O cenário do mercado de seguros deverá mudar nos próximos anos graças às novas regras de solvência divulgadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) no final do ano passado. De acordo com executivos da Mapfre, Tokio Marine Seguradora e Chubb Seguros, o setor caminha para uma onda de fusões e aquisições graças às pequenas e médias seguradoras que não conseguirão se capitalizar ou mesmo alterar seu plano de negócios no prazo determinado pela autarquia.
Alguns analistas do mercado de seguros apostam que o número de seguradoras atuantes no segmento deva apresentar redução de 20 a 30 seguradoras. Hoje, a Susep soma 120 companhias entre empresas ligadas a grupos econômicos e independentes.
Para Wilson Toneto, vice-presidente de Administração e Finanças da Mapfre, a adaptação às novas margens de solvência resultará em alguns movimentos no mercado. ?A movimentação irá desde empresas que tem total condição de adaptar seu capital e irão se antecipar ao mercado, e fazer sua capitalização, até companhias que irão repensar sua estratégia de atuação?, afirma.
Ele conta que, nesse cenário que está se desenhando, a Mapfre analisará novos acordos, incluindo parcerias. ?A companhia como um todo está estudando formas de ampliar seus negócios não só organicamente, mas também através de parcerias e aquisições?, completa Toneto.
Após a onda de fusões e aquisições ocorridas entre 2005 e 2006 no mercado segurador, as oportunidades que restaram de bancos de rede são e Itaú. Se esses dois players mantiverem suas estratégias de atuação, o mercado de seguros oferecidos através de redes bancárias não deverá haver mudanças. Todos os bancos de grande porte já possuem suas parcerias.
“Quando falamos em oportunidades, estamos falando de médias e pequenas seguradoras. Aí existe espaço para fazermos negócios. Assim como nós, também há outras seguradoras analisando oportunidades de negócios. Mas, se tudo correr bem, podemos ter novidades para os próximos meses” diz o executivo.
Já João Pedro Paro Neto, diretor da Tokio Marine Seguradora, acredita que nos próximos dois anos o mercado estará muito diferente do atual. “Com certeza, essas mudanças farão com que as seguradoras pensem em seus negócios. E é, nessa hora, que surgem as oportunidades”, diz.
Para ele, existirão poucas seguradoras que atuarão no País inteiro com todos os ramos de seguros. “Acredito que deva aumentar o número de seguradoras de nicho”, afirma Neto.
Para efeito de capitalização, as novas regras de solvência prejudicarão algumas seguradoras de pequeno porte. Antes, o percentual de cálculo em cima de prêmios era de 0,20% para qualquer modalidade. Nas novas regras, o percentual de cálculo varia de acordo com a classe de negócio e ramo de atuação. Nos seguros classificados no segmento transporte, por exemplo, o percentual de cálculo subiu para 0,90%.
“As novas regras são compatíveis com as melhores legislações que existem no mundo em termos de solvência. A Susep fez um ótimo trabalho. Agora, a calibragem – efeito prático ? fez com que algumas companhias sentissem um efeito importante para a capitalização. O percentual de cálculo em cima de prêmios tratam companhias diferentes de modos diferentes”, diz.
Acácio Queiroz, presidente da Chubb Seguros, concorda que as novas regras de solvência poderão impulsionar fusões e aquisições no mercado. “Há uma tendência de diminuir o número de seguradoras que hoje operam no mercado. Não considero que chegaria a ser uma concentração, uma vez que o mercado já está bastante concentrado. Atualmente, as cinco maiores empresas concentram cerca de 50% do volume movimentado no setor”, destaca o presidente da Chubb.
A empresa, ao contrário da Mapfre, não está de olho nas oportunidades que deverão surgir em função do requerimento das novas margens de solvência. “Sempre vamos privilegiar o crescimento orgânico da companhia”, diz Queiroz.
O presidente da Chubb completa que não apenas as regras de solvência deverão provocar fusões e aquisições no mercado, mas também a abertura do mercado de resseguro deverá alavancar essa movimentação.
O titular substituto da Susep, João Marcelo Máximo dos Santos, disse esta semana que até meados de 2007 as normas para a abertura do mercado de resseguros, elaboradas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), devem estar prontas. Atualmente, o único ressegurador autorizado a atuar no mercado é o IRB-Brasil Re.
Onda nos últimos anos
Em dezembro de 2005, a Mapfre adquiriu o controle acionário da Seguradora Roma. Em maio do mesmo ano, a empresa comprou 51% das ações da seguradora do banco Nossa Caixa, por R$ 225,8 milhões. O negócio proporcionou à Mapfre, através da joint venture, exclusividade na comercialização de seguros de vida e previdência junto à rede de agências por 20 anos.
Já a Tokio Marine adquiriu 100% do controle acionário da Real Seguros e de 50% da Real Vida e Previdência em abril de 2005.
O valor da operação foi de R$ 897 milhões. Assim como Mapfre e Tokio Marine, a HDI comprou a HSBC Seguros Autos e Bens por R$ 300 milhões, enquanto que o banco manteve a operação de vida e previdência. No ano passado, a novidade ficou por conta da sociedade entre XL Capital e Itaú Seguros. As empresas criaram a Itaú XL Seguros Corporativos coma finalidade de vender seguros comerciais no Brasil.