Notícias | 27 de janeiro de 2020 | Fonte: MoneyTimes l Rodrigo Ventura

Como o blockchain vai mudar completamente o rumo da indústria mundial de Seguros

Era época do Plano Collor, dos caras pintadas. Eu queria entender o que estava acontecendo na nossa economia. Decidi fazer faculdade de Economia e Ciências Sociais na PUC de São Paulo para entender por que a nossa moeda perdia tantos zeros e se desvalorizava tanto.

Queria entender o porquê da corrida aos supermercados para fazer o estoque do mês, quando essa era a forma que pessoas se defendiam de uma corrosão do poder de compra de 3% em um único dia, 80% no mês, 3000% em um ano (quase a Venezuela hoje).

Entrei como estagiário na Redecard com Políticas, Procedimentos, Administração de Risco e Fraude. Havia muitas fraudes nas transações com cartões de crédito, alguns estabelecimentos funcionavam como mini financeiras (factorings) emprestando dinheiro com juros exorbitantes no cartão de crédito, como as lojas que recebiam muito dinheiro em espécie, como postos de gasolina, reduziam seus estoques de dinheiro em espécie realizando saques aos clientes que pagavam no cartão de crédito com descontos à vista de 20, 30, 50%.

Havia problemas com a confiança das informações cadastrais dos clientes, desvios de ramo de atividade CNAE, maquininhas POS que mudaram de endereço e, para solucionar estes problemas, decidiram fazer um mega recadastramento nacional de 100% dos estabelecimentos.

Um ano mais tarde decidi que já era hora de ter fluência no inglês e fui morar no Canadá. Foi dentro da Universidade de Toronto que tive acesso a minha primeira conta de e-mail para troca de pesquisas acadêmicas.

Me sentia o jovem (millennial) que sabia tudo de tecnologia enquanto a internet estava surgindo porque tinha um hotmail (na época, pouquíssimas pessoas tinham acesso a esse recurso). Uma experiência muito semelhante à que vivemos com a tecnologia blockchain nos dias de hoje. Se naqueles dias estávamos criando a internet de informação, agora estamos criando a internet de valor.

A conexão era discada, superlenta e servia apenas para pesquisas de textos. Estávamos em plena guerra de pixels, em que as interfaces visuais eram horríveis e pouco amigáveis.

Não existia Uber, Airbnb ou Tinder. Tampouco existia a Google. Em outras palavras não existia nada. Era um tempo de trevas para o nosso mundo digital.

Colocando em perspectiva com os dias de hoje, apenas com a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), num intervalo de apenas dois anos, geramos mais dados do que a humanidade gerou em toda a sua história.

No ano em que voltei para o Brasil para continuar a faculdade e trabalhar como econometrista, ao lado da USP, misturando estatística e história para observar correlações e fazer modelos de previsão de demanda, eu ainda minerava dados “na unha” para criar séries históricas.

Economia parecia começar a fazer sentido pela base matemática/estatística e as Ciências Sociais ajudavam a entender comportamentos para testar novas variáveis.

Entrei num programa de trainee do Banco Itaú, durante a criação do gigante Itaú Personnalité, e comecei a aprender, na prática, sobre mercado de capitais na Bovespa e mercado de futuros na BM&F (quando as instituições ainda eram separadas). Foi então que a me envolvi com a distribuição de múltiplos tipos de seguros, via o canal bancário (também conhecido como “bancassurance”).

Me tornei corretor de seguros “pastinha” (de “porta-em-porta” no melhor estilo Consultor XP Investimentos de hoje), combinando investimentos e seguros no HSBC (Hong Kong Shanghai Bank of China), vendendo seguro de vida e previdência privada.

Sempre quis uma carreira internacional, então fui estudar mandarim para ser expatriado. Acabei sendo contratado por uma empresa de tecnologia de seguros, Sistran (coração de tecnologia de uma seguradora), e fui enviado para a China (Beijing, Shanghai, Shenzhen, Hong Kong e Macau).

Entrei num curso de especialização sobre economias do Leste-Asiático do BID (Banco Mundial) e fui estudar as melhores práticas de seguro da Oceania na ANZIF (Instituto de Finanças da Nova Zelândia e Austrália).

Passei mais de 10 anos nesta empresa, trabalhando com tecnologia em operações de seguros e tive a oportunidade de participar de projetos de BI, Assinaturas Eletrônicas, BigData, IoT e Telemetria para seguros de vida e automóvel, verificando o comportamento do motorista ao volante para precificar o seguro de maneira mais justa e barata.

