Notícias | 27 de agosto de 2004 | Fonte: Valor Econômico

Cada vez mais americanos ficam sem plano de saúde

A alta dos custos de serviços de saúde nos EUA está resultando em aumento da parcela da população que não tem cobertura nem dos planos públicos nem dos privados. Segundo dados divulgados ontem pelo Censo dos EUA, no ano passado o número de pessoas com cobertura de saúde aumentou 1 milhão, para 243,3 milhões de pessoas. Mas o percentual dos sem-seguro subiu de 15,2% para 15,6% – totalizando 45 milhões de pessoas. O Censo também divulgou uma pequena elevação da taxa de pobreza no país, de 12,1% para 12,5%.

A maior parte da redução no acesso a serviços de saúde foi causada por empresas que deixaram de oferecer planos aos empregados por causa dos custos, principalmente na região sul do país e em grandes cidades.

O total de indivíduos com cobertura fornecida pelo empregador caiu de 61,3%, em 2002, para 60,4%.

Para ter acesso ao sistema público, é necessário ter uma renda muito baixa, idade avançada ou estar desempregado, e muitos funcionários de empresas que não estão mais pagando o seguro não se encaixam nessas definições.

Entre os grupos étnicos, os hispânicos são os que têm menor acesso ao sistema de saúde: 32,7% dessa população não tem nenhuma cobertura, ante 11% dos brancos não hispânicos e 19% dos negros. A irregularidade da situação de parte dos hispânicos no país pode explicar a discrepância, já que o nível de renda desse grupo é superior à da média da população negra, por exemplo.

Nos EUA, a predominância é de cobertura por seguros de saúde privados: 68,6% da população são atendidos por grupos privados e só 26,6% pelo sistema público.

Recentes pesquisas com pequenas empresas mostraram que os custos dos planos para grupos pequenos de funcionários, especialmente em empresas que concentram muitas mulheres ou funcionários mais velhos, vêm crescendo em ritmo maior que o da inflação.

Segundo uma pesquisa da Kaiser Family Foundation, os prêmios das seguradoras para empresas com menos de 200 funcionários subiram 15,5% no ano passado, acima dos aumentos de 13,2% cobrados das empresas maiores. Cerca de 95% das empresas com 50 a 200 funcionários ofereciam planos a seus funcionários, enquanto apenas 76% das companhias com 10 a 24 empregados faziam o mesmo.

O custo de serviços médicos é uma das maiores preocupações dos pequenos empresários, e o governo republicano propõe criar um novo sistema, com contas pessoais para serviços de saúde, que seriam beneficiadas por isenções de impostos. Os democratas também planejam conceder isenções fiscais para empresas que oferecerem os planos.

O preço de seguro-saúde varia muito. Mas uma pequena empresa paga entre US$ 120 a US$ 150 mensais por empregado por uma cobertura básica. Empresas de maior porte negociam preços menores. Comprar um seguro saúde individual é sempre mais caro. Para pessoas mais velhas ou com histórico de doenças graves, a conta pode superar os US$ 500 mensais. Um plano básico para um adulto saudável não sai por menos de US$ 200 mensais.

Os Estados da fronteira com o México, como Texas e Novo México, têm as maiores taxas de pessoas fora dos sistemas de saúde oficiais — 25% no Texas e cerca de 20% no Novo México. Esses são os Estados que concentram maior volume de população imigrante ilegal.

A cobertura de saúde está bastante ligada ao nível de renda, e os grupos mais pobres têm as maiores taxas de não-cobertura.

Segundo o Censo, a taxa de pobreza chegou no ano passado a 12,5% da população, ou 35,9 milhões de pessoas, 1,3 milhão a mais que no ano anterior. A pobreza nos EUA é definida como renda abaixo de US$ 9,57 mil anuais (R$ 28,2 mil) para uma pessoa que vive sozinha ou US$ 18,6 mil anuais (R$ 55 mil) para uma família com quatro pessoas.

Esses níveis de renda fazem com que o gasto da família com alimentação consuma 30% do total da renda. É interessante notar que a renda total da população ficou estável entre 2002 e 2003, em US$ 43,3 mil anuais. Também não houve mudança significativa no índice de desigualdade (índice Gini), que mede a concentração de renda, que ficou em 0,464 – houve pequena redução da renda nos 20% mais pobres da população, mas não o suficiente para mudar o índice. Do total de famílias, as 20% mais ricas (correspondentes a 25% da população) ganharam 49,5% de toda renda do país, enquanto os 20% mais pobres (ou 14% da população) ficaram com 3,4% da renda total.

A taxa de pobreza também é concentrada em minorias: 24,3% da população negra é pobre, ante apenas 8,2% de brancos não hispânicos. Os hispânicos têm 22,5% da população vivendo abaixo da linha de pobreza, e a minoria étnica com melhor situação financeira é o de asiáticos – 11,2% abaixo da linha de pobreza.

A divulgação dos dados colocou mais combustível na campanha política. O candidato democrata, John Kerry, ressaltou que “um milhão de americanos perderam o seguro-saúde no último ano, elevando para 5 milhões o número de pessoas que passaram a essa situação nos últimos cinco anos”. O candidato propôs debates mensais com o presidente durante um comício em Minnesota.

Alguns democratas acusaram o governo de divulgar antecipadamente os dados do Censo para evitar sua publicação numa data muito próxima às eleições.
Tatiana Bautzer De Washington

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