Notícias | 5 de novembro de 2008 | Fonte: DCI - Comércio, Indústria e Serviços | Finanças

Itaú e Unibanco formam maior banco do País

Fusão cria instituição degrande atuação no mercado internacional em prazo de cinco anos. América Latina seria alvo inicial do novo banco

Com uma forte vocação para incrementar suas operações no exterior e se tornar um global player, a instituição nascente da fusão entre Itaú e Unibanco, a Itaú Unibanco Holding já surge como o maior grupo financeiro do Hemisfério Sul. O marco do avanço das negociações por parte dos presidentes do Itaú e do Unibanco, Roberto Egydio Setubal e Pedro Moreira Salles, respectivamente, foi a aquisição do banco Real pelo grupo Santander, quando surgiu um novo tipo de concorrência no mercado nacional.

Segundo Moreira Salles, até então não havia no País bancos estrangeiros que também fossem fortes no mercado interno. “Os bancos estrangeiros sempre tiveram uma dimensão menor no País. A fusão é uma conseqüência direta do crescimento do Santander.” Ainda segundo ele, o objetivo inicial traçado nas negociações com Setubal é chegar à condição de um grande banco global em cinco anos.

“A instituição já nasce com forte presença no Mercosul, mas o primeiro passo é trabalhar na integração das operações”, completa Setubal, que assumirá o cargo de presidente executivo.

Para os executivos, a América Latina seria um “local natural para ampliar a presença”, principalmente México, Colômbia e Peru, mercados atrativos por estarem em expansão econômica.

A fusão entre os bancos Itaú e Unibanco coloca a instituição resultante na primeira posição no País por total de ativos, com R$ 575,1 bilhões, superior a Banco do Brasil, que tem R$ 403,5 bilhões e Bradesco, com R$ 348,5 bilhões. O banco seria a 17º instituição financeira do mundo por capital financeiro. Segundo cálculos da consultoria Economatica, o banco formado pela combinação dos ativos dessas duas instituições será a quarta empresa em valor de mercado da América Latina, atrás apenas da Petrobras, da Vale e da mexicana América Móvil. Em 31 de outubro, o valor de mercado da união de Itaú e Unibanco seria um total de US$ 41,323 bilhões. Ainda segundo a consultoria, o banco ocuparia a nona posição no ranking dos maiores bancos de capital aberto por ativos dos Estados Unidos e América Latina, com US$ 324,041 bilhões. O Banco do Brasil ocupa o 10º lugar, com US$ 261,639 bilhões em ativos, enquanto o Bradesco está em 12º, com US$ 220,815 bilhões, e o Santander em 15º, com US$ 171,410 bilhões.

De acordo com comunicado emitido pelas instituições, será criada uma nova controladora (holding) e o controle será compartilhado entre o grupo Itaúsa e o Unibanco. De acordo com as instituições, no acumulado do ano até setembro, o Itaú Unibanco Holding tinha um lucro líquido total de R$ 8,1 bilhões e patrimônio líquido que chega a um total de R$ 51,7 bilhões. A nova holding ainda contará com com uma carteira de crédito de R$ 225,3 bilhões, excluídos avais e fianças, cerca de 19% do mercado brasileiro. A instituição criada também contará com R$ 235,1 bilhões em depósitos e debêntures.

Salles e Setubal classificaram a crise financeira como oportunidade para a realização da fusão. “Nos obrigou a acelerar o processo que já vínhamos discutindo e fazê-lo acontecer”, disse o presidente do Itaú. Setubal também vê, como benefício da fusão, o aumento da diversificação da carteira de crédito da instituição. “Isso melhora nossa capacidade de expandir a concessão de crédito”, avalia ele. A nova instituição, que ainda aguarda aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para ser formada, terá o Conselho de Administração composto por 14 membros, seis indicados pelos controladores da Itaúsa e pela família Moreira Salles, e oito serão independentes.

Seguros

No mercado de seguros, a entidade financeira nasce com uma participação de 17%, atrás da Bradesco Seguros e Previdência, com 25% de market share. Em previdência, o novo conglomerado lidera e terá 24% do mercado. Tanto o Itaú como o Unibanco têm participações em previdência aberta (aquelas que têm os planos de previdência complementar de seus funcionários administrados por uma empresa especializada) e fechada (fundos de pensão, em que a própria empresa administra os planos de seus funcionários). Moreira Salles confirmou ainda que o Unibanco segue interessado na aquisição da parte do AIG nas operações da seguradora, porém o processo é mais complicado agora que a parceira está sob intervenção do Federal Reserve (Fed).

Representantes do mercado de previdência fechada avaliam como positiva a fusão anunciada ontem. Para o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), José de Souza Mendonça, a medida vai fortalecer as operações dos bancos, que terão mais espaço para operações internacionais. Bertoldo Veiga, Presidente da Caixa dos Empregados da Usiminas, diz que a medida “vai causar impacto no setor de previdência aberta e gerar mudança no ranking do mercado”.

Em relação à mudança das operações dos fundos com a fusão das duas carteiras, João Carlos Melo, membro do conselho deliberativo da Bandprev-Bandepe Previdência Social (entidade de previdência privada fechada sucessora da CAPRE, a Caixa de Previdência e Assistência dos Funcionários do Banco do Estado de Pernambuco S.A. -Bandepe), acredita que não haverá grandes implicações, já que as duas carteiras têm, basicamente, o mesmo perfil de operações.

Mais compras

O surgimento de um novo líder do setor bancário brasileiro já provoca uma série de boatos em relação a novas transações entre bancos do País. Banco do Brasil e Bradesco, antes líder e vice-líder do mercado em número de ativos, são os principais alvos de comentários. Segundo analistas, a fusão entre Itaú e Unibanco pode forçar os ex-líderes a procurarem instituições para comprar, reduzindo a distância aberta pela nova instituição. Entre os alvos, estariam o Banco Votorantim e a Nossa Caixa, que já negocia com o BB. O banco estatal negocia ainda com o Banco de Brasília (BRB) e Banco do Estado do Piauí (BEP). Para o especialista em finanças e professor do Ibmec Gilberto Braga, porém, a primeira reação do Bradesco será bombardear a operação da Nossa Caixa com o BB. “O Bradesco já vinha reclamando e agora terá muito mais razão, porque provavelmente estará mais disposto a abrir os cofres para levar a Nossa Caixa e encurtar a distância com o Itaú, com quem vem competindo cabeça a cabeça. Agora o governo vai ter muita dificuldade em justificar a venda da Nossa Caixa para o BB sem licitação pública. O Bradesco, se já era comprador, agora tem muito mais apetite. Será interessante assistir a este desfecho”.

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