Gameficação para criar um modelo de engajamento positivo ao longo do tempo, com incentivos e recompensas, além da redução de fraudes e, o mais importante, reduzir os tempos de atendimento, percepção/detecção de sinistros e salvar vidas.

Depois de 20 anos de experiência, senti que precisava me reinventar. Em meio à crise dos 40 anos, larguei tudo para me tornar sócio da KPMG, no time de consultoria de TI, onde, finalmente, aprendi sobre blockchain. E foi paixão à primeira vista.

Um marco na história da humanidade

Quero enfatizar que estamos vivendo um momento de profunda transformação tecnológica e de transferência de riqueza sem precedentes em nossa sociedade.

Na história humana, a primeira grande revolução tecnologia foi quando dominamos o fogo e passamos a forjar ferramentas e armas. A segunda, quando criamos a agricultura e podíamos nos estabelecer em cidades, com populações cada vez maiores. A terceira, quando a combinação de três fatores (telecomunicações, por meio do telégrafo, energia elétrica e motor a combustão) resultaram na Revolução Industrial.

Agora, estamos diante da combinação cinco grandes fatores de transformação:

1 – IoT (dispositivos móveis conectados), telemática (junção das tecnologias da informação e da comunicação), big data, inteligência artificial;

2 – Robótica e impressões 3D;

3 – Armazenamento de energia e veículos autônomos;

4 – Engenharia e sequenciamento do genoma;

5 – Blockchain e a transferência de valores, além de contratos Inteligentes (de seguros) na internet.

Quando percebi o tamanho da transformação que iremos vivenciar nos próximos anos, em especial nos mercados financeiros (bancos, empréstimos e seguros) por causa do blockchain, decidi somar os conhecimentos da vertical de seguros, passando por toda cadeia de valor do negócio, tecnologia e operações para transformar a indústria e democratizar o acesso a seguros por meio da empresa que fundei, a 88 InsurTech.

A oportunidade na indústria de seguros

Muitos me perguntam: “Por que Blockchain? Qual é a vantagem? Qual a redução de custo? É de comer ou de passar no cabelo?! (risos)”.

Bom, blockchain nada mais é do que uma rede de confiança, pública, transparente e imutável. Confiamos em todos (ou melhor, na maioria) sem confiar diretamente ou exclusivamente em nenhum.

Todos são donos da verdade e o modelo de incentivo faz as pessoas agirem da maneira correta ao invés da errada. Nessa rede, o crime, economicamente falando, não compensa.

Partindo do princípio de que temos uma rede de confiança, seguimos num movimento de descentralização. Em outras palavras, de corte de intermediários em direção a uma relação mais direta e ponto a ponto.

Nesse protocolo de confiança, garantimos a imutabilidade, ou seja, que ninguém alterará os nossos dados e/ou as regras do jogo depois de contratadas).

Temos o carimbo temporal aferindo, de maneira pública, o momento exato de registro (fundamental para determinar, por exemplo, o início de um seguro e a partir de qual momento você deixa de estar protegido pela apólice). O blockchain garante a segurança da informação na internet, traz resiliência contra cyber-ataques e auditoria perfeita, além de rastreabilidade.

Há também a questão de transparência. As regras tradicionais para o mercado de seguros, como Solvência II, Sarbanes Oxley, Basileia e IFRS, passam a ser públicas. Isso muda o jogo para a indústria, que é percebida como pouco transparente pelos clientes, especialmente pelos mais jovens.

Registros públicos mitigam as arbitragens e o atraso nos pagamentos de indenização, fontes clássicas de receita das seguradoras, onde a contratada fazia dinheiro no mercado financeiro com juros sobre o valor devido ao cliente no seu momento de maior dor, ou seja, após um sinistro reportado.

Acabam os conflitos de interesse, em que sinistros negados tornam-se bônus aos executivos da companhia. As regras ficam mais claras para os contratantes (sem letrinhas miúdas).

Por fim, temos os contratos inteligentes, em que a relação entre as partes envolvidas passa a ser binária (0 ou 1, isto é, sim ou não). Trocando em miúdos, as regras passam a ser mais simples, de modo a serem facilmente programadas, auditadas e executadas de maneira automatizada.

Isso implica na liquidação de sinistros em tempo real, sem que haja a necessidade de um aviso de sinistro pelo cliente. Ele simplesmente recebe a indenização no exato momento em que o acidente acontece.

Resumindo, essa será uma jornada de transformação exponencial, em uma tecnologia alavanca a outra, acelerando cada vez mais a disrupção.  Não levaremos os mesmos 20 anos da internet para sentirmos o tamanho dos impactos. Sequer levarão dez, ou mesmo cinco anos. A mudança já está acontecendo. Convido vocês a fazer parte dessa história.

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