Por Rafael Cló
Neste último sábado, Donald tocou a campainha do céu e ficou a alguns milímetros do acerto final. Um final de semana agitado. Me peguei pensando: quem subscreve as apólices de vida dos presidentes americanos?
Das 46 pessoas que ocuparam o cargo, 10 foram assassinadas ou sofreram uma tentativa de assassinato, assombrosos 21%. Não parece um risco legal de carregar no balanço de uma seguradora. Mas será que um ex-presidente da maior potência global, e ainda bilionário, precisa de seguro?
Donald é um homem que tocou o império da família fazendo apostas arriscadas e alavancando sua companhia para investir em projetos imobiliários audaciosos. Um indivíduo com esse perfil arrojado, pensa em proteção patrimonial? Fato é que ninguém sabe muito bem sobre a real situação monetária do ex-presidente, que tem uma vida financeira, no mínimo, curiosa. Trump já declarou falência múltiplas vezes, um artifício para evitar (ou adiar) o pagamento de dívidas passadas, e foi o primeiro presidente desde os anos setenta a não divulgar o seu imposto de renda durante o processo eleitoral.
Mas e aí, tem ou não tem seguro de vida? Donald certamente tem uma apólice; com um patrimônio estimado em U$7.5 bilhões de dólares, e grande parte dele vindo do setor imobiliário, seria estranho não ter contratado um seguro. O propósito do seguro não é somente o de se proteger das imprevisibilidades, apólices de vida podem ser utilizadas como uma ferramenta estratégica para sucessão patrimonial, dando liquidez para os herdeiros no processo de divisão do espólio.
No estado de Nova Iorque, onde Trump reside, os impostos sobre a herança podem chegar a 56% (40% de imposto federal e mais 16% para o estado) – uma ordem de grandeza acima do imposto sobre a herança do Brasileiro (ITCMD) que chega no máximo a 8%, teto definido pelo Senado federal. Agora, imagina que algo aconteça com o ex-presidente, e que no processo de inventário os herdeiros tenham que pagar 56% nos quase $2 bilhões de dólares que o ex-presidente tem em ativos imobiliários. Onde arrumar mais de $1 bilhão de dólares em cash para pagar os impostos devidos?
O seguro é uma das ferramentas que dá liquidez para os herdeiros em um processo de inventário, contribuindo para o pagamento dessas obrigações. Um bilionário americano contratou uma apólice de R$1.2 bilhões de reais em 2021 – a maior apólice de seguro de vida já vendida, de acordo com o Guinness. A conta não é tão difícil, a pessoa pode pagar R$1 bilhão de reais ao longo do tempo para uma seguradora, para evitar pagar 56% de impostos ao fisco no capital segurado. A seguradora ganha com o rendimento deste capital e o segurado reduz sua carga tributária. No fim é uma questão de valor do dinheiro no tempo e quanto de liquidez a pessoa precisa para viver o restante da sua vida. Não é evasão fiscal, é planejamento tributário.
Donald Trump teve uma vida financeira tão caótica quanto o trânsito de São Paulo na tarde de uma sexta-feira chuvosa. Certamente muito bem assessorado, Trump deve utilizar o seguro de vida como uma das ferramentas dentro do seu planejamento sucessório. Enquanto só podemos especular sobre o tamanho da apólice de vida de Donald, me surpreenderia ser algo abaixo das dezenas de milhões de dólares.