Notícias | 4 de agosto de 2003 | Fonte: Luiz Roberto Castiglione - Castiglione Bussines

Rating – uma confusão numérica

1- CONCEITO:

RATING é um instrumento que permite determinar de uma forma rápida e eficaz a capacidade financeira de uma empresa e o nível de riscos dos negócios que a ela estão associados.
Seu principal objetivo é o de classificar o nível de risco de uma empresa no que se refere a sua capacidade de honrar seus compromissos financeiros de curto e longo prazos.
Para a elaboração de um RATING é necessário estabelecer um conjunto de variáveis econômicas e financeiras que permitam avaliar de forma segura o desempenho de uma empresa perante o Mercado e ela própria.
Esses indicadores econômicos e financeiros deverão retratar a realidade operacional e patrimonial da empresa, onde os conceitos e critérios devem ser exaustivamente testados e corrigidos de forma periódica, buscando dar consistência histórica aos mesmos.
Avaliações pontuais de RATING normalmente levam a conclusões irreais e duvidosas, face as sazionalidades, critérios de aferição, participações acionárias entre empresas e por fim, em alguns casos, interesses de marqueteiros.
A busca pelo estabelecimento de um RATING é importante no sentido de proporcionar uma maior tranqüilidade a investidores, fornecedores e, principalmente, a SUSEP e aos consumidores.
A eterna mania dos pseudo analistas de importar modelos de fora, nem sempre condizem com a realidade do Mercado Brasileiro, uma vez que as diferenças de legislações, controles, critérios e modus operandi são consideráveis. Adaptações são válidas, contudo podem distorcer a situação de uma empresa, prejudicando-a no Mercado.
Lamentavelmente, não existe uma cultura voltada para a divulgação de RATING no que tange a sua importância e a forma de interpretação quando da realização de um seguro por pessoas leigas.
Normalmente para a elaboração de um RATING deve-se tomar por base alguns elementos e critérios de uma empresa e do mercado a que esta se insere focando:
– Níveis de Liquidez;
– Níveis de Endividamento;
– Níveis de Alavancagem Operacional e Financeira;
– Desempenho relativo a outras empresas com mesma característica operacional;
– Desempenho relativo ao Mercado;
– Capacidade Administrativa;
– Participações acionárias – números consolidados e não somalizados;
– Geração de Recursos da Operação e do Patrimônio Vegetativo dos Acionistas – Remuneração do Capital de Giro Próprio;
– Situação Macroeconômica e cenários;
– Legislação e Regulamentação do setor;
– Etc.
Portanto a elaboração de um RATING é complicada, além de demandar inúmeras bases de dados que nem sempre mantém uma devida consistência.
2- Dificuldades:
– A diversificação de conceitos sobre as variáveis a serem utilizadas no modelo. Existem diversas empresas que elaboram RATING utilizando conceitos diferentes sobre o mesmo indicador, como por exemplo:
Índices de Liquidez:
1- ATIVO CIRCULANTE / PASSIVO CIRCULANTE
2- ATIVO CIRCULANTE + REALIZÁVEL LONGO PARAZO / PROVISÕES TÉCNICAS + PASSIVO CIRCULANTE
3- ATIVO CIRCULANTE (-) DESPESAS ANTECIPADAS (-) DESPESAS DIFERIDAS DE COMERCIALIZAÇÃO + REALIZÁVEL A LONGO PRAZO / PROVISÕES TÉCNICAS + PASSIVO CIRCULANTE.
Existem outros indicadores na mesma situação de dúvida.
– Falta de critério para a alocação de despesas de comercialização também contribuem para distorcer as análises. Existem muitas empresas que operam com as chamadas plataformas e/ou representações. Esses custos são alocados no plano de contas da SUSEP como Outras Despesas Operacionais e não no grupo de Despesas de Comercialização;
– A inclusão das operações de Previdência Privada com Seguros veio a tumultuar as avaliações uma vez que uma chuva de critérios de rateio dos custos administrativos pode vir a distorcer uma ou outra operação. Além disso, não se conhece mais a situação de caixa da operação de seguros nem o Resultado Financeiro de cada atividade;
– O Resultado Financeiro apresentado pelas empresas seguradoras refletem os ganhos oriundos da operação e do Patrimônio Líquido dos acionistas – Remuneração do Capital de Giro Próprio. Portanto, as avaliações sobre a situação da operação são distorcidas e irreais;
– A influência do setor bancário é muito grande. Na verdade temos dois mercados: o das seguradoras ligadas a bancos e o ligado à rede de corretores de seguros. Num temos as influências dos goelas abaixo e no outro a concorrência predatória;
