Notícias | 26 de novembro de 2003 | Fonte: Valor Econômico

Companhias focam estratégia na massificação dos seguros

A popularização dos seguros e a abordagem dos consumidores de baixa renda entraram na pauta das companhias seguradoras. As duas maiores empresas do mercado, a Bradesco Seguros e a Sul América, preparam produtos para oferecer ao público que hoje não tem acesso a seguros.
A Bradesco vai lançar, em 2004, um novo seguro de vida voltado para a população de baixa renda, que vai custar a partir de R$ 9 por mês, com coberturas limitadas de acordo com a idade do contratante, anunciou ontem o presidente do grupo Bradesco Seguros, Luiz Carlos Trabuco Cappi.
A Sul América abriu uma divisão para atuar com seguros massificados e já iniciou um contrato com a rede de lojas de departamento C&A, oferecendo aos clientes da rede holandesa apólices de baixo custo, cobrados na fatura dos cartões de crédito da C&A, informou João Regis Ricardo dos Santos, vice-presidente de marketing da companhia.
Trata-se de uma tentativa de recuperar as vendas de seguros, que já há alguns anos vêm perdendo participação na economia nacional, conseqüência da estagnação econômica, o elevado desemprego e a queda brusca da renda da população.
A massificação está sendo apontada como o caminho para a retomada do desenvolvimento do mercado segurador e foi um dos temas em debate no segundo dia da 2ª Conferência Brasileira de Seguros, Resseguros, Previdência e Capitalização, promovida pela Federação Nacional das Empresas de Seguros (Fenaseg) no Rio de Janeiro.
Porém não há consenso sobre o assunto. A tese da massificação dos seguros vem sendo defendida por René Garcia, titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), “xerife” do mercado segurador, desde que tomou posse no cargo este ano. E embora estejam empenhadas em liderar um movimento de popularização, as grandes seguradoras ainda não estão convencidas de que a simples redução de preços e margens seja suficiente para incluir o consumidor de baixa renda.
“É impossível popularizar seguros que cobrem riscos elevados”, diz Trabuco, da Bradesco, instituição ligada a um grupo financeiro bastante familiarizado com a população de baixa renda. Segundo ele, a Bradesco conseguiu baratear apólices, oferecendo coberturas “muito elementares” para incêndio e explosão em residências, por exemplo, mas deixando de fora o roubo, que é o grande risco (e o mais caro) em um seguro residencial. “Se eu fizesse um seguro para roubo, ele não seria popular”, pondera Trabuco.
“A massificação vai demorar porque o mercado (segurador) não compreende esse público (das classes de renda C, D e E), que não tem dinheiro para comprar seguros”, reiterou Julio Bierrenbach, presidente da Real Seguros – empresa ligada ao grupo holandês ABN AMRO.
“A massificação é o grande desafio do mercado. Mas depende da renda, as pessoas não têm dinheiro para comprar seguro”, concorda João Elíseo, da Fenaseg. Já René Garcia acha que o mercado tem mecanismos disponíveis para suplantar a barreira da falta de renda da população. Os obstáculos mais importantes para a popularização do seguro, explica João Regis, da Sul América, é o custo de cobrança e distribuição.
É possível oferecer um seguro de vida e acidentes pessoais, diz Regis, com cobertura limitada a R$ 15 mil ou R$ 20 mil, ao preço de R$ 1,60 ou R$ 2,00 por mês. Entretanto, a cobrança, mesmo que pelos métodos mais simplificados de mala direta, custam mais que isso em postagem. Para o corretor de seguros não vale a pena ir até a casa do cliente porque ele gastaria até mais que o valor da mensalidade em uma simples passagem de ônibus.
Regis acredita que a única forma de viabilizar a venda de seguros massificados é através de contratos com grandes redes, como a que a Sul América está fazendo com a C&A, que aproveitam um canal já estruturado pela rede para acessar e cobrar os clientes. Não é propriamente uma novidade, algumas seguradoras como a ACE e a Assurant já fazem seguros massificados há anos com as empresas de concessões públicas de eletricidade, telefonia e gás, e outras redes de varejo.
Autor: Janes Rocha

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