Juntamente com a Europa, a América Latina é um dos mercados prioritários da empresa alemã Talanx, controladora da seguradora HDI e da resseguradora Hannover Re. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o CEO do Grupo global, Torsten Leue, revelou que o Brasil representa “de longe, o mais amplo e com maior potencial de crescimento”.
“Com a aquisição das operações da Liberty na América Latina, que incluiu a filial brasileira, somos a seguradora número dois no país no segmento de ramos elementares”, disse o executivo. “Nós vamos manter o foco nas duas regiões [Europa e América Latina] e acredito que manter o foco [é uma estratégia que] sempre se paga”, acrescentou ele.
A aquisição das operações da Liberty na América Latina custou cerca de R$ 7 bilhões (€ 1,3 bilhão) e foi concluída em novembro do ano passado. A HDI já havia comprado os segmentos de Ramos Elementares e de Vida da Sompo um ano antes, em 2022.
Os Ramos Elementares, conhecidos no exterior como “property and casualty” (P&C), incluem seguros como residencial, auto, empresarial, habitacional e responsabilidade civil. De acordo com o Valor econômico, essa “nova” HDI no Brasil, que resultou nas incorporações feitas, ajudou a consolidar uma divisão de 50% a 50% em termos de participação nos resultados do grupo dos mercados latino-americanos e europeu.
Segundo o CEO do grupo Talanx, o Brasil sozinho representa um terço das operações na região. “O Brasil é de longe o mais importante país na América Latina para nós”, afirmou ele.
O grupo segurador global registrou receitas de aproximadamente R$ 235,4 bilhões (€ 43,2 bilhões) em 2023. O lucro líquido alcançou R$ 8,62 bilhões, o que representa € 1,581 bilhão.
A Talanx atua em mais de 175 países por meio de nove companhias, das quais as principais são a seguradora HDI, a resseguradora Hannover Re e a gestora de recursos Ampega.
No mercado brasileiro, a HDI vai mudar a marca Liberty, que não poderá ser utilizada após a aquisição. Segundo o CEO da seguradora no país, Eduardo Dal Ri, “temos de deixar de usar a marca Liberty em novembro, mas a previsão é fazer o lançamento da nova marca ainda no primeiro semestre”.
Apesar de já ter feito duas grandes aquisições na região, o CEO da Talanx afirma que o grupo sempre mantém um olho em boas oportunidades. “A América Latina é um mercado-chave para nós. Se houver boas oportunidades de fusões e aquisições na região, nós, com certeza, vamos olhar. Nós estamos no lado comprador na América Latina e no Brasil. Nós ambicionamos ser o número um na região e permanecer focado nesses mercados. Mas não podemos esquecer que tem de fazer sentido [uma aquisição], ser disciplinado, focado e não apenas querer comprar.”
Leue explica que faz parte da estratégia do grupo manter a autonomia entre as filiais. “Nós mantemos nosso foco em uma abordagem descentralizada de gestão das companhias. E assim temos crescido três vezes mais do que nossos pares no mercado.”
O chefe global enfatiza que a Talanx cultiva uma “cultura da confiança” no grupo. “Nós acreditamos que, quando se está no mercado de varejo no Brasil, por exemplo, e se temos uma força de trabalho muito qualificada no país, não precisamos de especialista de fora para interferir nos negócios. Nós confiamos na organização local.”
O CEO da Talanx acrescenta que essa cultura de descentralização e confiança traz frutos também em termos de inovação, onde ideias trazidas de uma filial podem ser implementadas em outros países. “Temos diversos tipos de experiências distintas dentro do grupo em todo o mundo. E estimulamos o intraempreendedorismo. Nós chamamos [esse ambiente] de ‘piscina cultural’, onde recebemos colaboração de todos os lugares [onde o grupo atua].”
O executivo explica ainda que a companhia mantém redes de conexão entre os colaboradores. “É como nas redes sociais, nas quais criamos interações baseadas nos temas, onde as pessoas trocam informações. A cultura da companhia se baseia em estar pronta para compartilhar e apoiar [a implementação] em qualquer lugar que se queria usar [determinada solução]. E assegurar que o conhecimento seja transferido e customizado conforme as necessidades locais.”
De acordo com Leue, o grupo tem usado uma base intensiva de dados e ferramentas de análise para aprender com os mercados específicos e avaliar se há soluções que podem ser replicadas. “Temos uma operação na Polônia, onde a marca [subsidiária] Warta, é muito forte e com experiência em customização no mercado de varejo [de seguros]. E então sempre avaliamos, o que podemos aprender? Como podemos adaptar [um sucesso] a, por exemplo, o mercado no Brasil? É claro que não usamos esse conhecimento para fazer precificação aqui no país, mas podemos [implementar] técnicas como aprendizado de máquina e também aplicações de inteligência artificial generativa [GenIA, na sigla em inglês] que pudemos testar na Polônia. Além disso, nosso pessoal na Europa vai olhar o que o time brasileiro tem feito usando essas tecnologias, nas quais estamos investindo muito atualmente, no sentido de aprender mais sobre avaliação e precificação de riscos.”
Na questão de ferramentas tecnológicas, a Talanx tem utilizado uma abordagem de customização das soluções de acordo com o mercado. “Não é um tipo de tecnologia como o Google, onde, em qualquer lugar do mundo é basicamente a mesma, mas nós falamos de um ambiente [tecnológico] muito customizado localmente”, disse Leue ao jornal Valor Econômico.