O mercado de seguros inteiro sempre precificou olhando pelo retrovisor. Mas, já começamos a olhar também pelo para-brisa. A afirmação foi feita pelo presidente da Porto Seguro, Roberto Santos, ao participar, nesta quarta-feira (28 de julho), de nova edição do “CQCS Inovação”. Segundo ele, no processo de análise do risco, olhar para tendências futuras e não apenas para as experiências passadas ajudaria na inserção de novos clientes no mercado de seguros. “Há uma grande quantidade de pessoas fora do mercado que até tem acesso à oferta do seguro, mas, por conta da experiência passada, acaba encontrando uma precificação inviável”, comentou Santos, que também é vice-presidente da CNseg.
Na visão dele, a tecnologia pode ajudar muito nesse processo, permitindo uma análise mais ampla, que não leve em conta apenas os riscos financeiros, incluindo o fato de a pessoa estar negativada.
Roberto Santos frisou ainda que, com a pandemia, as coisas se aceleraram e, em um ano e meio, o mercado de seguros avançou 10 anos. “Muita coisa foi criada, lançamos produtos, processos foram reformulados. Há dois anos atendíamos por telefone, agora, mais da metade do atendimento é digital”, destacou.
Sobre as mudanças regulatórias implementadas pela Susep, ele declarou que há pontos positivos, que podem aumentar a proteção securitária e a penetração do seguro, que ainda é baixa mesmo nos ramos mais tradicionais, como autos, residências ou vida.
Santos criticou, contudo, a proposta que introduz no mercado o Open Insurance, por entender que copiar o modelo adotado na área bancária não traz benefício algum para o mercado de seguros. “Não existe vigência de contrato na área bancária. O correntista não tem ninguém olhando por ele. No seguro há contratos e tem a figura do corretor, que orienta o segurado, indicando onde ele deve fazer o seguro de vida, do patrimônio, tomando como base a qualidade do serviço prestado pela seguradora e o custo. O corretor faz esse meio campo muito bem”, assinalou.
Outro participante do bate-papo foi o presidente da TransUnion, Juarez Zortea, para quem, após a pandemia, mesmo quem tinha restrição ou dificuldade para usar tecnologia, passou a usar, porque não há outra forma. “Na TransUnion, atuamos para melhorar a qualidade de vida das pessoas e o acesso a bens e serviços, utilizando a tecnologia para incluir mais gente. Ajudamos as seguradoras a entenderem melhor seus clientes”, explicou.
Segundo ele, é importante avaliar os dados disponíveis, como o que leva o Brasil a ter baixa penetração do seguro. “Apenas 15% da população tem alguma nota de crédito ou de risco suficiente para receber a oferta do seguro. Tem algo errado. Basicamente, há 65 milhões de pessoas negativadas por algum momento no passado. Muitas dessas pessoas estão negativadas porque sofreram fraudes. Além disso, 40 milhões são novos consumidores, que não têm histórico para serem avaliados como bons clientes ou não. Como vão entender esse cliente? Tem que usar tecnologia”, asseverou.
Ele disse ainda que é preciso entender comportamentos e que a tecnologia está aí para ajudar, transformando dados em informação e inteligência. “Tem muita gente com condições de pagar a conta que não está sendo atendido pelo mercado de seguros”, alertou.
Por sua vez, o CEO da Asteca Corretora de Seguros, Boris Ber, enfatizou que a pandemia acelerou a transformação digital, o que pode trazer benefícios para todo o setor. “O mercado está se transformando rapidamente. Tem coisas boas, simplificadas, que podem ajudar a buscar boa parte daquelas pessoas que ainda não fazem seguro ou fazem no lugar errado, nas associações de proteção veicular. A tecnologia pode ajudar, inclusive, aquele corretor pequeno, que ainda reluta em utilizá-la. As mudanças virão de qualquer jeito, não adianta ter medo, para o bem ou para o mal” observou.
Já o fundador do CQCS, Gustavo Doria Filho, disse que, a partir do momento em que passou a ter mais acesso à tecnologia, o corretor de seguros rompeu barreiras e está vendendo em qualquer lugar, mais atento a oportunidades, “O corretor nunca ficou atrás da tecnologia. Vencemos o telemarketing, a Internet. Não é para ter medo, é para cair dentro. Hoje, falam muito em dados e tecnologia. Dados são também para oferecer coisas que o cliente não sabe que precisa. Agora é a sua hora, mais do que nunca!”, completou.