do 12º BPM (Niterói), diz que tem alterado a distribuição dos policiais pela cidade e investido em operações para reduzir os índices de roubos, entre eles os de veículos:
— Tenho dado mais visibilidade à polícia. Não só alocando recursos onde a mancha criminal exige, mas também nas áreas com mais pessoas e nas principais vias. Nas comunidades, onde há mais crimes violentos, estou intensificando operações repressivas. Esse tipo de criminalidade se reflete no asfalto, em indicadores como roubos de rua e de veículos.