Os feridos em acidentes de motocicleta são 85% dos pacientes que passam por cirurgia ortopédica no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). A maioria dos ferimentos em motociclistas ou garupeiros é fratura em braços e pernas, mas há também trauma abdominal e craniencefálico. Nos últimos meses, as cirurgias de ortopedia aumentaram em decorrência dos acidentes de moto.
O problema preocupa, segundo o coordenador da equipe ortopédica do CHS, Semann Camis Neto. “É uma epidemia”, diz ele. Para o médico, falta alerta maior sobre cuidados no trânsito, que poderiam reduzir o número de feridos e mortos. Em julho, 160 das 201 cirurgias do centro ortopédico foram realizadas em acidentados de moto, de acordo com Camis Neto. A proporção é alta, considera. Em relação ao total das cirurgias, às que os pacientes se acidentaram de carro vem diminuindo, observa o médico.
No ano passado, a média de cirurgias ortopédicas por mês era entre 120 e 130. Por conta do aumento, a direção do CHS instalou mais uma sala para as cirurgias, conforme Samis Neto. Agora são três salas. O estoque de material utilizado na correção dos ossos, como pinos, placas e hastes metálicas, também aumentou. Entre junho e julho, no prazo de 23 dias, sete pessoas morreram em Sorocaba devido a acidentes de moto, conforme reportagem publicada no jornal Cruzeiro do Sul. O levantamento do número de mortes nesse tipo de acidente não é completo em Sorocaba. Geralmente não são incluídos os casos em que a pessoa morre depois de ser socorrida no hospital.
Ainda considerando as cirurgias ortopédicas feitas no CHS, as mais comuns em acidentados de moto são de fratura na tíbia (osso da perna abaixo do joelho) e no fêmur (osso da coxa), diz o médico. Muitas vezes a fratura fica exposta, ou seja, o osso perfura a pele, ficando aparente. A “alta energia cinética” (força do impacto) torna as cirurgias mais complexas, porque os ossos partem-se em mais pontos e fragmentam-se, explica Samis Neto. Em casos extremos é necessária a amputação.
A maior velocidade das motos nas ruas e rodovias faz com que os ferimentos sejam de natureza mais grave que há alguns anos. As melhorias na malha viária facilitam o fluxo de veículos e dão oportunidade para abusos no trânsito. Além disso, Samis Neto ressalta a facilidade para compra de motos e a precariedade do transporte público. “É um meio de locomoção rápido e barato, e além de servir para ir e voltar do trabalho é utilizado no lazer”, diz o médico.
Recuperação
O prazo médio para recuperação de fratura simples de tíbia é de 4 a 6 meses, segundo Camis Neto. Em fraturas em que o osso se parte em múltiplos fragmentos a pessoa demora geralmente mais de um ano para voltar às suas atividades normais. Nem todas as recuperações são completas. Dependendo da complexidade do ferimento, permanecem sequelas, como dificuldade em andar ou nos movimentos dos braços.
Os prejuízos com os acidentes de moto são difíceis de se calcular. Além dos gastos hospitalares, em remédios, tratamento e fisioterapia, há perdas por causa do afastamento do trabalho. A inatividade temporária pode transformar-se em aposentadoria precoce. A maioria dos que se machucam em motos é de pessoas jovens e que já trabalham, diz o médico. As mulheres são em número bem menor que os homens.
Para Samis Neto, o crescimento de acidentes com moto não é problema só das autoridades, mas da sociedade por inteira. “Se não existe políticas de educação para a segurança no trânsito, está na hora de iniciativas que alertem e façam pensar sobre isso”, acredita o médico. (Por Marcelo Roma)
Acidentes com moto elevam o número de cirurgias
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