Notícias | 22 de julho de 2004 | Fonte: A Tribuna de Santos

Atendimento pelo SUS aumenta 20,3%

EVANDRO SIQUEIRA

O êxodo de usuários de planos privados para o sistema público de saúde fez crescer em 20,3% o número de pacientes atendidos na rede municipal, nos últimos quatro anos. Por causa da demanda, a Prefeitura gastou, no ano passado, R$ 23,5 milhões a mais que em 2000 – um aumento de despesas da ordem de 24,8%.

Depois de ver o valor de seu plano quase que dobrar de um mês para outro, a auxiliar de escritório Ivonete Santana, de 37 anos, não teve dúvidas: rescindiu o contrato e engrossou o bloco dos sem-plano. Hoje, toda vez que adoece, ela procura socorro no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A qualidade de atendimento não é a mesma, mas não tenho condições de pagar por um plano particular“, justifica.

Como Ivonete, milhares de pessoas na região também migraram para a rede pública. Só em Santos, conforme cálculos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o percentual da população que depende exclusivamente do SUS para se tratar praticamente dobrou a partir da metade dos anos 90.

“Em 1995, estimava-se que 43% dos habitantes não tinham planos de saúde. Em 2003, o índice chegou a 76%. E a expectativa é de que até o final do ano este número já esteja perto de 81%“, prevê o secretário de Saúde, Tomas Soderberg, com base em dados fornecidos por operadoras que atuam na Cidade.

Os reflexos da evasão aparecem nas policlínicas, prontos-socorros, hospitais e, principalmente, nos ambulatórios de atendimento especializado.

No ano passado, as 60 unidades municipais de saúde realizaram quase um milhão de consultas e procedimentos clínicos a mais que em 2000. O número anual de atendimentos saltou de 4,87 milhões para 5,86 milhões no período.

Consequentemente, os gastos decolaram de R$ 94,4 milhões para R$ 117,9 milhões. A previsão de despesas da SMS para este ano é ainda maior: R$ 137,1 milhões – cerca de 45% a mais que em 2000.

Gargalos

Nos dois ambulatórios de especialidades da Cidade (Centro e Zona Noroeste), no ano passado, foram realizados 93.487 atendimentos a mais que em 2000 – alta de 25%.
Segundo a SMS, o setor de tratamento especializado é o que mais sofre com o esvaziamento dos planos particulares. Os principais gargalos estão nas áreas de otorrinolaringologia, cardiologia e ortopedia.

Na maioria das policlínicas, a demanda de atendimento também aumentou, especialmente em bairros onde predominam famílias de classe média, que compõem a maior parte dos usuários de planos de saúde.

Na Policlínica do Gonzaga, a procura quase triplicou nos últimos quatro anos – de 64.178 atendimentos, em 2000, passou para 187.596, no ano passado.

O secretário de Saúde, no entanto, afirma que, no caso do atendimento básico, o crescimento não se deve apenas ao êxodo dos planos de saúde.

“Quando a rede pública passa a oferecer novos exames, por exemplo, uma demanda que não existia passa a existir e eleva a média geral“, sustenta.

Empresariais

Segundo Soderberg, a migração em massa para o SUS só não causa efeitos ainda mais drásticos por causa de empresas de grande porte, que oferecem planos de saúde aos funcionários a preços bem abaixo da média do mercado.

Só na Unimed Santos, os chamados planos empresariais (ou coletivos) respondem por quase 90% do total de beneficiários. “Se a operadora fosse depender apenas dos planos individuais, seria difícil sobreviver“, admite o presidente da empresa, Nestor Biscardi.
Ao longo dos últimos cinco anos, ele viu o número de usuários de planos cair de 180 mil para pouco mais de 120 mil na Baixada Santista. “A alegação é quase sempre financeira. Qualquer aumento é motivo para desistir do plano“, diz Biscardi.

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