Multinacionais especializadas na cobertura de grandes riscos já estão no Brasil para
o fim do monopólio do IRB
Conforme o nome sugere, resseguro é o seguro do seguro. Uma apólice contratada por
uma companhia do ramo que assume uma cobertura superior à sua capacidade financeira.
E repassa parte do risco a um mamute financeiro capaz de agüentar o tranco em caso
de sinistro. Pois bem, com a perspectiva de abertura do mercado brasileiro a
resseguradores internacionais, os mamutes estão chegando. Ou, mais precisamente,
reanimando-se depois de hibernar no País por anos, à espera da quebra do monopólio
do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). A alemã Munich Re, maior companhia do
setor no mundo, amplia no momento seu escritório em São Paulo. Sua principal rival,
a Swiss Re, desengavetou planos de investimento no País e abriu a temporada de
contratações para remontar sua equipe – que chegou a ter 43 funcionários e hoje está
reduzida a cerca de 15. Movimentos como estes multiplicam-se no mercado desde o
final de janeiro, depois da aprovação do projeto de lei que libera a competição no
setor em uma comissão da Câmara dos Deputados. A medida tem ainda de passar pelo
plenário da casa e pelo Senado, mas tem boas chances de ser ratificada até o fim do
ano.
Quando isto acontecer; estará aberto um mercado cobiçado pelo seu tamanho (R$ 2,6
bilhões contabilizados pelo IRB até novembro de 2005, principalmente com coberturas
de infra-estrutura, hidroelétricas e plataformas petrolíferas) e, sobretudo, por seu
potencial de crescimento. Estima-se que este faturamento anual poderá dobrar quando
as companhias internacionais começarem a operar para valer no País. E que os preços
dos resseguros cairão até 20% com a entrada de novas empresas no setor, dando novo
gás ao mercado segurador brasileiro. “Vão surgir novos serviços”, prevê Walter
Polido, diretor da Munich Re no Brasil. Por exemplo, seguros contra erros e omissões
de executivos de empresas – um tipo de apólice de responsabilidade civil pouco
difundida no País.
“0 Brasil é a principal aposta global do setor”, afirma Henrique Oliveira, principal
executivo
brasileiro da Swiss Re – uma das primeiras resseguradoras a desembarcar no Brasil,
em 1997, quando se aventou pela primeira vez a abertura do mercado brasileiro. Desde
então, 20 companhias do ramo abriram escritórios no País e 11 delas já desistiram de
esperar. 0 que se tentava durante os anos FHC era a privatização do IRB. Principal
opositor da idéia, o PT contornou o problema ao assumir o poder, propondo a
liberação do setor à concorrência, mas mantendo o IRB como um dos players do mercado
e sob o controle do Estado.
A abertura do mercado deve provocar, também, uma onda de parcerias entre
multinacionais de resseguro e grandes seguradoras nacionais. A Itaú Seguros deu
início ao movimento, firmando uma joint venture com o grupo XL Capital (com sede em
Bermudas e US$ 55 bilhões em ativos) para criar uma companhia de grandes riscos
industriais e comerciais. “Ótimo negócio para o Itaú, que terá sua própria
resseguradora, deixando de depender do IRB”, avalia Nilton Queiroz, responsável pela
área de resseguro da corretora Ropner. A seguradora do Unibanco, por sua vez, já tem
parceria com a AIG, que possui experiência em análise de grandes riscos e opera com
resseguros no exterior. Portanto, as atenções do mercado voltam-se agora para Sul
América e Bradesco Seguros.
Esta última já conversou com a francesa Axa e com a Swiss Re, mas no momento parece
próxima de algum tipo de associação com a Munich Re.