O mercado de corretoras de seguros no Brasil passa por um momento de intensa movimentação, com o apetite de grupos nacionais e estrangeiros por aquisições e a busca por novas fatias de um setor ainda altamente pulverizado. Ao contrário do que ocorre com as seguradoras, não há um ranking oficial das maiores corretoras do país, mas dados extraoficiais apontam que as primeiras posições costumam ser ocupadas por empresas ligadas a instituições financeiras. Segundo matéria divulgada pelo Valor Econômico no dia 30/06, esse cenário, no entanto, vem sendo desafiado por corretoras independentes e grandes players globais.
Segundo informações divulgadas pelo Valor Econômico, de acordo com o ranking 2024 da Business Insurance, seis das dez maiores corretoras do mundo, Marsh, Aon, Gallagher, WTW, Acrisure e Lockton, já operam no Brasil e vêm expandindo suas atividades tanto por meio de crescimento orgânico quanto por aquisições de corretoras locais. As áreas de maior interesse incluem infraestrutura, resseguros e agronegócio. Este último, em especial, apresenta vasto potencial: apenas 7,6% da área cultivável do Brasil está protegida por seguro rural, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, FGV Agro e IBGE.
O tamanho do mercado também chama atenção. Segundo dados de 2024 da Susep, o Brasil possui 57.455 corretoras de seguros cadastradas, a maioria de pequeno porte, voltadas para produtos de automóvel e ramos elementares para pessoa física. Já as corretoras especializadas, com foco em nichos estratégicos, estão no radar dos grandes grupos, que vislumbram espaço para crescimento.
A CNseg projeta que o setor de seguros encerre 2025 com crescimento de 10% em relação a 2024, quando o mercado somou R$ 435,56 bilhões em receitas, 12,2% a mais que no ano anterior.
Exemplo desse movimento é a Alper Seguros, que segue com forte estratégia de aquisições. Em 2024, a empresa pagou quase R$100 milhões pela Fracel, corretora catarinense especializada em fertilizantes e na cadeia produtiva animal, a quarta aquisição da Alper no setor agro.
Para Marcos Couto, CEO da Alper, que atende clientes Cosan e SLC, a empresa está se dedicando ao crescimento no Brasil. “Somos a maior consolidadora do mercado nacional. Apenas neste ano, compramos mais cinco corretoras, totalizando 24 operações de M&A nos últimos oito anos sob minha gestão. Desde sua fundação, em 2010, foram 72 aquisições”, afirmou ao Valor Econômico.
Desde 2024, o controle da Alper está nas mãos do grupo norte-americano Warburg Pincus, que avaliou a corretora em R$ 850 milhões e impulsionou a capacidade de investimentos da companhia. “Focamos em corretoras especialistas, nas quais 70% da receita está concentrada em um ou dois ramos. Assim, absorvemos bons executivos para nosso negócio”, completou Couto. Só em 2025, a empresa prevê aplicar R$ 400 milhões em aquisições.
Outro player de destaque é a norte-americana Acrisure, que chegou ao Brasil em 2021 ao adquirir a It’sSeg. Sob comando de Thomaz Menezes, Co-founder & CEO da companhia, a corretora já realizou 15 aquisições, concentradas em benefícios e ramos elementares. “Hoje, processamos R$ 5,4 bilhões em prêmios, temos mais de dois milhões de vidas seguradas, 900 colaboradores e 16 escritórios. A Acrisure tem um perfil semelhante, já fez mais de 900 operações de M&A em dez anos”, disse Menezes.
A compra mais recente da It’sSeg foi da Finn, plataforma digital de seguro garantia. “Nosso foco são contratos de menor complexidade, como litígios trabalhistas e demandas judiciais de impostos. No ano passado, emitimos R$ 150 milhões em prêmios nesse ramo e queremos crescer 25% em 2025”, destacou. Ai Valor Econômico, Menezes apontou que a meta é dobrar o tamanho da operação nos próximos três anos, com planos de expansão para Argentina, México, Colômbia e Peru.
Na contramão das aquisições, o grupo WTW aposta no crescimento orgânico, com foco em tecnologia e capacitação. “Crescemos 53% nos últimos três anos de forma orgânica. Não sou contra aquisições, mas temos fortaleza técnica da marca, da reputação e da entrega que nos permite entrar nos mercados desejados”, afirmou Eduardo Takahashi, CEO da WTW Brasil. Com cerca de mil funcionários, sendo 25% em funções gerenciais com formação específica, a empresa aposta na especialização, principalmente no agronegócio, onde atua desde seguros paramétricos até serviços de resiliência climática.
Já a Gallagher, terceira maior corretora global, intensificou sua presença no Brasil após cinco anos de operação. “No início, crescemos organicamente 25% e depois partimos para M&A”, explicou Luiz Araripe, country manager da Gallagher. A empresa adquiriu o grupo Interbrok, focado em ramos elementares e resseguros, e o grupo Case, especializado em benefícios corporativos e saúde. A meta para 2025 é alcançar R$ 3,5 bilhões em prêmios.
Outro modelo que vem ganhando espaço é o da Minuto Seguros, maior corretora 100% digital do país. Fundada há dez anos, inicialmente focada em seguro Auto, a empresa emitiu mais de 1,2 milhão de apólices e faturou R$ 2,4 bilhões em prêmios. Desde sua aquisição pela Creditas, em 2021, a operação se diversificou. “Cerca de 90% dos clientes de Auto renovam o seguro conosco e 37% da carteira de ramos elementares veio de clientes que entraram via Auto”, diz Renato Gonçalves, VP de Sales & Customer da Minuto Seguros. O segmento de frotas também está no radar. “Já trabalhamos com seguros de frotas com mais de 1,5 mil veículos”, completou.
Na MDS, o foco segue em M&A e parcerias com instituições financeiras. Ariel Couto, CEO da instituição, a empresa fez aquisições significativas nos últimos anos. “Nos últimos sete anos, realizamos 15 aquisições de corretoras em nichos distintos e ampliamos a atuação na América Latina”, afirmou. Em 2024, a compra da D’Or Consultoria, especializada em benefícios, elevou o volume de prêmios da MDS de R$ 4,5 bilhões para R$ 10 bilhões. A operação, estimada em R$ 800 milhões, reforçou a presença da companhia, hoje parte do grupo inglês Ardonagh.
Já a Globus Seguros, segundo informações do Valor Econômico, aposta no modelo “white label”, no qual desenvolve tecnologias para corretoras parceiras manterem suas marcas. “É um modelo disruptivo no setor. Gera maior alinhamento com os sócios”, afirmou Christian Wellisch, CEO da Globus. Em 2024, a empresa emitiu R$ 400 milhões em prêmios, com foco em seguro garantia, benefícios e vida em grupo.
O setor segue em plena ebulição, com players globais, nacionais e digitais disputando espaço em um mercado em transformação, que combina potencial de crescimento, oportunidades regionais e a necessidade de inovação contínua.