Painel realizado em Brasília reforça urgência de uma nova cultura previdenciária em meio ao envelhecimento acelerado da população
Em um país onde a população envelhece rapidamente e vive cada vez mais, a previdência complementar surge como uma resposta crucial aos desafios do futuro financeiro dos brasileiros. Esse foi o tom do painel “A importância do engajamento institucional e da visão de longo prazo nos planos de caráter previdenciário para o futuro dos brasileiros”, realizado na última segunda-feira (12), durante o evento “Seguros para Todos: educação financeira, vulnerabilidade socioeconômica e seguros inclusivos”, no auditório do Ministério da Educação, em Brasília. A atividade integrou a programação da 12ª Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF).
O debate reuniu especialistas e representantes do governo para discutir o impacto do aumento da longevidade, da informalidade e do imediatismo social no sistema previdenciário. O alerta veio logo no início, com Narlon Gutierre Nogueira, do Ministério da Previdência Social: “Estamos vivendo um processo acelerado de envelhecimento populacional, com menos nascimentos, mais informalidade e uma força de trabalho encolhendo.”
Para Nogueira, é preciso repensar o tradicional ciclo de vida, estudar, trabalhar, aposentar e adotar uma nova lógica de múltiplos ciclos de estudo e trabalho. Isso exige investimento contínuo não apenas em dinheiro, mas também em saúde, produtividade e qualificação ao longo da vida.
“As pessoas dizem que não têm dinheiro para poupar, mas gastaram R$ 240 bilhões em apostas”
A crítica ao comportamento imediato da sociedade brasileira foi feita por Ângela Assis, presidente da Brasilprev e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Ela destacou a contradição entre o discurso e a prática de muitos brasileiros: “As pessoas dizem que não têm dinheiro para poupar, mas em 2024 gastaram R$ 240 bilhões em apostas nas bets, mais que o dobro do que gastamos com seguros de vida e automóvel.”
Segundo pesquisa da FenaPrevi, embora 65% dos brasileiros reconheçam a importância de se preparar financeiramente para o futuro, a maioria afirma não conseguir poupar. “O imediatismo fala mais alto que o planejamento. Mas se alguém gasta R$ 3 mil por ano em apostas, poderia aplicar R$ 250 por mês em um plano de previdência e garantir um bom complemento de renda no futuro”, completou Ângela.
Previdência aberta como alternativa para trabalhadores informais
Paulo Miller, analista técnico da Superintendência de Seguros Privados (Susep), reforçou que a previdência complementar precisa alcançar os públicos que a previdência pública já não consegue atender. “Cada vez mais, dependeremos menos da previdência pública. Precisamos de mecanismos alternativos. E a previdência complementar, especialmente a aberta, pode atender trabalhadores informais e autônomos com planos flexíveis.”
Ele também apontou a falta de educação previdenciária como um dos principais entraves: “Falta educação previdenciária e uma comunicação mais simples. Precisamos começar essa conversa já na educação básica. Hoje, as pessoas não entendem nem os conceitos mais básicos de um plano de previdência.”
Miller citou ainda a criação de um laboratório em parceria com o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), voltado ao uso de inteligência artificial para inovação em seguros e previdência.
Planos mais simples e flexíveis para um novo perfil de trabalhador
Representando a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Alcinei Rodrigues falou sobre a necessidade de adaptar o sistema aos novos tempos. Os planos fechados de previdência, que hoje acumulam cerca de R$ 1,3 trilhão em reservas e pagam R$ 105 bilhões por ano a cerca de 8 milhões de pessoas, enfrentam o desafio da rotatividade no mercado de trabalho. “Com as pessoas trocando de emprego com mais frequência, é mais difícil mantê-las no sistema. O desafio é garantir que esses trabalhadores não tenham uma queda de renda na aposentadoria.”
Rodrigues defendeu uma reestruturação do setor, com modelos mais simples, flexíveis e que incentivem a permanência no sistema ao longo da vida.
Inclusão e incentivos para empregadores
Além da simplificação e da educação, o apoio institucional também é essencial, segundo Ângela Assis: “A previdência complementar é ainda mais importante para quem não é rico. Com R$ 50 por mês, já é possível começar. Mas precisamos tornar isso mais vantajoso também para os empregadores.”
O painel encerrou-se com uma mensagem clara e urgente: viver mais é uma conquista, mas exige preparo. O Brasil precisa abandonar o pensamento de país jovem e adotar uma nova cultura de planejamento financeiro, com visão de longo prazo e acesso inclusivo à previdência complementar.