Cerca de 50% das micro e pequenas empresas abertas no Brasil fecham suas portas antes de completar cinco anos. Excetuando-se os problemas de falta de conhecimento do negócio e de gestão empresarial, alguns dos infortúnios podem ser cobertos por apólices de seguro
O mercado de seguros sempre esteve atento às novidades trazidas pela nova realidade sócio-econômica. Segundo estatísticas do Sebrae, apesar do grande número de micro e pequenas empresas que fecham anualmente, existe ainda um universo de cerca de 5 milhões de empresas. Este número não deve ser desprezado. No ramo de seguro-saúde, as operadoras já observaram neste setor um importante nicho e, apesar de alguns desvirtuamentos do uso dos planos PME´s, ele hoje representa uma fatia importante em sua arrecadação. Outro setor que pode investir neste nicho é o de previdência complementar. Entretanto, as investidas continuam de forma tímida.
A economia brasileira está crescendo porque há melhor distribuição de renda, com reflexos diretos no faturamento das microempresas, que atendem segmentos mais pobres da população. Nesse cenário, o microempresário passa a ter maior preocupação em garantir a continuidade do seu negócio e a buscar garantias contra imprevistos. “O seguro tem uma função social importantíssima a cumprir neste momento e o corretor assume naturalmente o papel de protagonista nesse processo, pois somente ele pode orientar o pequeno empresário, que muitas vezes sequer tem qualquer apólice de seguro”, afirma o presidente da Fenacor – Federação Nacional dos Corretores de Seguros, Roberto Barbosa.
Há um grande mercado a ser explorado nos próximos anos. Os seguros empresariais cresceram apenas 0,5% de janeiro a março de 2008, em relação ao mesmo período de 2007.
Muitos produtos podem ser oferecidos para os micro e pequenos empresários. “São muitas coberturas que poderiam servir a esse segmento: lucros cessantes, incêndio, seguro de crédito, roubo. O importante é que o corretor de seguros tem total condição de orientar cada cliente sobre as coberturas mais adequadas para o seu caso específico”, enfatiza o presidente da Fenacor.
Muitas iniciativas ganham corpo em entidades de apoio a estes empresários, com o objetivo de torná-los mais qualificados para administrar o seu negócio. A Associação Comercial de São Paulo, por exemplo, oferece uma série de serviços para seus associados que aderem ao Projeto ACSP Benefícios. Em contrapartida a uma mensalidade no valor de R$ 50, o associado pode usufruir de um pacote de benefícios. “Temos 40 empresas incluídas neste programa, entre elas o Bradesco e o Banco do Brasil, por exemplo, que oferecem produtos e serviços em condições especiais para os associados”, informa Jacira Barros, gestora do Projeto.
O trabalho de Jacira consiste em trazer novas empresas para este programa. “Através dele, o empresário consegue oferecer a seus clientes cartão de crédito com bandeira própria, pode fazer consultas ao SPC, tem acesso ao cartão do BNDES, entre outras coisas”, explica a gestora. Ela complementa a informação dizendo que a ACE Seguradora, em breve, irá fornecer produtos de seguros para os associados da ACSP.
Foco em pequenas e médias
As microempresas não são o foco das companhias de seguros. Estas preferem ater-se às empresas um pouco maiores, que já contam com infra-estrutura um pouco maior. Para este perfil de empresas estão disponíveis os mais diversos tipos de produtos.
“É preciso enxergar além da vida empresarial do dono de algum negócio. Normalmente, ele já possui um veículo, tem casa etc. Quando ele monta um negócio, o corretor pode oferecer outros produtos, utilizando como argumento de vendas o bom atendimento que o cliente recebe como pessoa física”, ensina Walter Pereira, diretor executivo da Minas Brasil.
Uma grande empresa que sofre um sinistro pode ter outros meios para se manter no mercado. Já a pequena empresa pode vir a fechar caso sofra um incêndio e não tenha como retomar suas atividades rapidamente.
Cerca de 130 mil empresas são abertas anualmente. 29% irão fechar suas portas antes do primeiro aniversário e 56% não passam do quinto ano. A sua distribuição regional é 3% na região norte, 7% no centro-oeste, 15% no nordeste, 24% no sul e 51% no Sudeste. A grande maioria destas empresas concentra-se nos setores de comércio e serviços.
Para atuar neste nicho, algumas seguradoras estão segmentando seus produtos de acordo com o mercado de atuação da empresa. A Liberty, por exemplo, fez um produto específico para as empresas das áreas de comércio e serviços. O mais importante nesta carteira, segundo Paulo Umeki, diretor de produtos da seguradora, é o corretor tentar entender como funciona o ramo de atividade do cliente.
“Adaptar seus custos e condições de coberturas às necessidades dos micro-empresários, auxiliando-os também na gestão e no gerenciamento de seus negócios”. Esta é a função das seguradoras para com o mercado de PME´s, na opinião de Amauri Santi, superintendente deste nicho na ACE Seguradora, que está fechando uma parceria com a ACSP. “A principal idéia é formatar ao empreendedor o produto adequado ao seu segmento, deixando-o despreocupado com sua proteção e com tempo para dedicação integral ao seu negócio”, ratifica Santi.
