O mercado de motocicletas está aquecido. Somente a indústria de motocicletas instalada no Polo Industrial de Manaus superou a marca de 1 milhão de unidades produzidas no acumulado do ano. De acordo com os dados mais recentes da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), 1.015.201 unidades saíram das linhas de montagem de janeiro a julho de 2024, uma alta de 14,4% em comparação com o mesmo período de 2023. Esse volume representa o melhor desempenho para o período desde 2012, informa a entidade.
De olho no aquecimento do mercado, as seguradoras estão lançando novos seguros para motocicletas. Pelo menos quatro seguradoras anunciaram novidades para o segmento no último mês. Duas delas, a Bradesco e a Porto — por meio da marca Itaú — divulgaram em agosto novas proteções para motos mais potentes e para uso particular. Outras duas companhias, a Generali e a Suhai, anunciaram a comercialização de novos produtos desenhados com parceiros.
A nova oferta de seguro para motos da Bradesco Seguros está disponível para motos de uso particular, a partir de 300 cilindradas e com até seis anos de idade. São aceitas motocicletas nacionais e importadas, de até R$ 200 mil (conforme a tabela FIPE).
As coberturas vão desde acidente pessoal com passageiro (com indenização no valor de até R$ 100 mil), passando pela reposição do bem sinistrado (que sofreu o risco previsto no contrato de seguro, como roubo ou acidente) de até um ano, até a cobertura para acessórios (no valor de até R$ 10 mil), que cobre jaquetas, luvas e bolsas laterais, por exemplo. “Este novo produto é uma resposta direta às necessidades dos motociclistas que buscam segurança e proteção customizada para suas motocicletas. Aqui na Bradesco Seguros, criamos um produto que contempla a moto e o próprio piloto”, destaca o superintendente executivo de produto auto da companhia, Eduardo Menezes.
Já o Grupo Porto, que já oferecia o seguro para motos com a marca Porto Seguro, desde agosto passou a comercializar com a marca Itaú Seguros a proteção para motos a partir de 90 cilindradas para uso particular.
“Aproximadamente 50% das novas motos emplacadas são para uso particular. É um mercado pouco penetrado, com cerca de 4% das pessoas que compram uma motocicleta fazendo seguro, diferentemente de um carro de passeio, no qual 30% da frota circulante faz seguro. Há muitos consumidores comprando motocicletas para uso particular, e não para prestação de serviços, que ainda não encontram no mercado uma boa opção de cobertura”, comenta Jaime Soares, diretor de Auto da Porto.
Segundo Soares, a nova proteção com a marca Itaú oferece ao consumidor uma possibilidade maior de personalizar o seguro adquirido, contratando proteção apenas para colisão ou apenas para roubo e furto, por exemplo. “No produto Itaú, além de ser um seguro de entrada, o cliente consegue fazer mais customizações de coberturas e de limites”, acrescenta o diretor da Porto.
Parcerias por novos consumidores
A seguradora Generali e a Ituran, especializada em tecnologia de localização veicular, anunciaram também em agosto o lançamento do “Ituran One”, um novo seguro de Responsabilidade Civil para veículos monitorados – seja moto ou carro. As empresas informam que, no novo produto, a indenização é feita com base nas regras pré-estabelecidas, oferecendo 75% ou 90% do valor da tabela FIPE do veículo, limitado a R$ 16 mil para motos.
Para Amit Louzon, CEO da Ituran no Brasil, a tecnologia de localização e recuperação da companhia vem viabilizando a criação de novos produtos com maior aceitação e preços mais atrativos para o bolso do brasileiro. “O Ituran One vai possibilitar a ampliação da aceitação de veículos e perfis, dando mais oportunidades para aqueles que nunca tiveram seguro”, explica Louzon. A proposta é atender quem possui veículos com mais de 5 anos de fabricação – e até 15 anos no caso de moto – ou que já tentou contratar algo no mercado, mas não conseguiu devido a “valores inviáveis”.
Outra seguradora que fechou parceria para a distribuição do seguro de moto a novos públicos é a Suhai. O acordo, anunciado também no mês passado, foi feito com a Eu Entrego, uma logtech que conecta varejistas a entregadores autônomos no país, e com a insurtech TôGarantido, uma startup que ajuda empresas a integrar seguros na jornada de seus clientes. O objetivo da colaboração é oferecer condições especiais para os entregadores parceiros da Eu Entrego na contratação de seguros para os veículos utilizados nas entregas (carros ou motos). A oferta contempla indenização em caso de roubo, acidente e danos a terceiros.
De acordo com Vinícius Pessin, CEO da Eu Entrego, a parceria facilita o acesso dos entregadores parceiros aos seguros de três formas: por meio de um processo de contratação totalmente digital (inclusive a vistoria), além de baratear o custo e permitir o pagamento mensal e por boleto. “Um processo de aquisição do seguro e da vistoria ser todo online, pelo aplicativo no celular, facilita porque o perfil desse autônomo é de quem está sempre na correria e não tem tempo para marcar vistoria presencial, por exemplo. Além disso, o modelo de parceria estabelecido gera preços até 70% mais baixos do que o mercado”, diz.
Pessin conta que, até o momento, a taxa de conversão é de 40%. Ou seja, de cada 10 cotações feitas pelos entregadores parceiros no aplicativo, 4 são fechadas. Mantendo essa taxa, a estimativa é chegar ao fim do ano com 100 mil a 150 mil motos protegidas pelo produto em todo o Brasil. A logtech tem hoje 1 milhão de profissionais autônomos cadastrados na plataforma, sendo que 60% deles trabalham com motocicleta.
Desafios
Segundo Luiz Cláudio Alcântara, membro da comissão de seguro automóvel do Sincor-SP (Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo), o maior desafio para ampliar a quantidade de motos protegidas por seguro é “quebrar o mito de que seguro é só para motos mais caras”. “Um seguro básico para roubo e furto de moto pode custar de R$ 300 a R$ 400 por ano. Não é tão oneroso”, aponta o corretor.
Alcântara explica ainda que o funcionamento do seguro é, de forma geral, igual ao do seguro para carro. Isso inclui a existência de franquias (participação financeira obrigatória do segurado para arcar com os custos de determinado conserto) e bônus (desconto obtido pelo segurado na renovação do seguro quando não há ocorrência dos riscos previstos no contrato). “Tem a mesma base jurídica dentro da Susep [Superintendência de Seguros Privados, órgão regulador do setor], e o bônus pode ser transferido de uma moto para um carro”, ressalta o corretor.