Mesmo sem medalha, o cavaleiro Stephan Barcha conseguiu o melhor resultado do Brasil na prova individual olímpica dos saltos no hipismo em 20 anos. Barcha, montando a égua Primavera, terminou na quinta posição na final individual dos saltos nos Jogos Olímpicos Paris 2024, prova realizada na terça-feira (6).
Os equinos dedicados ao esporte são preparados muito tempo antes de um evento deste porte. Um exemplo disso é justamente a égua Primavera (Chevaux Primavera Império Egípcio), que tem 13 anos, vive na Bélgica e é considerada a melhor competidora nacional da raça brasileira de hipismo.
Exposição ao risco
Os equinos dedicados ao hipismo precisam de cuidados e proteção especial para minimizar os riscos inerentes ao esporte, começando na reprodução. “Os animais com boa linhagem para hipismo são testados a partir dos quatro anos de idade, começando a competir com provas básicas. Os equinos com aptidão e sucesso no esporte continuam sendo treinados para competições durante todo o ciclo de vida”, afirma Fabio Camargo, responsável técnico de seguro de animais da FF Seguros, fornecedora do seguro que protege Primavera desde 2020.
A rotina dos animais recrutados para o esporte varia de acordo com a modalidade. Há treinos específicos, que podem ser diários, além de alimentação balanceada, baias desenhadas para evitar o estresse, sessões de fisioterapia e até de acupuntura.
“Os treinos e competições exigem esforço físico intenso, então a principal preocupação é evitar lesões musculares ou de ligamentos que poderiam exigir meses de recuperação. Uma lesão compromete o rendimento ou pode até inviabilizar a participação do animal em competições importantes. Além disso, após uma lesão, pode ser necessário realizar cirurgia para reconstruir ligamentos ou remover fraturas, gerando outros prejuízos”, explica Camargo.
Para se ter uma ideia, dizem os especialistas, durante as provas de saltos, os animais ficam expostos a riscos de fraturas na aterrissagem, já que encaram obstáculos de até 1,60 metros de altura e 1,80 metros de largura.
Também é preciso ter cuidado no transporte dos equinos até os locais de competições. A logística é complexa, visando garantir a segurança, o bem-estar animal e a conformidade legal de documentação dos competidores. Os equinos viajam em avião cargueiro equipado e são acompanhados por tratadores especializados para monitorar a saúde do animal durante o voo, além de minimizar os efeitos do estresse durante o transporte.
Eduardo Toledo, vice-presidente da corretora Alper Re, conta que os equinos enfrentam uma série de riscos distribuídos ao longo de todo o processo de participação em competições – sejam durante os treinos, transporte ou nas etapas competitivas em si. “Durante o transporte, por exemplo, eles podem sofrer acidentes que resultam em lesões graves ou até fatais. Nos treinos, a intensidade das atividades pode levar a lesões musculares, fraturas e outras condições. Nas competições, há sempre o risco de lesões agudas, como entorses ou quedas. Além de tudo isso, sempre existe o risco de roubo e desaparecimento do animal, especialmente em eventos de grande porte”, ressalta.
Proteção dos animais
Apesar do zelo com o manejo, os animais de hipismo podem sofrer lesões e enfrentar imprevistos que levam ao óbito. A morte de um cavalo-atleta representa mais do que um prejuízo para o esporte e perda afetiva para o proprietário porque esse tipo de animal representa um ativo de valor milionário.
De acordo com Camargo, da FF, é uma prática comum contratar seguro para os equinos que participam de competições. “A grande maioria de nossos animais segurados são competidores dos mais diversos esportes equestres, como hipismo, corrida, vaquejada, três tambores”, ele complementa.
O especialista diz ainda que “o valor do investimento no seguro vai depender de diversas variáveis na hora da contratação, a depender do perfil do risco”. A seguradora não informa o valor do seguro da égua Primavera, mas para se ter uma ideia de valores de cobertura, a FF divulga que a proteção que comercializa pode “garantir reembolso para emergência clínica veterinária de até R$ 10 mil e reembolso cirúrgico de até R$ 30 mil”, somados à cobertura de vida (a principal). Há também disponíveis no mercado coberturas extras contra furto do animal, perda de função esportiva e necrópsia.
Geralmente, o seguro é contratado pelo proprietário do cavalo, que pode ser o próprio cavaleiro, treinador ou um investidor, mas há casos nos quais confederações esportivas ou clubes também podem participar na aquisição da proteção, conta Toledo. “Especialmente se forem responsáveis por organizar a logística e o bem-estar dos animais durante as competições”, pontua o executivo da Alper Re.
A equipe de hipismo brasileira, formada pelos cavaleiros Rodrigo Pessoa (ouro em Atenas em 2004), com Major Tom; Yuri Mansur, com Miss Blue; além de Barcha com Primavera, já encerrou sua participação em Paris. Contudo, os interessados em acompanhar a prova olímpica com equinos pode ficar de olho no pentatlo moderno. A modalidade é composta por quatro eventos combinando cinco esportes:
- Equitação;
- Esgrima;
- Natação;
- Corrida;
- Tiro.
As provas do pentatlo moderno nas Olimpíadas de Paris 2024 começam nesta quinta-feira (8), às 6h da manhã no horário de Brasília, e vão até domingo (11), dia da final do individual feminino.