Notícias | 25 de janeiro de 2008 | Fonte: Valor Econômico

Coface dá rating elevado ao Brasil

O Brasil já atingiu o “grau de investimento” quando se trata da classificação de risco de crédito feita pela Coface, seguradora francesa controlada pelo grupo Natixis. Diferentemente das tradicionais agências de rating, que dão notas ao risco de crédito somente para uso de terceiros, a Coface define sua classificação com base no risco que ela mesmo corre no seguro oferecido a cada uma das empresas em cada país. Quanto mais elevado o rating de um país ou de uma empresa, menor o custo do seguro cobrado pela Coface.

“Nós só damos rating para os créditos que conhecemos e aceitamos tomar”, disse Jérôme Cazes, executivo-chefe (CEO) da Coface. Segundo Fernando Blanco, presidente da Coface no Brasil, a empresa tem US$ 16 bilhões em risco-Brasil hoje.

Foi desde meados do ano passado que a Coface subiu o rating do Brasil para “A4”, o primeiro degrau do seu “grau de investimento”. Na escala da seguradora, “D” é o rating mais baixo, dado aos países nos quais o ambiente de negócios é difícil e a instabilidade política ou econômica elevada o risco de inadimplência das empresas. A nota “C” vai para países ainda muito instáveis – era a nota do Brasil em 2002, às vésperas da eleição de Lula, e é hoje a nota da Argentina. O “B” é dado para países com um nível considerável de incertezas. Países “grau de investimento”, com baixa probabilidade de moratória, recebem a nota de crédito “A”.

O mais baixo risco na escala da Coface é “A1”, nível do qual os Estados Unidos foram rebaixados para “A2”, por causa da crise de inadimplência no mercado de hipotecas. Logo depois na escala vem o “A3” e, por fim, o “A4”, que o Brasil acaba de ganhar. “Os países do grupo A são considerados de baixo risco, o que seria equivalente ao grau de investimento, ainda que a Coface não faça esse tipo de comparação explícita por rigor conceitual”, revela Fernando Blanco.

A crise americana não vai provocar alterações nesse novo rating do Brasil, diz analista Olivier Oechslin, especializado em mercados emergentes da Coface. Para ele, “o Brasil é um dos países menos afetados pela crise”. O destino diversificado das exportações brasileiras, a redução no déficit em conta corrente e da dívida externa e o crescimento econômico cada vez mais ditado pelo ritmo do mercado interno de consumo ajudam o Brasil a resistir mais às intempéries externas, avalia. Ele não nega que o crescimento econômico do país será afetado e deverá se reduzir. Mas, deve ficar em 4,8% em 2008, pouco baixo dos 5,2% de 2007, diz.

Mesmo a queda da bolsa não deverá impactar de forma determinante a capacidade de pagamento das empresas brasileiras, avalia o economista-chefe da Coface, Yves Zlotowski. “A maioria das empresas brasileiras usa bancos ou caixa próprio para se financiar e está hoje em boas condições de liquidez.”

Segundo Oechslin, são levados em conta no rating de um país as experiências passadas de pagamento, e cenário político e econômico e o clima de negócios. São considerados também o ambiente geopolítico, a governabilidade, a vulnerabilidade econômica, a liquidez do país em moeda forte, o seu endividamento externo e a solidez do seu sistema bancário.

Segundo explica Blanco, o rating da Coface avalia mais o risco em uma operação de crédito comercial, entre um banco e uma empresa ou entre uma empresa e seu fornecedor, por exemplo. As agência de rating tradicionais muitas vezes avaliam o risco de um bônus, uma carteira de títulos ou o risco de crédito da empresa como um todo para orientar investimentos. A Coface aplica rating em 154 países, 14 setores e 55 milhões de empresas. Também produz e divulga ratings setoriais. Especializada em risco de crédito, a Coface está no Brasil desde 98. Foi fundada pelo governo francês para estimular as exportações por meio do seguro de crédito à exportação e privatizada em 94. A Coface tem patrimônio líquido de 12 bilhões de euros. As tendências para os ratings dos países foram discutidos ontem, na 12ª Conferência de Risco País da Coface, em La Defence, Paris.

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