Notícias | 17 de novembro de 2003 | Fonte: Valor Econômico

Companhias vendem menos e elevam preço

Os consumidores devem preparar o bolso. As companhias de seguros pretendem aumentar os preços para compensar perdas que tiveram este ano, principalmente com a carteira de automóveis. Perdas com seguros não são novidade, na verdade já vinham sendo registradas desde o ano passado.
A grande mudança este ano – e que deve se acentuar em 2004 – é a queda das taxas de juros. As seguradoras sempre garantiram bons resultados líquidos a partir dos elevados rendimentos com as aplicações das reservas dos segurados no mercado financeiro, a altas taxas de juros. Esses ganhos compensam (e superam) as perdas operacionais. Agora, com a queda dos juros, essa fonte se reduziu muito e tende a cair ainda mais.
Mas além da questão dos juros, as vendas estão em baixa. De acordo com um estudo da Itaú Seguros, o volume de prêmios arrecadados pelas seguradoras, descontado da variação da inflação (pelo IGPM) e segregado entre os principais ramos, aponta para uma queda da participação dos seguros de risco em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Essa participação caiu a 1,47% em 2003 (tomando por base as projeções oficiais), saindo de 1,61% em 2001 e 2002. A maior participação foi registrada em 1997, com 1,66% (veja quadro).
“O ano que vem pode haver aumento de preços para compensar a queda dos juros”, afirmou José Roberto Haym, vice-presidente Executivo da Unibanco AIG Seguros, quinta-feira ao anunciar o balanço da seguradora referente aos primeiros nove meses de 2003.
Pelo balanço divulgado, a Unibanco é uma das empresas que está com prejuízo na operação de seguros, mas garantiu bons lucros ao grupo Unibanco com a aplicação das reservas – além dos negócios em previdência, capitalização e seguros corporativos.
“Todos já estão aumentando os preços”, revela Hélio Novaes, vice-presidente executivo do grupo Sul América ING. Questionado se um reajuste de preços não provocaria o efeito inverso, de encolher ainda mais as vendas, Novaes disse que a queda de juros terá um efeito compensatório de ampliação da renda da população, viabilizando, dessa forma, um crescimento das vendas de seguros.
Segundo o vice-presidente executivo da Sul América, não há alternativa para recuperar os ganhos financeiros das seguradoras. É que a aplicação das reservas técnicas dos segurados segue padrões rígidos de alocação em determinados ativos, de perfil altamente conservador. A maior parte do dinheiro fica aplicada em títulos do Tesouro Nacional de renda fixa. Não é possível buscar rendimentos maiores em aplicações de maior risco.
Para o consultor Luiz Roberto Latini, sócio da G5 Solutions, uma empresa especializada em mercado segurador, houve uma mudança de foco dos investimentos das grandes seguradoras, que já vem de alguns anos. Enquanto os seguros de acumulação (previdência, PGBLs, VGBLs e títulos de capitalização) cresceram a taxas de três dígitos, os seguros de risco (veículos, acidentes pessoais e riscos industriais) tiveram a maior queda dos últimos sete anos.
Esse movimento pode ser observado no levantamento da Itaú, que aponta a participação dos ramos sobre o PIB. A queda de participação começa a se reverter quando se soma aos seguros gerais os ramos saúde, Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) – que é um seguro de acumulação, embora seja registrado como vida – e aos demais planos de previdência. No final, o índice sobe para 2,8%, em comparação com o PIB, praticamente estável em comparação com 2002.
Um levantamento da G5 Solutions acrescenta a esses números o desempenho das vendas de títulos de capitalização. E nesse caso, o mercado sobe para 3,3% do PIB, com uma projeção de atingir R$ 52 bilhões em faturamento em 2003. O motor dos seguros de acumulação é a reforma da Previdência, que levou um grande número de pessoas a adquirir os planos PGBL e VGBL, não apenas para formar uma reserva para a aposentadoria mas também pelo benefício fiscal que eles proporcionam. Por outro lado, a pedra que puxou o mercado de seguros de risco para baixo é a recessão e o desemprego que, além de reduzir as vendas – principalmente de seguros voltados ao varejo como veículos, acidentes pessoais e residencial – elevou o índice de sinistros (acidentes, roubos e furtos).
“As companhias de seguros, principalmente as ligadas a bancos, aumentaram os negócios com produtos de acumulação (previdência, PGBL e VGBL) e capitalização, e deixaram de crescer na cobertura de riscos”, analisa Latini. Para ele, isso significa o afastamento do que é a razão de ser da seguradora: a assunção de riscos.
Para este consultor, a queda da atividade econômica não é motivo convincente para as seguradoras elevarem o custo do seguro para o consumidor. É verdade, diz ele, que as vendas de seguros de automóveis caíram fortemente (8,5% em termos reais em 2002, pelos cálculos da G5 Solutions). Entretanto, as seguradoras deveriam buscar um aumento de escala nas vendas de seguros, criando produtos específicos – mais baratos, com coberturas mais restritas – para levar o seguro para as classes de renda C e D, de forma a diluir o prejuízo em uma base mais ampla de receitas. “Colocar a culpa na recessão é fácil. A questão é ter agilidade para buscar novos mercados”, afirma Latini.
Autor: Janes Rocha

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