Notícias | 17 de setembro de 2009 | Fonte: Jornal do Commercio RJ | Empresas | RJ

Bradesco nega compra da SulAmérica – Luiz Carlos Trabuco Cappi

A decisão do governo de taxar os rendimentos em caderneta de poupança que excederem os R$ 50 mil foi acertada, mas deve ser encarada como um paliativo. É uma metodologia para esse movimento de transição, mas, provavelmente no futuro, esse modelo terá de ser repensado, afirmou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em entrevista concedida durante visita ao Correio Braziliense. O executivo comentou que o País deverá crescer ao redor de 6% no próximo ano, elogiou o mercado interno e antecipou estudo da área econômica do banco que projeta que os investimentos no setor produtivo deverão girar em torno de R$ 1,3 trilhão até 2012. Leia, a seguir, os principais pontos da entrevista.

Brasil receberá R$ 1,3 tri

Crise econômica

A chamada crise econômica teve dois momentos. Curiosamente o momento mais agudo dela fez um ano ontem, quando se passou a ter quebras de bancos de investimentos, como o Lehman Brothers, e aí o mundo entrou em um grau de expectativa muito grande. Sentimos que vínhamos crescendo a taxas muito consistentes até setembro de 2008, e a partir daí houve um rearranjo do cenário. Com esses olhos em 2009, a nossa visão do Bradesco, da área econômica, é uma visão bastante otimista.

Mercado interno

A crise pegou o Brasil em condições de sustentabilidade. Nós, praticamente, estávamos com a dívida externa zerada, com um caixa de reservas externas acima de US$ 200 bilhões, e o mercado interno deu condições de o governo exercer uma política anticíclica que foi muito eficiente. O governo flexibilizou os recolhimentos de depósito compulsório. Ele criou instrumentos financeiros que deram liquidez a pequenos e médios bancos. Ele acionou o Fundo Garantidor de Crédito, o FGC, que deu o suporte e fez a intermediação da venda de carteiras entre instituições financeiras. Então nós praticamente não sentimos a crise (da forma) como a Europa e os Estados Unidos vêm sentindo.

Fragilidades da economia

O que nós tivemos, e isso já ficou no passado, foram alguns desajustes setoriais. Aquelas empresas que possuíam uma cadeia produtiva cujo círculo final acabava no mercado externo, principalmente as commodities (produtos com cotação internacional) agrícolas e metálicas, passaram por uma fase de ajuste de preço. Se compararmos o níquel, que tinha um valor histórico médio de US$ 17 mil a tonelada, esse número quase que bateu a US$ 40 mil, voltou a US$ 9 mil e a hoje está em US$ 18 mil. A gente percebe que o mercado consumidor de commodities metálicas retomou.

Crescimento econômico

Evidente que nós passamos um semestre sinalizando até um decréscimo do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas). As nossas projeções sempre estavam olhando o PIB deste ano ao redor de zero, e agora estamos tendo um segundo semestre que deve ser um semestre muito favorável. Anualizado hoje, o Brasil está crescendo a taxas superiores a 7%. Então é fácil imaginar que o ano que vem teremos um crescimento ao redor de 6%. Então aquilo que já é até batido é verdadeiro. A crise hoje é olhada pelo retrovisor. Nós fomos o último país a sentir a crise. No dinamismo que outros países chegaram a sentir, nós não sentimos. E fomos o primeiro a sair dela.

Poupança

A visão (da taxação dos recursos que excederem R$ 50 mil na poupança) é positiva. O governo escolheu uma metodologia para esse movimento de transição. Não poderíamos deixar como está, porque, se deixasse, o governo não seria pró-ativo. O governo foi pró-ativo ao criar uma tributação e fazer uma travessia, mas, provavelmente no futuro, esse modelo terá de ser repensado. Esse é um modelo de transição, porque o Brasil está dando certo, o Brasil vai dar certo. O Brasil está no cenário internacional. E é muito previsível, em qualquer horizonte em cinco anos que a taxa Selic (taxa básica de juros) tenha um viés de quedas muito acentuadas. Em um universo de dez anos, a Selic vai estar nivelada com taxas de juros internacionais. Aí, as soluções deverão ser outras.

Investimentos

Nossos economistas fizeram um estudo que mostra que, até 2012, se está esperando um investimento superior a R$ 1,3 trilhão no Brasil. No setor de infraestrutura urbana, e o meio circulante à habitação, a estimativa é de R$ 535 bilhões. O programa de investimentos no petróleo é de R$ 269 bilhões até 2012. Energia entra com R$ 141 bilhões e telecomunicações, com R$ 77 bilhões. Para um país que vai ter a capacidade de investir mais de R$ 1,3 trilhão, isso significa que a taxa de investimentos da economia vai se alterar, o que mostra que está aumentando a taxa de investimentos do setor privado.