– A existência de conglomerados de seguradoras também prejudica o entendimento de um RATING. Como uma seguradora pode ser classificada como deficiente pertencendo a um grupo onde se tem outra seguradora com a mesma linha diretiva e operacional com classificação excelente?
– A existência de empresas especialista (Garantia e praticantes de tailor made) deve ser observada uma vez que comparativos com um Mercado Generalista pode vir prejudicar seu desempenho perante o grande público consumidor. É importante ressaltar suas peculiaridades quando da comparação;
– Avaliações considerando as influências do ano gregoriano também podem distorcer as análises. Além disso, aferir performance sem analisar a evolução histórica da empresa também distorce o parecer sobre a empresa;
– As atuais bases disponíveis ainda se encontram inconsistentes no momento de sua divulgação. A SUSEP e a ANS vêem realizando um trabalho brilhante nesse campo, contudo sofrem bastante com o não envio dos FIPES nos prazos ou correções posteriores as divulgações.
Existem outros pontos além dos acima listados. A maneira mais correta para a determinação de um RATING seria através da ANSP / FENASEG, com a criação de um grupo de estudo para definição de critérios e conceitos de avaliação de seguradoras. A consecução de um modelo genuinamente nacional permitirá aos interessados pela atividade uma visão bastante clara da real situação econômica e financeira das seguradoras que operam no Brasil.
3- Práticas Atuais:
Atualmente existem três modelos que divulgam RATING de seguradoras no País. Não vou entrar na discussão de qual é o melhor, pois seria anti-profissional. Vou apenas mencionar seus fundamentos e origens, a saber:
MODELO-01
Esse modelo é uma adaptação da metodologia utilizada pela Standard & Poor´s Rating Group para avaliação de empresas americanas. Devido à natureza dos dados brasileiros não foi possível na adaptação à segregação das seguradoras em solventes e insolventes através de análise discriminante multivariada. Por esse motivo optou-se pela construção direta dos dados com restrições escalonadas dos principais indicadores escolhidos (solvência, rentabilidade e liquidez), além de promover ajustes em determinados indicadores segundo o porte de cada companhia. Esse modelo resulta em uma classificação de cores que se inicia pela cor VERMELHA – seguradora em estado precário até a cor AZUL – seguradora em estado ótimo.
MODELO -02:
Esse modelo é uma adaptação do método IRIS (Insurance Regulatory Information System) aplicado para a avaliação de empresas de seguro não vida nos Estados Unidos. Esse método se baseia em índices financeiros calculados diretamente das demonstrações financeiras, para os quais são
determinados limites de aceitação – faixas. Dependendo do número de índices que a empresa apresente fora da faixa recomendada, os resultados seriam submetidos a uma equipe de analistas financeiros e, posteriormente, aos órgãos fiscalizadores oficiais.
MODELO -03:
O outro modelo é derivado dos fundamentos da Crédit National de France e da Dun & Bradstreet. Com base nos demonstrativos financeiros são calculados diversos indicadores de desempenho gerando para cada um uma MEDIANA. São calculados nove decis, onde o quinto é representado pela Mediana. Os que estiverem acima receberam classificações favoráveis e os abaixo classificações desfavoráveis.
4- Conclusões:
Sem sombra de dúvidas o Mercado Brasileiro de Seguros clama por um RATING genuinamente nacional, que traduza de fato a situação de cada empresa, perante o Mercado e ela própria. Avaliações isoladas sem os devidos cuidados podem gerar dúvidas e desconfortos desnecessários. De fato tenho vários exemplos da atual
aferição de RATING seja qual for modelo acima listado, contudo não é o foco do artigo críticas aos modelos.
De fato estou enviando em artigo para o presidente da ANSP e da FENASEG no sentido de provocar uma ampla discussão sobre os modelos atuais e qual seria o genuinamente nacional a ser elaborado por um grupo de estudo composto por profissionais que realmente atuaram e atuam da atividade de seguros.
Luiz Roberto Castiglione

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