As seguradoras do Brasil e de Portugal estão diante de um desafio comum: responder aos impactos cada vez mais frequentes e severos dos eventos climáticos extremos. Enchentes, secas prolongadas, incêndios florestais e tempestades têm afetado especialmente as populações mais vulneráveis, revelando a urgência de tornar o seguro um instrumento mais acessível e eficiente para a proteção social e econômica.
Em encontro em Lisboa entre representantes da CNseg e do Grupo Fidelidade, seguradora que responde por cerca de 30% do mercado português, ficou evidente a dificuldade de ampliar a penetração dos seguros em regiões de maior risco. “No Pantanal, por exemplo, uma região que tradicionalmente não tinha chuvas definidas, enfrentamos inundações severas nos últimos cinco anos. Muitas dessas áreas são grandes produtoras de soja, milho, algodão e açúcar, o que agrava os impactos econômicos”, relatou o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira.
Seguros obrigatórios e novas soluções
Alguns países têm adotado modelos que podem inspirar o Brasil e Portugal. Na Turquia, o seguro contra desastres naturais é cobrado diretamente na conta de luz. No México, estados só recebem ajuda do governo federal em caso de desastre se possuírem seguro para sua infraestrutura pública. Para os especialistas, essas experiências mostram que o caminho pode envolver uma combinação de obrigatoriedade, incentivos e inovação nos canais de distribuição.
No Brasil, a CNseg discute com o Legislativo e o Executivo uma proposta de criação do Seguro Social de Catástrofe. O tema tem despertado o interesse de parlamentares, mas ainda carece de adesão de alguns ministérios.
Conhecimento como base para a ação
Com o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos, o setor segurador europeu tem investido em pesquisa para compreender melhor os riscos e desenvolver soluções personalizadas. A seguradora Fidelidade criou um centro de estudos que cruza dados sobre riscos físicos — como incêndios, ondas de calor, chuvas intensas e aumento do nível do mar — com os impactos socioeconômicos em diferentes regiões.
A iniciativa do grupo Fidelidade visa produzir conhecimento aplicável, com o apoio de universidades e centros de pesquisa. Há também programas de bolsas para estudantes de mestrado desenvolverem estudos sobre prevenção, adaptação e impactos econômicos. Com esses dados em mãos, a empresa consegue quantificar os custos do não enfrentamento desses riscos. Isso ajuda governos, seguradoras e cidadãos a tomarem decisões mais informadas.
Educação, prevenção e ferramentas digitais
Outro ponto destacado pelo grupo português é a necessidade de investir em campanhas educativas e ferramentas digitais que alertem a população sobre os riscos de forma simples e proativa. Algumas seguradoras têm criado indicadores personalizados para clientes e corretores, com alertas de risco de alagamento, incêndio e outras ameaças, além de orientações sobre o que fazer antes, durante e depois dos eventos.
Os executivos dos dois países entendem que a vulnerabilidade não é só uma questão geográfica, mas também socioeconômica e por isso é necessária a construção de soluções integradas, com participação pública, privada e da sociedade civil para prevenir tragédias.