Desemprego

Houve uma mudança de patamar, mas nada muito significativo, na faixa de 7% e 8%. Agora em função de quê? Em função de que as empresas passaram a ter uma capacidade ociosa, que provocou um menor incremento do crédito no primeiro semestre. Porque se a empresa está com capacidade ociosa, o primeiro objetivo do empresário é vencer essa capacidade que ele tem para poder voltar a produzir.

Baixa renda

Nós tivemos um fenômeno que foi fundamental para podermos passar bem pela crise, que foi incorporação das 20 milhões de pessoas que migraram da classe E em direção às classes C e D. O mercado interno passou a ser um ativo, quase que uma segurança para esse movimento de transição no Brasil. Nesse cenário, o Bradesco está posicionado, e até é o mote da nossa campanha, chamada presença. Nós continuamos a investir. Esse ano nós já investimos R$ 4 bilhões. Investimos R$ 1,4 bilhão na aquisição do Banco IBI, que foi toda a operação de serviço financeiro da rede C&A do Brasil (operação autorizada pelo Banco Central na última sexta-feira). Investimos R$ 1,4 bilhão em sistemas e ampliação da infraestrutura. Então hoje estamos atendendo a 93% dos municípios brasileiros. Estamos presentes em mais de cinco mil municípios e talvez essa presença nacional seja o melhor atestado que possa refletir um pouco do espírito que o Bradesco olha para frente.

Capilaridade

A previsão para 2009 é continuar aumentando a rede. Nós temos uma logística de distribuição que é constituída das agências bancárias, das agências bancárias dentro de empresas, dos bancos correspondentes e dos postos avançados, que são braços de extensão das agências em locais que, muitas vezes, nem Correios tem. Estamos presentes em 1.550 locais, onde temos um funcionário, que é o gerente, ele é amparado por uma plataforma eletrônica, ele dá o serviço de bancarização ou de inclusão bancária.

Inclusão bancária

Acreditamos que estamos conseguindo incorporar o desafio, que no Brasil é formidável, da inclusão bancária. O Brasil, nos próximos 20 anos, vai incorporar 100 milhões de novos consumidores e nós teremos que incluir essas pessoas. São pessoas que já nasceram. Dos 197 milhões de população brasileira, apenas 90 milhões são bancarizados. Então, a bancarização é um processo onde há até um ganho de cidadania.

SulAmérica Seguros

Essa conversa (proposta de compra da SulAmérica Seguros pelo Bradesco) nunca existiu. Temos um modelo que é um dos modelos mais bem sucedidos no mundo de integração entre bancos e seguros. Temos uma frase, que internamente virou quase que um mantra, que o Bradesco é uma moeda, uma moeda que tem duas faces. Uma face são os serviços financeiros, que constituem todos os serviços bancários, de crédito e de financiamento. Uma outra face é o mundo da seguridade, que são os três elos básicos, que são os seguros, a previdência e a captalização. Temos um modelo que se consolidou desde 1984, quando o Bradesco adquiriu 100% da antiga Atlântica Boa Vista. De 1984 até hoje, o Bradesco construiu o maior grupo segurador da América Latina. Temos ao redor de 24% de todos os prêmios de seguros no Brasil. No mês passado, faturamos R$ 2,2 bilhões em prêmios. Temos um tamanho, do ponto de vista de prioridade do negócio, que a gente nem sabe como essa questão foi colocada. Existiu, sim, a possibilidade de nós termos um negócio com a Porto Seguro, mas no nosso modelo de negócio, nós queremos estar nesse negócio. Nós não queremos ter outra configuração de estar fora do negócio. As conversas com a Porto Seguro existiram e foram públicas, mas as conversas com a SulAmérica não existiram.

Habitação

Um dos desafios que o governo está enfrentando é o programa de habitação popular. O País tem um déficit habitacional de oito milhões de residências e o crédito imobiliário não passa de 3,5% do PIB. É muito razoável que esse crédito imobiliário chegue a 10%. Ele chegando a esse percentual, nós conseguiremos dar domicílio a milhões de pessoas que nem endereço têm. São pessoas que, sem endereço, têm uma relação difícil com os bancos e com a sociedade. A habitação é o primeiro gesto de cidadania. Então, nesses próximos 20 anos, as políticas públicas vão dar condições de educação, saúde, saneamento e habitação para que nós tenhamos um novo processo de inclusão.

3 comentários

  1. SIGA BEM CAMINHONEIRO CORRETORA DE SEGUROS LTDA.

    29 de setembro de 2009 às 10:56

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  2. VIRTUAL VEICULOS

    24 de setembro de 2009 às 14:04

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  3. VIRTUAL VEICULOS

    17 de setembro de 2009 às 14:06

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