DPVAT - Corretores | 25 de janeiro de 2010 | Fonte: Terra

Viações usam bafômetros para vigiar motoristas

Empresas de ônibus, como a Real, submetem rodoviários a teste ainda na garagem

Rio – As blitzes da Lei Seca que mudaram o comportamento dos motoristas em todo o Brasil chegaram às garagens das empresas de ônibus do Rio. Preocupados com a grande incidência de rodoviários que vêm se apresentando para trabalhar alcoolizados, empresários do setor ligaram o alerta vermelho. E decidiram adotar de vez o aparelho que é o pesadelo dos motoristas que insistem em misturar álcool e direção: o bafômetro.

Na maioria dos casos, os condutores são submetidos ao teste ainda dentro das garagens. A Viação Real Auto Ônibus foi além. Os aparelhos que servem para medir o índice de álcool no organismo estão sendo instalados no painel dos veículos. Monitorados pela câmera de segurança fixada no teto dos ônibus, os motoristas são orientados a soprar não só na saída da garagem, como também nos pontos finais de cada linha. Se o exame acusar o consumo de álcool, o sistema bloqueia a partida do coletivo imediatamente.

“Na mesma hora, a informação é enviada via satélite para o nosso centro de controle que rastreia o veículo. Em seguida enviamos uma equipe para substituir o motorista que não está em condições de dirigir”, explicou o presidente da Real, Cláudio Callak, que já instalou o bafômetro em cinco ônibus e espera, até o fim do ano, equipar 130 carros.

“Não há como negar a existência do problema do alcoolismo no setor. Sendo assim, por que não transferir a preocupação que já existe no transporte individual para o coletivo?”, questionou Callak.

‘Era fácil despistar os fiscais’

Favorável ao uso do bafômetro nos ônibus, o motorista Robson de Castro, 28 anos, que trabalha na Viação Real, foi um dos primeiros a testar o equipamento. E aprovou a novidade. “Quem anda na linha não tem com o que se preocupar”, destacou Robson, que conta com o apoio da companheira de trabalho, Beatriz de Souza Antunes, 31. “Isso só vai aumentar a segurança dos passageiros”, completou Beatriz, que também passou no teste.

O bafômetro nos ônibus também foi aprovado por motoristas que admitem já ter bebido durante o horário de trabalho. “Essa é a única maneira de impedir que quem é viciado não tome nenhuma dose em serviço. Porque o que não falta é artimanha para despistar os fiscais”, afirmou o motorista A., 47 anos.

“Uma delas é a do velho ‘cafezinho batizado’, que na verdade é uma mistura de café com cachaça ou conhaque. Colocada dentro de uma garrafa de café, a bebida não levanta suspeitas”, revelou o rodoviário, que nunca foi punido por beber durante o expediente.

Quem não teve a mesma ‘sorte’ reconhece que fugir do bafômetro é uma missão impossível. “Como trabalho à noite, já estava acostumado a dar carona em troca de uma dose de bebida quente ou latinha de cerveja. Quando começaram a usar o bafômetro, fui flagrado em poucos dias. Levei um ‘gancho’ de um mês e só não fui demitido porque o patrão gosta muito de mim”, contou o motorista de ônibus C., 39, que afirma já ter se envolvido num acidente por ter bebido no horário de trabalho.

“Tinha chovido e a pista estava escorregadia. Num momento de distração, não consegui frear e acabei avançando um sinal e batendo num carro. Quando vi que a motorista ficou muito machucada, eu me desesperei, porque sabia que, se não tivesse bebido, aquele acidente não teria acontecido”, garantiu.
Como o álcool altera a percepção

Empresas criaram até o ‘Alcoolemia Zero’

O problema do alcoolismo entre os motoristas de ônibus do Rio não é nenhuma novidade para a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado (Fetranspor). Desde outubro de 2002, a entidade vem trabalhando na recuperação de rodoviários dependentes do álcool através do Programa Alcoolemia Zero (PAZ).

De acordo com o médico Fernando Moreira, que coordena as ações, mais de seis mil rodoviários já foram orientados, através das palestras e seminários organizados pelo programa. “Como consumir álcool é permitido no Brasil, os problemas relacionados ao uso, abuso e dependência dele existem em todos os setores da sociedade, inclusive no de transporte de passageiros”, reconheceu Moreira, que saiu em defesa da utilização de bafômetros pelas empresas.

“Essa iniciativa é mais um reforço importante na prevenção de acidentes de trânsito. Ela evita que motoristas embriagados saiam das garagens e vão para as ruas colocando não só a própria vida como a dos passageiros em perigo”, ressaltou o médico.

Considerado uma doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o alcoolismo é responsável pela maioria dos acidentes de trânsito no mundo. O número de mortes provocadas pelo problema também assusta: cerca de dois milhões por ano, segundo estatísticas da OMS, que estima que cerca de 5% a 10% da população mundial sofram com problemas provocados pelo alcoolismo.

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