Apólice garante pagamento às escolas no caso de doença e desemprego do responsável financeiro.
O ano de 2008 foi um “divisor de águas” para o seguro educacional, quando muitas escolas viram a necessidade de contratação por conta do aumento do desemprego.
Há dois anos, quando matriculou seus três filhos em uma nova escola, a arquiteta Aline Caetano recebeu a proposta de aderir a um seguro educacional, sobre o qual nunca tinha ouvido falar. Não hesitou em dizer sim. “É um bem-estar financeiro”, afirma ela, que é casada com um empresário e deu um tempo na carreira para se dedicar à maternidade. “Imagina se meu marido fica sem emprego? As crianças perderão a escola, os amigos e o ambiente ao qual estão acostumadas.”
Aline faz parte de um grupo ainda pequeno de brasileiros que aderiu ao seguro educacional, uma garantia do pagamento de mensalidades em escolas e universidades particulares em caso de faltar ao aluno seu responsável financeiro por doença, morte ou desemprego. Apesar de já ter surgido há bastante tempo, a modalidade ainda não deslanchou no país. Os dados mais recentes da Superintendência de Seguros Privados mostram volume de prêmios emitidos de R$ 9,36 milhões entre janeiro e junho de 2011.
Eugênio Velasques, diretor executivo da Bradesco Vida e Previdência, conta que as apólices na empresa começaram a ser comercializadas na década de 1980. “Elas funcionam de duas maneiras: ou a escola paga para todos os alunos ou elas oferecem opcionalmente aos pais, que arcam com o seguro”, explica. As apólices em que há oferta a todos os pais sem cobrança adicional correspondem a cerca de 15% das vendidas na seguradora, que tem um portfólio de 35 instituições de ensino.
O Colégio Dante Alighieri oferecia a princípio o seguro educacional por adesão – quando os pais arcam com o custo – mas a participação era de apenas 10% das famílias. Agora, a escola é quem arca com a apólice. “Há cinco anos oferecemos a todos”, conta a gerente financeira do colégio, Ligia Beretta. “Antes tínhamos a obrigação moral de ajudar por pressão dos pais e, com o seguro, conseguimos diminuir a inadimplência.” O colégio tem uma taxa de 1,3% de atrasos nos pagamentos dos 4,2 mil estudantes. O seguro é equivalente a uma taxa de 1,92% sobre as mensalidades e, além disso, a escola ainda paga 0,38% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Mesmo que ainda incipiente, a modalidade de seguro teve avanço depois da crise de 2008, segundo Shirley Reis, gerente do canal educacional do Grupo BB Mapfre. “O ano foi um divisor de águas, quando muitos pais ficaram desempregados e as escolas viram a importância do seguro”, diz. A seguradora oferece a apólice apenas para as escolas e tem um portfólio com 1 mil instituições de ensino. A executiva, no entanto, diz que existe a possibilidade de oferecer a modalidade por adesão à medida que difundir mais o produto.
Na tentativa de tornar o produto mais atrativo, as seguradoras estão inovando com benefícios aos pais e alunos. No caso da Bradesco Vida e Previdência, há assistência ao estudante como aulas de reforço domiciliares e transporte com frequência às aulas. O Grupo BB Mapfre vai além e ajuda os pais desempregados na recolocação profissional. Mas as empresas têm desafios pela frente em relação ao produto, ainda pouco conhecido pelos pais. “Primeiro temos de investir na conscientização dos corretores para a necessidade deste seguro e, além disso, aumentar produtos e serviços agregados para tornálo ainda mais atrativo”, diz Velasques.
Uma maneira de disseminar o seguro educacional é ampliar seus pontos de distribuição para além das escolas, para que ele possa ser vendido diretamente aos pais. Atenta a isso, a Bradesco Vida e Previdência já está em conversa com a Saraiva para poder comercializar o produto a partir de 2013 nas livrarias.
“Isso seria uma quebra de paradigma”, diz Eugênio Velasques, diretor executivo da Bradesco Vida e Previdência. A Saraiva já é um canal de distribuição de outras apólices como a garantia estendida e a para viagens, principalmente no e-commerce.
A venda na livraria ajudaria em um desafio para o seguro educacional que é a concentração das contratações nos meses de novembro, dezembro, janeiro e julho, quando acontecem as matrículas nas instituições de educação. Em uma livraria, no entanto, o seguro seria vendido em todas as épocas do ano, já que as pessoas compram livros o ano todo, e ainda com a ajuda da internet para a distribuição.
A forma de precificação do seguro seria diferente daquele oferecido pelas escolas, que leva em consideração a instituição de ensino, número de alunos, mensalidade paga e condições dos pais do estudante. “O preço vai ter de ser algo mais linear. Por exemplo, fazer duas ou três perguntas e oferecer um determinado pacote para cada caso”, explica Velasques.
A Bradesco está fazendo uma pesquisa de mercado, que deve ficar pronta em abril, para saber mais sobre a importância da modalidade e o que os clientes esperam dela. “Este mercado precisa ser redesenhado”, pondera.