A ACE possui produtos segmentados para diversos tipos de empresas. Além do comércio e serviços, ela oferece produtos para específicos para bares, hotéis e restaurantes, para exposições (feiras e eventos) etc. “O produto ACE Gourmet tem cobertura de deterioração de mercadorias em ambiente refrigerado; quebra de máquina de refrigeração; equipamentos de decoração entre outras”, salienta Santi. Já o produto VIP Service protege contra riscos decorrentes de Bares, Hotéis e Restaurantes, inclusive em relação aos alimentos servidos no estabelecimento.
A facilidade de acesso aos produtos de seguro é fundamental para garantir o seu sucesso.
Coberturas diferenciadas
Poucas pessoas de fora do mercado, que conhecem a cobertura D&O, imaginam que ela pode ser muito útil para os pequenos empresários. Em princípio, esta cobertura é usada para garantir que o administrador de uma empresa terá o seu patrimônio preservado em caso de sinistro de responsabilidade civil.
Giuliano Mourão, da Marsh, informa que após o advento do uso da penhora online pela justiça, o empresário ficou exposto justamente por possuir menor fôlego financeiro. “Em caso de penhora, o seguro D&O é acionado e cobre o montante designado na apólice de seguro”, explica Mourão. A contratação deste tipo de cobertura é bem acessível. “Um bom argumento para a comercialização deste produto é a comparação do valor do prêmio x honorários advocatícios”.
O Brasil ainda não tem muitos problemas relativos às sentenças judiciais com valores discrepantes. Entretanto, é cada vez mais comum o acionamento precoce às instâncias judiciárias em casos de desavenças. Por isso, o pequeno empresário deve ser procurado para que conheça as possibilidades oferecidas pelo mercado de seguros.
As coberturas mais comumente contratadas são aquelas compreensivas do produto empresarial: raio, incêndio e explosão. Porém, assim como a cobertura do D&O, outra ferramenta que merece destaque é a cobertura de lucros cessantes e perda de renda. De acordo com Felipe Schmidt, diretor técnico de corporate da Tokio Marine Seguradora, muitos empresários poderiam ter a garantia de continuidade de seu negócio se possuíssem uma cobertura para as despesas fixas de seu negócio em caso de sinistro. “O que mais influencia para a não contratação destes produtos é o desconhecimento do custo”, avalia Schmidt.
Ele traça um paralelo com o seguro de automóvel, cujo custo do prêmio gira em torno de 6% do valor do bem. O custo do seguro empresarial varia entre 0,4% a 0,6% do faturamento da empresa, dependendo do ramo de atividade em que ela atua.
Há coberturas mais caras, como a de roubo de mercadorias e valores. Porém, as mais comuns costumam ter custos bastante acessíveis. As empresas podem ter cobertura para danos elétricos, perda ou pagamento de aluguel, despesas fixas, danos a equipamentos, responsabilidade civil, lucros cessantes, quebra de máquinas etc.
Vale lembrar que nem todas as empresas conseguem ter aceitação automática de seus riscos, conforme lembra Rafael Rodrigues, da área de seguro empresarial da Allianz. “Para obter limites maiores é preciso de uma vistoria detalhada da seguradora, principalmente para as coberturas de responsabilidade civil e danos a equipamentos em geral”, destacou Rodrigues.
Se mesmo depois de toda esta argumentação sobre as vantagens desta apólice o empresário não se convencer, o corretor ainda pode falar sobre a disponibilidade da assistência 24 horas para empresas. Como nos seguros de automóveis e residenciais, esta assistência é muito utilizada e oferece serviços diferenciados, como números de telefones úteis (pode parecer mentira, mas na hora do aperto muita gente não sabe pra quem ligar), segurança patrimonial, guarda móvel, ambulância, transmissão de mensagens urgentes etc.
Corretoras pequenas
O Banco de Dados da Federação indica que, entre os dias 1º de janeiro e 23 de junho deste ano, foram registradas 508 empresas corretoras de seguros. No mesmo período, no ano passado, foram feitos 521 registros. Houve, portanto, uma queda da ordem de 2,5%.
A Fenacor – Federação Nacional de Corretores de Seguros e os Sindicatos estaduais realizam uma série de eventos para discutir os modelos mais adequados de gestão das corretoras de seguros.
Muitos sindicatos têm também assessoria contábil para ajudar o corretor de seguros a administrar sua empresa. “É uma preocupação nossa formar uma cultura empresarial no seio da categoria. O corretor de seguros é um profissional que dedica um tempo enorme ao atendimento de sua clientela e nem sempre pode focar, pelo período necessário, a sua atenção à administração do negócio”, resuma o presidente da Fenacor, Roberto Barbosa.
Para mais informações, os corretores podem acessar o site da entidade: www.fenacor.com.br.