Notícias | 3 de março de 2004 | Fonte: Valor Econômico

Previdência, capitalização e juro alto salvam seguradoras em 2003

Em 2003 o mercado segurador brasileiro se dividiu em dois grandes segmentos, que seguiram rumos diferentes. Os seguros de acumulação registraram surpreendente crescimento, em meio ao cenário de retração econômica. Já os seguros de risco, afetados profundamente pela crise, registraram queda. A análise é do consultor Luiz Roberto Latini, da G5 Solutions, empresa especializada em estudos e análises em seguros.

Os seguros de acumulação são aqueles em que o segurado, ao pagar os prêmios do seguro, forma uma reserva que depois de determinado período retorna para ele, corrigida pela inflação e juros. São os títulos de capitalização e planos de previdência (tradicionais, PGBLs e VGBLs). Os seguros de risco são todos os outros (automóveis, incêndio, vida tradicional, acidentes pessoais), em que os prêmios não têm retorno.

Esse movimento, diz Latini, pode ser visualizado nos balanços de 2003 das seguradoras, independentes ou ligadas a bancos. Quase todos os balanços estão negativos na linha do resultado operacional (veja tabela), mostrando que o negócio do seguro em si, está dando prejuízo. Só as empresas de previdência registraram bons desempenhos.

As perdas operacionais são compensadas com a aplicação das reservas dos segurados no mercado financeiro – mais de 90% em títulos do Tesouro Nacional. Com os juros estratosféricos pagos aos títulos públicos (papéis de baixo risco), as seguradoras ainda ganham muito dinheiro com essas aplicações. Mas, quando a taxa de juros cair, essa renda cairá junto.

“A questão do risco exige uma nova visão do mercado”, afirma Latini. Em primeiro lugar, diz ele, as seguradoras precisam recuperar o resultado operacional. Latini lembra que “a tendência dos juros é de queda”. Assim, diz o consultor, as seguradoras terão de reverter o foco, passando a ganhar dinheiro com vendas, mais do que no mercado financeiro. Isso implicará em expansão da base de compradores.

A estratégia, segundo ele, será a de oferecer seguros mais baratos, voltados às classes C e D. “A filosofia do seguro de risco é a de mutualidade”, explica. “Quanto mais participantes pagando pelo risco, menos cada um paga individualmente. Mas hoje você tem cada vez menos gente pagando cada vez mais”, pondera o consultor. Isso aconteceu no seguro de automóveis, em que, para compensar um crescimento do risco (de roubos, furtos e acidentes, que aumentou em 2003), as companhias reajustaram os preços das apólices – e ameaçam fazer isso novamente em 2004.

Já os seguros de acumulação aparentemente não sentiram a crise. Com o grande interesse das pessoas em guardar dinheiro para a aposentadoria, o apelo do VGBL foi amplamente aceito. Mas os outros planos de previdência também cresceram, assim como as vendas de títulos de capitalização, que bateram um recorde com mais de R$ 6 bilhões em faturamento no ano passado.

De acordo com os dados da Associação Nacional da Previdência Privada, no ano passado foram vendidos mais de 6,2 milhões de planos – 1 milhão acima do volume vendido em 2002. As receitas, de R$ 14,869 bilhões, cresceram 53,56% em comparação a 2002. A carteira de investimentos, ao totalizar R$ 48,5 bilhões, cresceu 52,75%. As reservas técnicas formadas pelas seguradoras de vida e previdência, a partir das aplicações dos contribuintes, totalizaram R$ 44,3 bilhões, com crescimento de 51,49% em relação a 2002.

Esses números foram obtidos graças ao Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL), um plano de previdência voltado para as pessoas de renda mais baixa, que não usufruem o benefício fiscal previsto nos outros planos de acumulação. No ano passado, as receitas com o VGBL acumularam R$ 6,965 bilhões, em comparação a R$ 2,518 bilhões em 2002, um crescimento de nada menos que 176,52%. Mesmo no PGBL, o plano tradicional de acumulação para aposentadoria, lançado muito antes do VGBL, o crescimento também é expressivo. De acordo com a Anapp, R$ 4,529 bilhões foram aplicados em PGBL no ano passado, 51,49% mais que em 2002.

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