Notícias | 9 de maio de 2006 | Fonte: Fonte: VALOR/SP

Inovação tecnológica não inibe alta de preços do seguro do carro

Mauro Cezar Pereira

A segurança é uma das palavras-chave no universo automotivo e, conseqüentemente, nos seguros dos carros.

A evolução dos veículos sobre rodas faz com que se tornem menos perigosos. E isso se reflete entre as seguradoras.

Afinal, são essas empresas que avaliam os fatores responsáveis pela formação do custo da apólice e suas coberturas específicas. Mas o resultado final, ou seja, o preço pago pelo segurado, não cai na mesma velocidade das inovações tecnológicas.

Tanto que em 2005 os seguros automotivos ficaram 15% mais caros contra uma inflação (IGP-M) de 6,4%, ou seja, um crescimento real acima dos 8%. Entender isso não é difícil. Os carros mais seguros, com mais tecnologia embarcada, também têm maior o valor agregado.

Ou seja, ficam ainda mais atraentes para os ladrões. Isso eleva o risco e o custo do seguro, que acompanha o preço do veículo.

O que poderia fazer o preço cair? `A diminuição da freqüência das perdas totais, o que estatisticamente não vem sendo registrado, além da queda do custo médio do reparo, que na verdade sobe com modelos mais sofisticados. São fatores determinantes no preço da apólice`, diz Luiz Roberto Castiglione, da Academia Nacional de Seguros e Previdência e do Instituto Roncarati.

`Na Europa, houve um grande avanço que pode ser comprovado pelos testes da EuroNCAP. Aqui no Brasil, muito ainda precisa ser feito`, diz Jean-Marie Mortier, da Euroconsumers, instituição voltada à defesa do consumidor que atua em países europeus. Ele esteve no país em um seminário sobre segurança automobilística, onde afirmou que o mercado de seguros lá fora já reflete um cenário de acidentes menos freqüentes, com redução de custos. `É por esta razão que autoridades e seguradoras participam de instituições como a EuroNCAP`, diz, referindo-se à entidade que faz testes para avaliar segurança em automóveis.

No Brasil, a entidade com esse fim, mantida com ajuda das próprias seguradoras, é o Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi). É uma empresa certificadora/avaliadora de quesitos técnicos para fins de seguros. A ela as montadoras encaminham veículos para avaliações e crash-tests.

Simone Sartor, gerente da SulAmérica, acrescenta que os dados do Cesvi servem como referência para a determinação dos valores de prêmio e franquia.

Novas tecnologias permitem absorver boa parte do impacto em colisões. São avanços indiscutíveis para a redução de fatalidades em acidentes. `Mas nada disso reduz a principal causa de acidentes, a imprudência dos motoristas`, diz Walter Pereira, diretor de seguros massificados da Tokio Marine.

Luiz Antonio Mac Dowell, diretor técnico da BB Seguros/Brasilveículos, lembra que nos anos 30 o conceito era o oposto do atual. Os carros que permaneciam `inteiros` após uma batida ganhavam fama de mais `seguros`. `Os crash-tests resumiam-se a jogar veículos de precipícios e assisti-los capotar. Hoje vemos que as carrocerias deformáveis, com maior poder de absorção de impacto, salvam inúmeras vidas`, compara.

No Brasil, a evolução da segurança facilita as coisas para as companhias de seguro? `Quanto maiores as condições de segurança do veículo, menor é o risco e, conseqüentemente, isso se reflete no prêmio`, simplifica Claudio Afif Domingos, vice-presidente da Indiana. Para ele, na prática, as seguradoras nacionais já oferecem os mesmos produtos existentes em outros países.

As diferenças decorrem de questões como poder aquisitivo, distribuição de renda e regulamentações jurídicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Seguro de Responsabilidade Civil de veículos é obrigatório, enquanto no Brasil, não. O mercado brasileiro, por sinal, proporcionalmente, tem menor número de contratações de seguros do que a maioria dos países ricos.

Para Mac Dowell, o mercado está agregando aos seus produtos benefícios diretamente ligados à segurança do automóvel, não somente para conquistar novos clientes. `As seguradoras devem ter como foco incentivar a cultura da prevenção, que reduz acidentes. Todos saem ganhando`, afirma. De fato, as companhias atualizam suas estatísticas e consideram nos preços as melhorias captadas. Um exemplo é o breaklight, a terceira luz de freio que há alguns anos não tinha sua instalação difundida.

E o perfil dos acidentes mudou em função dos sistemas de segurança dos veículos. Isso se reflete de maneira positiva no mercado de seguros. `A redução da freqüência de colisões tem produzido uma queda em indenização por esses acidentes`, analisa Afif, da Indiana.

Pereira acredita que os acidentes atuais são mais violentos que há algumas décadas. Ele argumenta que os veículos estão mais rápidos e os motoristas mais imprudentes. No longo prazo, prevê, os seguros tendem a fixar taxas mais altas e restrições maiores: `Mais de 50% dos acidentes são causados por erro humano.`[1]

A questão do momento é a utilização do cinto de segurança no banco de trás, acredita Mac Dowell. `O passageiro solto pode se projetar para frente, sofrendo lesões sérias, e até mesmo ferindo quem está no banco da frente`.

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