Notícias | 16 de setembro de 2024 | Fonte: CQCS | Adriane Sacramento

Desafios climáticos e a importância da IA na avaliação de riscos

As fortes chuvas e enchentes que ocasionaram a recente catástrofe no Sul não estão ligadas apenas aos fenômenos naturais e às ações humanas, mas a uma situação de circulação atmosférica complexa. A aplicação de inteligência artificial, por sua vez, pode ser a chave para avaliar riscos climáticos e antecipar ações.

Esse e outros debates foram levantados durante o segundo – e último – dia do 1º Fórum IRB(P&D). Encerrado na quinta-feira, dia 12 de setembro, o evento promoveu um encontro técnico-científico, e, à tarde, pesquisadores e representantes de startups apresentaram pesquisas, cases e soluções para combater e mitigar os efeitos de fenômenos climáticos como o El Niño, que se formam cada vez mais intensos e em intervalos menores.

Francisco Eliseu Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), durante o painel “Fenômenos Físicos Atmosféricos”, pontuou que as fortes chuvas e enchentes no Sul resultam não só de fenômenos naturais e ações humanas, mas também de uma circulação atmosférica complexa. O especialista explicou que houve contrastes entre a onda de calor no Centro do país, o aumento da seca e o ar frio da Antártica ao Sul, bem como ciclones extratropicais. “Essa junção favoreceram os eventos climáticos extremos vivenciados no Sul. Com isso, uma série de impactos e riscos são gerados e podem acontecer novamente”, disse. 

Aquino afirmou ainda que provavelmente nunca se viu no Brasil tanta chuva concentrada em uma única bacia hidrográfica. Ele destacou que as severas enchentes que atingiram as cidades do Vale do Taquari (RS) ocorreram três vezes em menos de um ano, sem que qualquer política pública fosse implementada.

Glauber Ferreira, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), apresentou pesquisas sobre a estação chuvosa, secas hidrológicas e extremos climáticos. Seus estudos mostraram precipitação no Norte do Brasil, aumento de chuvas no centro-sul e na Bacia do Prata, e aumento de dias consecutivos secos e úmidos na Amazônia.  “Estudamos a ocorrência de secas hidrológicas no Brasil e concluímos um aumento da frequência desses episódios de até 65% na região Centro-Oeste, além da maior duração dessa seca no Norte, Nordeste e Centro-Oeste podendo chegar a 100% e 90% nas duas últimas regiões citadas”, destacou. 

Impacto do El Niño

Regina Rodrigues, representando o Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), trouxe à tona o impacto do El Niño nos processos físicos das mudanças do clima e dos eventos extremos, pontuando que, neste caso, trata-se de um fenômeno natural afetado pelas mudanças climáticas. Como consequência, seus efeitos são intensificados. “Esse fenômeno climático promove alterações nos ecossistemas terrestres e marinhos. Há impacto nos sistemas humanos, na segurança hídrica, alimentar e energética”, ressaltou. 

A oceanógrafa explicou que o El Niño e as mudanças climáticas reduziram a precipitação e intensificaram a seca devido ao aumento da temperatura global. As transformações aumentam em dez vezes a chance de eventos meteorológicos e em 30 vezes a seca hidrológica. O El Niño também causou grandes prejuízos econômicos, com perdas de US$ 4,1 trilhões nos anos 80 e US$ 5,7 trilhões entre 1997 e 1998. A previsão é de mais eventos de El Niño e La Niña no futuro.

IA na avaliação de riscos climáticos

Para avaliar riscos climáticos, a aplicação de inteligência artificial é fundamental, segundo a gerente de pesquisa da IBM, Bianca Zadrozny. “Quantificar ameaças climáticas em uma escala local ao longo de diferentes horizontes de tempo e estimar adequadamente os riscos visando a tomada de decisões é crucial para a adaptação às mudanças climáticas”, disse. A IA, por sua vez, favorece a concretização deste objetivo gerando respostas e aprendizados diante do impacto climático na sociedade, pontuou a especialista.

Modelagem computacional para prever eventos climáticos extremos

Também no segundo dia do Fórum IRB(P&D), p chefe de Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do Inpe, Saulo Ribeiro, destacou a modelagem computacional como um instrumento relevante para prever eventos climáticos extremos. “Temos desenvolvido modelos de previsão do tempo, por exemplo, que permitem a prevenção de eventos climáticos, como chuvas e tempestades com mais precisão e maior antecedência buscando soluções de evitá-los”, enfatizou.

O Inpe já criou modelos para ajudar o setor agropecuário melhorando as safras e auxiliando a Defesa Civil. Ribeiro destacou que a Financiadora de Estudos e Pesquisas (Finep), do governo federal, vai realizar um investimento de R$ 200 milhões na aquisição de um supercomputador para o instituto seguir desenvolvendo projetos de modelagem.

Confira aqui o registro do segundo dia do 1º Fórum IRB(P&D).

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