O setor de seguros apresentou um crescimento de 4,10% na arrecadação de prêmios até fevereiro. O seguro de vida atingiu o montante de R$ 5,84 bilhões no ano, um avanço real de 6,14% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Apesar disso, ainda há motivos que desafiam a cultura do seguro no país. As informações são do Valor Investe.
De acordo com o relatório final do Grupo de Trabalho (GT) “Política Nacional de Acesso ao Seguro”, as principais barreiras para o acesso aos seguros são falta de educação financeira, produtos inadequados, alto custo dos produtos, desconfiança e burocracia.
“Grande parte da população desconhece os benefícios do seguro e não compreende os contratos, que são muitas vezes técnicos e complexos. Não há campanhas eficazes para desmistificar o seguro como um produto acessível e útil para populações vulneráveis”, cita o documento. “A falta de educação financeira gera a falta de empoderamento do consumidor e dificulta o processo de escolha consciente, deixando o cidadão ou a empresa com maior probabilidade de sujeição a abusos”.
O documento traz um compilado de todas as discussões realizadas e das conclusões alcançadas após mais de dois meses de reuniões, que contou com mais de 35 participantes, incluindo representantes de seguradoras, segurados, corretores de seguro, resseguradores, insurtechs, especialistas e autorias públicas, como o Banco Central. O relatório ainda cita que 20 milhões de microempreendedores operam sem acesso a orientação ou crédito. Quando há algum nível de recursos, muitos empreendedores priorizam questões imediatas, como crédito e pagamento de dívidas, em detrimento de proteções de longo prazo.
Quanto a isso, sendo um dos pontos defendidos nos debates, a criação de produtos que atendam às necessidades específicas das MPEs pode contribuir para aumentar a formalização e preparar microempreendedores para gerir crédito e seguros. A ausência de coberturas personalizadas para realidades regionais e segmentos vulneráveis também foram citadas.
“O Brasil tem um potencial enorme de crescimento para o mercado de seguros, mas, para alcançar o objetivo precisamos traçar as estratégias corretas, sempre levando em conta que o constante diálogo com todos aqueles que compõem o mercado de seguros em sentido amplo é essencial para que seja dada concretude a qualquer estratégia”, concluiu Júlia Normande Lins, diretora de Infraestrutura de Mercado e Supervisão de Conduta da Susep e coordenadora do GT.
As recomendações, agrupadas em oito grandes temas, ajudarão a embasar o aperfeiçoamento regulatório e a construção da Política Nacional de Acesso ao Seguro, a ser criada pela Susep.
Os representantes do setor admitem que experiências ruins, como negativas injustificadas de cobertura e práticas abusivas, geram desconfiança entre os consumidores. Falta de transparência no atendimento e falta de clareza das cláusulas contratuais são gatilhos que aumentam a insatisfação e contribuem para uma baixa percepção de valor no produto securitário por parte dos consumidores.
Outro desafio é melhorar a experiência do consumidor, especialmente em segmentos desassistidos. Nesse caso, o uso de ferramentas digitais para simplificar o acesso a informações e facilitar a mediação de conflitos foi sugerida.
Para isso, o uso de ferramentas digitais para simplificar o acesso a informações e facilitar a mediação de conflitos foi sugerida. A melhora da experiência do cliente na hora da contratação também é citada em um outro estudo, produzido pela consultoria McKinsey. Conforme o “Relatório Global de Seguros 2025”, os clientes querem uma experiência de contratação híbrida, em que ele consiga buscar opções de seguros digitalmente, por meio de sites, aplicativos e plataformas, mas com interação humana na hora de tirar dúvidas ou contratar efetivamente o produto.
Os dados mais recentes da Susep, até fevereiro, mostram que, dentre os seguros de danos, um dos destaques foi o seguro compreensivo (conjuga vários ramos ou modalidades numa mesma apólice), com arrecadação de aproximadamente R$ 1,97 bilhão, crescimento real 8,36% na comparação com o primeiro bimestre de 2024. Já os produtos de acumulação (previdência) obtiveram contribuições de R$ 30,50 bilhões no ano até fevereiro, uma redução nominal real de 7,18% na comparação com o mesmo período do ano anterior.