Os Planos de saúde coletivos devem ter reajustes de dois dígitos pelo quarto ano consecutivo, mas num patamar abaixo do registrado no ano passado. Uma análise do BTG Pactual com base nos dados mais recentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostra que, entre dezembro e fevereiro, o aumento médio foi de 12,8%, o que sinaliza para reajustes mais amenos dos contratos em 2025.
O patamar é abaixo da média de correção dos planos coletivos no ano passado, quando o reajuste acumulado fechou em 13,8%, e também inferior aos 14,25% registrados em 2023.
O mercado de planos de saúde tem hoje 52 milhões de usuários, 83% deles em contratos coletivos, principalmente em planos coletivos empresariais.
Diferentemente dos planos individuais, cujo reajuste tem um teto definido pela ANS, a correção dos contratos coletivos é definida pelas operadoras de planos de saúde em negociação com os contratantes. Para os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, os dados trimestrais gerais dos planos coletivos oferecem uma visão “mais clara” sobre o ciclo de reajustes do mercado.
“Parece que a desaceleração nos ajustes de preços está atingindo um novo patamar de estabilidade”, afirmam em relatório.

Quando se considera apenas os planos de até 29 vidas — geralmente contratados por MEIs e pequenas e médias empresas (PMEs) —, as principais operadoras do setor têm aplicado reajustes também em trajetória de desaceleração, com percentuais em torno de 15%, como calcularam Alves e Cesquim no início do mês. O patamar está, em geral, abaixo do registrado no ano passado. Em alguns casos, a correção é inferior em até 5 pontos aos reajustes anteriores.
Sinistralidade mais baixa
A previsão de algum arrefecimento nos percentuais de carteiras coletivas é compartilhada pela consultoria Mercer Marsh, que faz a gestão de benefícios de cerca de 5 milhões de usuários de planos coletivos empresariais. Thomás Ishizuka, superintendente atuarial da companhia, calcula que a média de reajustes da carteira em 2024 foi de 15,5%, o que deve ficar entre 10% e 12% neste ano.
Ele atribui o cenário mais favorável à redução da sinistralidade. A fatia da receita das operadoras usada para custear a assistência médica dos usuários encerrou 2024 na Mercer em 79,5%. A média geral do mercado, segundo a ANS, está em 80,7%, numa trajetória de queda desde 2021: naquele ano, o índice ficou em 86,9%, o que caiu para 83,8% em 2022 e 82,2% em 2023.
Ishikuza ainda observa que a inflação médica também vem caindo. Além da variação dos preços de medicamentos, equipamentos e outros custos, o índice também leva em consideração a frequência de uso. Na carteira da Mercer, o percentual passou de 11,8% em 2023 para 6,96% no ano passado.
Menos reembolsos e rede credenciada
Marcelo Borges, diretor executivo da consultoria Mercer Marsh Benefícios, ainda destaca que pesa na redução dos percentuais de reajuste a queda nos prejuízos das operadoras com fraudes:
— No ano passado, as operadoras olharam mais para isso. Em 2022, por exemplo, 12% dos pedidos de reembolso, que são o grande alvo das fraudes, eram de exames simples, como de sangue ou ultrassonografia. Isso caiu para 2,1% no ano passado. Também por isso, a tendência é vermos reajustes dos contratos empresarias menores este ano, mas ainda em dois dígitos.
Já Vinicius Figueiredo, analista do Itaú BBA, avalia que também interferem na conta outras medidas de ajuste de custos tomadas pelas operadoras no ano passado, como restrição na liberação de reembolsos, redução da rede credenciada e negociação com prestadores, que com a redução da rede conveniada “trocaram volume de usuários por descontos”.
— A indústria como um todo vai reduzir os percentuais (contra o ano passado). Não diria que é muito difícil convergirmos para 11% até o fim do ano — afirma.
Apesar do cenário geral mais otimista, o relatório do BTG também destaca que as principais operadoras apresentaram reajustes mais altos que a média do setor no trimestre analisado. Entre dezembro e fevereiro, a SulAmérica teve alta de 16,5%, contra 15,7% no trimestre imediatamente anterior. Maior operadora em número de usuários, a Hapvida Notredame Intermédica aplicou alta de 12,2% no período, contra 11,6% no fim do ano passado, e a Unimed Nacional corrigiu os contratos em 16,9%, acima dos 15,7% no período anterior.
Já Bradesco Saúde reajustou os contratos coletivos em 14,8%, acima dos 13,4% na reta final de 2024. Por outro lado, a Amil aplicou aumentos de 16,3%, abaixo dos 19,6% entre setembro e novembro de 2024, e a Porto desacelerou de 20,3% para 19,6%.
— Existe um esforço muito grande de redução de custo e de fraudes, para ser mais eficiente e repassar o mínimo possível ao consumidor, porque de fato é um peso importante no orçamento familiar. Acho que a curva demonstra que estamos começando a chegar em números iguais ou pouco melhores que antes da pandemia. Mas ainda preocupa o que está fora da equação: judicialização e incorporação de tecnologia — opina Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Já a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) disse em nota que considera a projeção positiva, o que “reflete esforços de gestão das operadoras no combate a fraudes e em uma maior racionalidade no uso dos recursos”.
Procurada, a Hapvida afirmou que “apresentou no período o menor índice de reajuste do segmento para os planos de saúde coletivos no período analisado” e que eu modelo de negócio, baseado em uma rede verticalizada, “garante maior eficiência operacional”.
SulAmérica e Bradesco afirmaram que se manifestariam via FenaSaúde. A Porto não comentou e Amil e Unimed não responderam.