Nikolaus von Bomhard, CEO mundial da Munich Re, assistirá de camarote o desenrolar do desenvolvimento do mercado de resseguros do Brasil, aberto em 17 de abril deste ano, após quase 70 anos monopolizado. “Se me perguntar o que acho que acontecerá neste primeiro ano de abertura no Brasil eu respondo: não sei.”
Para o mercado internacional, a previsão de Bomhard é de que poderá haver uma interrupção do ciclo de queda de preços que já dura dois anos. “O cenário mundial de resseguros ficará claro a partir de 1 de julho e 1 de dezembro, quando as principais apólices de seguros serão renovadas nos Estados Unidos e na América Latina”, diz.
Fora grandes catástrofes, com a safra de furacões em 2005, e perdas em investimentos – como no período da quebra de empresas iniciadas com Enron e WorldCom -, os preços em seguros são definidos pela oferta de riscos e apetite dos investidores por risco. “A crise do supbrime trouxe investidores para o mercado de bonus de catástrofes. Há demanda uma forte demanda por esses títulos”, diz.
Trata-se de um momento de grande tumulto atualmente no Brasil, com quase 15 resseguradoras já autorizadas e que buscam montar suas escritórios e contratar funcionários. Em 2000, quando se previa a abertura do setor, havia mais de 20 delas no Brasil. Com o adiamento, onze foram embora, restando apenas nove. “Investimos no Brasil há 11 anos e conhecemos muito bem o mercado. Estamos aqui para ficar e construir um relacionamento de longo prazo com todos”, diz.
Se o sucesso do grupo pudesse ser medido por seu prestígio entre os clientes, ele seria certo. Cerca de 300 pessoas, praticamente todos os presidentes e principais executivos das seguradoras e corretoras de seguros, compareceram a abertura oficial da resseguradora aberta pelo grupo alemão no Brasil, em um coquetel realizado no dia 16, em São Paulo.
A Munich Re optou por abrir uma resseguradora local no Brasil, com investimentos de quase R$ 70 milhões em capital mínimo, bem como um escritório eventual, para poder absorver um percentual maior de contratos obedecendo a regulamentação local. Como local, terá preferência de 60% de todos os programas de seguros do País até 2010 e 40% nos anos seguintes, juntamente com seus concorrentes instalados na mesma categoria e que já têm aprovação da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Entre os que disputam com ela um setor com R$ 3,5 bilhões em prêmios de resseguros estão IRB Brasil Re, Mapfre Re, XL Re e J.Malucelli.
Bomhard, que abriu o escritório da Munich Re no Brasil em 1997 e participou ativamente da primeira rodada da regulamentação de abertura em 2000, afirma ser certo o crescimento da indústria de seguros no Brasil. “A economia local está com um bom desempenho e seguros cresce no ritmo do País.” No entanto, faz dois alertas. No cenário macroeconômico, o risco está na inflação. “É uma preocupação mundial e também para o Brasil. Por ter tido um crescimento abaixo da Índia e da China, será mais fácil para o País conter a escalada dos preços”, diz.
Segundo alerta
O segundo alerta é específico para a indústria de seguros. “É preciso ter disciplina neste momento de abertura, pois o resultado de uma política comercial inadequada para ganhar mercado trará prejuízos a todos os participantes”, frisa. Como exemplo, ele citou o caso da Argentina, país que enfrentou sérios problemas com a abertura do setor no final da década de 90.
“Somos técnicos. Pode parecer chato, mas somos previsíveis e persistentes. Acreditamos que criamos valor sustentável para nossos acionistas e clientes”, diz Bomhard. Tal política conservadora tem gerado resultados sólidos e o interesse de quem tem fama de ganhar com investimentos. O megainvestidor Warren Buffett comprou ações da Munich Re e de sua principal concorrente, a Swiss Re, neste ano. Ele também apostou na moeda brasileira. “Ele entende bem do assunto. Tem duas resseguradoras. Se comprou nossas ações é porque acha que elas estão baratas”, diz Bomhard.
A Munich Re registrou perdas de EUR 166 milhões com a crise do subprime. “Pouco se comparado aos EUR 180 bilhões em ativos”, diz o executivo. Para ele, os efeitos da crise ainda não acabaram. “Não vimos toda a crise ainda. O impacto nos bancos foi forte, mas em seguros, cartões de crédito e no índice de confiança do consumidor estão para ser revelados”. Só a AIG, maior seguradora do mundo em ativos, já divulgou perdas superiores a US$ 20 bilhões.
Uma boa lição que pode ser tirada da crise subprime é que as regras de compliance tem de ser usadas e não apenas criadas pelas empresas. “É preciso evitar os mesmos erros”, diz. Dentro deste cenário de volatilidade, Bomhard acredita que o gerenciamento de riscos dentro das empresas será mais valorizado. “Isto reforça a tendência das empresas em gerenciar riscos econômicos e não mais apenas riscos patrimoniais”.
No primeiro trimestre deste ano, a Munich Re divulgou lucro líquido de EUR 785 milhões, sendo EUR 586 milhões com resseguros e o restante com as operações de seguros administradas pela Ergo, seguradora controlada pelo grupo. Em resseguros, o grupo movimentou prêmios de EUR 5,5 bilhões no trimestre e de EUR 4,8 bilhões em seguros. A promessa do executivo aos acionistas é finalizar 2008 com retorno sobre o patrimônio na casa dos 15% e lucro entre EUR 3 bilhões e EUR 3,4 bilhões.